A POPULAÇÃO reassentada em Dotane, posto administrativo de Chivongoene, no distrito de Guijá, na sequência das inundações provocadas pelas intensas chuvas registadas em Janeiro e Fevereiro últimos, praticamente em toda a região sul da província de Gaza, provocando o desalojamento de milhares de famílias, acusa os detentores de terras daquela região de estarem a ameaçar de morte aos novos ocupantes daqueles espaços caso não se retirem do local.
Refira-se que a instalação daquelas famílias surgiu do facto de as mesmas se terem fixado anteriormente em zonas vulneráveis às cheias e inundações, colocando assim as suas vidas em perigo constante em caso de chuvas excessivas.
Trata-se de camponeses que anteriormente viviam em Songuene e a sua reafixação em Dotane, surgiu de acções conjugadas do Governo e parceiros, designadamente a Cruz Vermelha e outras ONG's, que responderam positivamente aos apelos do Executivo no resgate e salvamento de vidas, então ameaçadas pelas cheias de Fevereiro do ano em curso.
Fontes contactadas pela nossa Reportagem, durante uma visita de trabalho efectuada àquele ponto pelo Vice-Ministro da Administração Estatal, José Tsambe, denunciaram a ocorrência de destruições de casas, protagonizada por gente oriunda de diversos pontos do posto administrativo de Chivongoene, sob a alegação de as referidas terras serem dos seus ancestrais.
Ozias Cuinica, reassentado desde Janeiro do ano em curso naquele bairro, disse na ocasião que o conflito surgiu logo após o início do processo de parcelamento de talhões para a construção de casas de algumas pessoas, que se encontravam na altura em situação de emergência.
Segundo o nosso entrevistado, na perspectiva de se prevenir de qualquer tipo de confrontação os novos moradores tiveram que recorrer às autoridades governamentais, alertando-as sobre o perigo que estavam a correr.
“Vivemos todos os dias num verdadeiro clima de ameaça das nossas vidas. Como forma de pressão, algumas pessoas aventam a possibilidade de transformar os locais que nos foram cedidos para servirem de cemitérios familiares. Continuamos a aguardar por uma atitude mais vigorosa por parte do Governo, para que finalmente possamos viver em paz e tranquilidade”, disse Cuinica.
Contactado pela nossa Reportagem, o administrador do Guijá, Zacarias Soto, reconheceu a existência do problema apresentado pelos actuais moradores de Dotane, tendo garantido ter sido já criada uma comissão a nível do Governo distrital para dar prosseguimento às investigações e apuramento de responsabilidades.
Soto garantiu ainda ao nosso Jornal que o processo está sendo conduzido para que definitivamente o espaço de reassentamento se mantenha no mesmo local e que em breve a vida volte à normalidade em Dotane.
Entretanto, o Vice-Ministro da Administração Estatal, José Tsambe, instruiu o Governo de Guijá para que agisse com maior celeridade por forma a se restaurar o clima de paz e harmonia entre todos os habitantes daquela região.
Tsambe deixou expressa, na ocasião, a vontade dos camponeses da região aproveitarem as condições climatéricas favoráveis para a recuperação da produção agrícola, na sequência das enormes perdas ocorridas no início do ano devido às enxurradas.
O bairro de reassentamento de Dotane, dista a 12 quilómetros de Caniçado, sede distrital de Guijá, e acolhe presentemente cerca de 130 famílias, correspondentes a pouco mais de 630 pessoas.
- Virgílio Bambo