A POBREZA na província de Manica está a “emigrar” do campo para as cidades. Esta constatação foi feita sexta-feira última pelos participantes da segunda sessão do Observatório de Desenvolvimento.
No plenário, em que desfilaram vários intervenientes, o Observatório de Desenvolvimento da província de Manica constatou que, grosso modo, esforços têm vindo a ser encetados em vários domínios com vista a melhorar cada vez mais as condições de vida das populações. Porém muito ainda se exige no sentido de se alcançar a plenitude das preocupações das populações.
Os progressos alcançados nos contextos da Educação, Saúde, Obras Públicas, abastecimento de água, saneamento, produção agro-pecuária; na promoção do empreendedorismo e do desenvolvimento rural, são elucidativos dos esforços significativos que têm vindo a ser levados a cabo, embora continuam incipientes face às aspirações e às preocupações da sociedade que ambiciona alcançar outros patamares.
Ficou claro no encontro que o Governo, a sociedade civil e as organizações parceiras complementam-se e, lado a lado, estão a empreender esforços em prol da redução da pobreza, através da produção da riqueza, combate à corrupção e promoção de iniciativas conducentes ao desenvolvimento, facto que resulta nos progressos que têm vindo a ser registados dia após dia.
Porém, segundo foi vincado no encontro, há alguns anos, os índices de pobreza eram mais acentuados e afectavam com maior incidência as zonas rurais, situação que, entretanto, de há algum tempo a esta parte tende a inverter-se, estando o flagelo a inquietar, com maior acuidade, os centros urbanos, onde, conforme foi salientado, se registam poucos incentivos no combate à pobreza e prevalecem graves problemas de desemprego.
Joaquim Oliveira Macuri, representante do Fórum da Sociedade Civil na província de Manica, é um dos vários intervenientes que, em declarações ao nosso Jornal, defendeu que a pobreza está a reduzir no campo estando esta a emigrar para os centros urbanos. Em relação a esse fenómeno, disse serem visíveis actualmente sinais de progresso económico e social no campo, mas sustentou que nas cidades o cenário se afigura algo preocupante.
Na sua acepção, o campo tem disponíveis vários instrumentos de combate à pobreza, entre os quais os “sete milhões”, mas as cidades não possuem ainda recursos para atender as iniciativas deste género, sobretudo da juventude, face ao desemprego que grassa o país, cujo fosso continua ascendente considerando o crescente número de estudantes que procuram postos de trabalho.
Tudo isto, segundo a fonte, acontece numa altura em que o mercado tende a afunilar-se e apresenta poucas hipóteses para responder à demanda. Muitas empresas que absorviam maior número de trabalhadores faliram. Referiu que embora estejam a surgir novas empresas de pequena dimensão, a situação mantém-se e continua notório o desequilíbrio entre o número de desempregados e a disponibilidade de postos de trabalho.
O melhoramento e expansão da rede escolar, sanitária e de fontes de abastecimento de água potável, as iniciativas que têm vindo a ser realizadas no sector agro-pecuário, através do fomento pecuário, de extensão agrária e disseminação das tecnologias de produção e fornecimento de semente melhorada, segundo Joaquim Oliveira Macuri, são algumas das iniciativas consideradas essenciais, porém, ainda exíguas.
Para ele, cresceu significativamente o número de escolas secundárias e surgiram várias instituições do Ensino Superior, no entanto, os graduados destas instituições de ensino médio e superior não têm encontrado formas de desenvolver o propalado empreendedorismo, o qual, segundo sustentou “exige dinheiro. Não há nada que se faça sem dinheiro”.
Disse haver muita gente formada em vários ramos de ciências sociais mas para sectores não prioritários para o desenvolvimento, ou seja, não produtivos. Por exemplo, segundo Joaquim Oliveira, há muita produção de intelectuais dos ramos de Sociologia, Psicologia, Filosofia, História, Antropologia, entre outras áreas do saber. Muitos destes têm diplomas mas não vivem disso e nem trabalham para isso.
Disse que os créditos bancários que deveriam ser alternativa, beneficiam preferencialmente os funcionários do sector público ou os das chamadas grandes empresas, sendo que os trabalhadores afectos a outros sectores, não encontram facilidades para aceder ao empréstimo na base do qual poderiam desenvolver iniciativas empreendedoras. Para além disso, a problemática das garantias e dos juros que não são acessíveis, retrai a possibilidade de acesso ao crédito.
No encontro, o director provincial do Plano e Finanças, Virgulinio Nhate, apresentou um quadro optimista das realizações do governo e apontou que, no global, muito foi feito e continua a ser feito em prol da melhoria das condições de vida populações. Assim, referiu que na província de Manica a pobreza está a recuar embora sem precisar números.
O encontro foi presidido pela governadora de Manica, Ana Comoane. Intervindo na ocasião, aquela governante apelou a todos os segmentos da sociedade na província no sentido de tudo fazerem para espevitar a riqueza, combater a pobreza, a corrupção e todos os obstáculos ao desenvolvimento na província.
- Víctor Machirica