Em Fevereiro último o Governo veio a público anunciar a introdução da cesta básica até ao final do primeiro semestre do mesmo ano. Da forma como o assunto foi apresentado deu a entender tratar-se de um dado adquirido, dum assunto já devidamente estudado e com todos os seus contornos equacionados e encontradas as melhores soluções para o problema.
É que, na oportunidade, o Executivo entendeu que só com a introdução desta bonificação iria suster, junto do cidadão comum, aquele que efectivamente recebe quase nada, o impacto que o aumento dos preços dos combustíveis iria produzir no seu bolso e as dificuldades porque passaria para poder sobreviver e aguentar com os seus.
A novidade ocupou espaços nos jornais, rádios e televisões quer públicas, quer privadas, porquanto se tratava de um assunto que não poderia, de forma alguma, circunscrever-se a determinados órgãos de comunicação social e, por via disso, a determinado estrato social. Também foi anunciada a fasquia dos possíveis e potenciais beneficiários da medida que estava a ser cozinhada e com todos os ingredientes necessários para que o prato tivesse o sabor que pudesse satisfazer a gula de qualquer coitado. Foi dito na ocasião que em todos os municípios existentes no país a hipotética cesta básica iria beneficiar qualquer coisa como 1800 mil pessoas, cujo rendimento mensal não ultrapassasse os 2300,00 meticais, valor posteriormente corrigido para 2500,00 meticais por mês.
Porque muitos ou poucos entendiam qual seria a mecânica que o Executivo iria adoptar para a atribuição deste benefício, várias foram as vozes que se levantaram e questionaram sobretudo quanto dissesse respeito ao processo. Também muitos membros do Executivo desdobraram-se em esclarecimento que, nalguns casos não chegaram a convencer o cidadão comum e atento, mas pelas posições que foram sendo assumidas pelos governantes tudo levava a crer tratar-se dum assunto devidamente discutido e com soluções que na ocasião se mostravam as mais acertadas, portanto, com os índices de confiança a subirem de tom cada vez que um ministro tivesse a oportunidade de se debruçar à sua maneira sobre o propalado programa.
Mesmo os eventuais e potenciais beneficiários da prevista bonificação começaram a esfregar as mãos de contentamento, porquanto já viam parte da sua factura mensal em alimentos a ser reduzida, o que significava que do provável excedente salarial poderiam sonhar em reorientá-lo para outras prioridades, dado que a cesta básica, ao que tudo indicava, vinha dar cobertura às necessidades realmente básicas para o cidadão comum.
Disse-se, na ocasião, que os municípios estariam na vanguarda da implementação do programa, tendo-se inclusivamente lhes sido responsabilizado a tarefa de, dentro do seu espaço territorial, recensear todos os trabalhadores para posteriormente se aferir com precisão quais eram os que efectivamente seriam cobertos pela medida.
Só que, de tanto esfregarem as mãos à espera dos melhores dias, a expectativa virou pesadelo. O Governo já veio a público, uma vez mais, anunciar que não haverá cesta básica nenhuma, que o que se disse na altura não passou de um mal-entendido de alguns sectores, pois ele, em tanto que Executivo, em nenhum momento assumiu a introdução desse bónus, que o que está à volta do assunto é um estudo que tem em vista monitorar o comportamento do mercado, que essas medidas serão accionadas assim que as condições se julgarem pertinentes e oportunas, que as condições económicas e financeiras são estáveis, que o comportamento do mercado do petróleo também está estável, que a crise económica internacional não chegou a beliscar Moçambique (ainda bem que assim foi) portanto, nada justifica, por enquanto, a introdução da cesta básica.
Quer isto dizer que aquelas barrigas já famintas continuarão famintas, porque a quantidade de alimentos que vão receber continuará aquém das necessidades e, se formos mais precisos, vão consumir muito pouco ainda, pois a dinâmica dos preços a nível interno não pára de disparar e a cada dia que passa o poder de compra de qualquer um, menos o dos governantes, vai-se tornando cada vez ruim, o bolso vai cada vez mais anunciando a sua indisponibilidade e incapacidade de continuar a aguentar com os preços que se praticam nas diferentes cidades deste belo Moçambique.
Fui tentando entender que a conversa que o Governo trouxe à baila não passou de um conto para o boi dormir, pois, por aquilo que entendi ou entendo, as sensibilidades diferem em razão dos interesses em jogo e, neste caso, tanto os treinadores como os patrões jogam à sua maneira, em defesa apenas dos seus interesses.
Diz a linguagem popular que o Executivo tem as suas razões para tomar as decisões que julgar pertinentes sobre esta matéria, sabido que é que dos seus componentes poucos sabem quanto deve custar hoje um quilo de arroz ou de farinha, para não falar do açúcar que isso nos dias que correm tornou-se um luxo para a “plebe”. Vistas as coisas neste diapasão nada impede que qualquer um tire as conclusões que julgar as mais viáveis, mas duma coisa estou certo: as barrigas que esperem...
- Felisberto Matusse