Em Machipanda
A linha férrea de Machipanda, que liga o porto da Beira à fronteira com o Zimbabwe (Mutare), numa extensão de 317,7 quilómetros, a qual desempenha (va) um papel primordial no escoamento de mercadorias de e para os países do hinterland, nomeadamente o próprio Zimbabwe, Malawi e Zâmbia, está abandonada e a desolar.
“Por aquela importante via chegaram a ser escoadas, só para citar números mais recentes, perto de um milhão de toneladas em 2002, e 633 mil, em 2004, antes da concessão ao consórcio Ricon/Rites.
Após a concessão, em Dezembro de 2004, no ano seguinte houve um decrescimento no transporte de carga, tendo crescido ligeiramente em 2006, voltando a decrescer drasticamente nos anos seguintes devido à falta de vagões e locomotivas por parte da Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira (CCFB), o que levou a que a mercadoria de e para o Zimbabwe, que tradicionalmente era transportada por comboio, passasse a sê-lo por via rodoviária.
O péssimo estado da linha férrea, de acordo com dados que o “O Planalto” colheu tem estado a originar descarrilamentos frequentes e interrupção do tráfego por muito tempo, segundo uma fonte dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM). Basta referir que desde 2004 até 25 de Fevereiro de 2011 registaram-se 458 descarrilamentos.
As situações supramencionadas (decréscimo de transporte de carga e descarrilamentos) devem-se a uma manifesta má gestão por parte da concessionária, a CCFB. Este facto foi constatado “in loco” pela nossa Reportagem num recente périplo partindo da Beira até Machipanda. Constatamos haver infra-estruturas abandonadas e degradadas, com o capim a tomar conta de tudo, incluindo o trajecto ao longo da via.
Quando a linha foi concessionada à CCFB, o consórcio seleccionou os activos que achou necessários para o seu funcionamento, tendo deixado muitos de fora, de acordo com a fonte dos CFM.
Das infra-estruturas contam-se estações e também oficinas que foram alugadas a agentes económicos, desviando-as dos propósitos para que foram construídas, como são os casos de Gondola, onde funcionava a chamada Reserva de Locomotivas a vapor e abandonadas, e de Machipanda, onde o tecto da Oficina de Reparação de Locomotivas desabou há quatro anos e, segundo soubemos no local, não é prioridade para a CCFB a sua reabilitação.
Aliás, como disse ao “O Planalto” o director executivo do consórcio, “está fora de cogitação a sua reabilitação porque a reparação de equipamento está centralizada na cidade da Beira”.
As imagens que ilustram este texto são por demais elucidativas do grau de degradação e abandono, desde capim nos edifícios abandonados e degradados e na linha férrea, travessas podres a pedirem substituição, até vagões abandonados, entre outros males.
Quem hoje vê aquelas infra-estruturas, que outrora foram orgulho para os trabalhadores ferroviários moçambicanos e que nos dias que correm estão votadas ao abandono, só pode concordar com aqueles que afirmam que tudo isso é resultado de um negócio de concessão mal sucedido, por isso largamente contestado porque de facto deixa muito a desejar.
O PLANALTO – 20.06.2011