Tribunal penal Internacional desfere rude golpe a Kadhafi…
Noé Nhantumbo
Em concerto pleno com uma reunião do Conselho de Segurança e paz da União Africana o Tribunal Penal Internacional anuncia um mandato internacional de captura de Kadhafi, seu filho e cunhado por crimes contra a humanidade.
A China adia a visita de outro procurado internacionalmente por este Tribunal, Bashir do Sudão.
Será falta de sintonia com as tendências internacionais ou simplesmente uma organização continental que esta atrasada no tempo e que perdeu toda a sua credibilidade. Ninguém respeita esta que se pretende organização africana.
Repete-se o que a muitos anos muitos diziam e defendiam. Os líderes africanos ao alhearem-se dos ventos mundiais de democratização acabam sendo desprezados e ignorados internacionalmente. A resolução da ONU que determinou a zona de exclusão aérea na Líbia foi votada contra a vontade de muitos países africanos.
Agora mesmo que se anuncia mais uma conferencia da União Africana na capital da Guine Equatorial a imprensa noticia que as contas financeiras da organização andam doentes.
Muitos países tem dividas e poucos são os que governos que pagam. Sem a habitual intervenção de Kadhafi em socorro dos devedores esta organização corre o risco de despedir funcionários e ver a sua maquina já pouco lubrificada efectivamente emperrada.
Quando um Conselho de Segurança e Paz como o da UA de que a Líbia de Kadhafi faz parte e é o melhor pagador, e dele fazem parte países como o Mali de que se desconfia que enviou mercenários em auxilio as forcas de Kadhafi, que se pode esperar? Temos que ser realistas e dizer que a União Africana precisa de uma reformulação urgente e de que os preceitos que levaram a sua criação são obsoletos e de nenhuma utilidade para os africanos. E mais um clube a velha Organização da Unidade Africana que serve os lideres e os protege do escrutínio popular. Os africanos estão cansados de aturar e pagar as contas de conferências de governantes que nenhum efeito positivo traz em suas vidas.
Uma corrente de emigrantes que não para de aumentar e resultado de uma governação deficiente dos países africanos.
Problemas sérios de saúde pública são mais um dos reflexos de que nossos governantes estão desviados do real significado de governar.
Estão preocupados em manter contas bancárias gordas a custa dos recursos públicos e de exibirem uma riqueza escandalosa face a uma maioria da sua população que e indigente. São governantes que deveriam ter vergonha na cara e evitar sair a público em muito menos viajar para a Assembleia Geral das Nações Unidas anualmente. O cenário de nossos países africanos é vergonhoso e inadmissível. Com tantos recursos naturais que fazem nossos governantes do que negociar barato tais recursos? Desde que sua quota parte esteja garantida através de pagamentos ilícitos feitos pelas corporações internacionais que mais fazem?
As relações internacionais atravessam uma fase crítica em que modelos e conceitos antes aceites sem problemas hoje são questionados. A intervenção da NATO ou ONU nos assuntos africanos resulta do vazio que existe ao nível continental. A UA que temos não reúne consenso nem entre os africanos. Os povos estão entregues a sua sorte e a líderes que não hesitam em disparar e bombardear opositores mesmo que desarmados.
Quem pode acreditar que o regime ugandês de Museveni algum dia vá a favor dos líbios que se opõem a Kadhafi? Quem acredita que o governo do Mali tenha credibilidade face aos líbios que foram abatidos pelas forcas de Kadhafi e mercenários recrutados algures na África ocidental?
Quem pode ter fé numa organização que apoio governos de unidade nacional sempre que algum dos líderes é derrotado em eleições?
Não queremos ver nosso continente sujeito a uma nova colonização seja chinesa ou brasileira ou americana. Mas não podemos ir a favor de reuniões que só servem para travar a saída do poder de alguém como Kadhafi que já governa a 42 anos. Seus filhos que se julgavam herdeiros certos do poder do pai não merecem nosso apoio nem da maioria dos líbios.
Golpistas transformados em ditadores republicanos que sempre recusaram qualquer tentativa de democratização de seus países tem de convencerem-se de os tempos são outros e que os africanos já não aceitam mais a repressão dos seus direitos políticos e económicos.
Quem não aceita a democracia esta condenado a um fim triste e sem gloria como Hosni Mubarak e Ben Ali. Manobrar ou oferecer migalhas aos povos já surtiu todos os efeitos possíveis.
Os africanos querem a sua dignidade acima de tudo.
Os defensores de que existem bons ditadores são os que comem nas mãos de tais ditadores.
Jacob Zuma deveria aconselhar-se melhor e deixar de ser moleque de Kadhafi. Ninguém da qualquer importância as tentativas fora de prazo de intervir que alegadamente estão sendo desenhadas por uma falida União Africana.
Não queremos ser colonizados pelo ocidente ou oriente mas também não queremos mais ditadores sanguessugas e seus filhos e filhas.
Aos africanos só interessa recuperar os seus direitos políticos e económicos e não mais diversionismos do estilo Malema ou Macuácua…
Quem apoia Mugabe são os mesmos que apoiam Kadhafi e esses são abertamente contra a emancipação e empoderamento dos africanos. Só se querem substituir aos colonos e estão engajados na venda ao desbarato de nossos países.
Há que dar um basta a este perigoso grupo de líderes. Seu tempo e utilidade há muito que se esgotaram.
DIÁRIO DA ZAMBÉZIA – 29.06.2011