SR. DIRECTOR!
Trago profundas reflexões sobre o longo processo rumo ao que chamarei de “desaportuguesar” Moçambique. Ngungunhana, o rei, foi o primeiro a mostrar um grande ódio por uma colonização tão cruel, bárbara e até boçal, um pouco mais em relação ao apartheid.
Maputo, Segunda-Feira, 25 de Julho de 2011:: Notícias
Os suíços que também não se opunham aos portugueses, que afinal representavam a mesma cor, mas se opunham sim aos moldes dum colonialismo selvagem sobre os mais elementares direitos humanos. Enquanto os suíços representavam o espelho de uma democracia que servia de modelo para o mundo, esses se aliaram de imediato a Ngungunhana, na expectativa de que este derrubaria os portugueses, abrindo espaço para o exercício da democracia neste país. Ngungunhana tinha boas relações, ou, ao mínimo, era favorável ao modo de estar e de ser dos ingleses em África em relação aos nativos. Só para exemplificar, Ngungunhana após ter sido preso foi julgado na língua inglesa, apesar de falar um inglês arrastado, esse simples aspecto elucida o quão ele se apaixonara pela relação com os ingleses.
O colonialismo inglês apesar de devastador e saqueador, não destruiu o tecido cultural, moral e espiritual dos nativos ora colonizados. Ngungunhana tinha até adquirido uma grande quantidade de armas aos ingleses e segundo historiadores atentos, com as mesmas armas teria vencido espectacularmente aos colonizadores portugueses. Ngungunhana tal como Mondlane cedo se apercebeu da natureza boçal do colonialismo português. Passados mais de trinta anos da nossa independência, eu me questiono: Será que os portugueses nos civilizaram ou nos “descivilizaram”? Hoje, será que pensamos como moçambicanos ou portugueses ou nenhuma das suas maneiras? A herança super-burocrática que guia e traça as normas do nosso relacionamento constitui traço típico duma herança colonial portuguesa de repulsa. Ainda pensamos hoje, como colonizados e portuguesmente agimos. O colonialismo atingiu até nossa “vesicular”. Foram quinhentos anos de influência negativa. Não importa que eu fale correctamente a língua de Camões e Fernando Pessoa, sem que eu esteja enquadrado num pensar dentro da minha cultura e identidade. Faço a seguinte constatação: O triângulo malvado dos opressores e malfeitores sobre os nobres povos pobres colonizados era composto pelos amigos secretos seguintes. Hitler na Alemanha, Voster na África do Sul e Mossuline na Itália e Salazar como nosso “boss”. Equivale isto dizer: O colonialismo português se inspirava no fascismo, apartheid e no nazismo. Arrisco-me afirmando que o colonialismo português, apesar de ter aparentado transportar um certo proteccionismo aos negros e uma certa cortesia, foi mesmo fatal e bárbaro que o próprio apartheid. O apartheid era claro e directo: “no black” e acabou. O “black” (o preto), já sabia de antemão onde pisar e onde não pisar e se precavia. O apartheid não encorajava a ninguém para se tornar branco, nem adoptar nenhum nome afrikanner. Já o colonialismo português fingia, seleccionando pretos, encorajando-os a mudar de nome, abandonar o seu apelido, odiar a sua raça. Tenho meus colegas de profissão que ostentam nomes tais como: Pastor Sacola, Cebola, Cigarro, Pequenino, Sabonete. Não eram seus apelidos originais significativos? Que prejuízo criavam aqueles apelidos? Ngungunhana, os suíços, Mondlane, Samora, Manganhela, Navesse, Chicovete, Boca, Resende, etc., não gostavam que isto fosse para o nosso destino. Levará tempo e mais tempo para o “desaportuguesar” total e completo do moçambicano e consequente moçambicanização do mesmo. Saudar meu conterrâneo no interior do banco ou dum ministério na língua materna é sempre sinónimo de baixeza. Sinto bastante por um lomwe, maconde ou machuabo puros e cultos, que podem ser desclassificados uma corrida ao emprego somente por não terem pedido emprestado um sotaque aceitável no meio urbano da capital.