Passados 36 anos, ficamos todos à espera das eleições para tirarmos a barriga da miséria. São duas ou três semanas e depois voltamos à mesma miséria de sempre. Porquê? Porquê que não damos corrida a esses oportunistas, mentirosos, caras de urso sem coração que nos prometem mundos e fundos durante as campanhas e depois desaparecem até as novas eleições? Será que somos masoquistas e adoramos quem nos maltrata? Ou não sabemos melhor do que isso? Ou o sofrimento e a miséria já está a tal ponto imbuído no nosso subconsciente que já não nos faz diferença alguma?
Será que somos assim tão ignorantes que todas as eleições se tornam num convívio entre a miséria e a mentira que não conseguimos distinguir uma da outra? Será que somos assim tão estúpidos que quanto mais mentiras nos contam mais nós acreditamos nelas? Ou as mentiras são cada vez mais sofisticadas? Porquê? Como ando muito confuso e sem respostas para todas essas e muitas outras perguntas decidi falar com vários especialistas: psicólogos, cientistas sociais, cientistas políticos, investigadores, etc. Assim consegui saber as razões dessa endemia de pensamento e comportamento em STP: A MISÉRIA DE 36 ANOS OFUSCOU-NOS O PRINCÍPIO DA RAZÃO. FEZ DE NÓS ESCRAVOS PARTICIPANTES EM ELEIÇÕES BARRIGA DE ALUGUER.
Tive a sorte ou o desprivilégio de ter 10 anos aquando da infeliz “independência de STP”. Desprivilégio pois a meritocracia não tinha nem lugar nem valor social e como na minha família nunca correu o sangue de “borra botas” fomos sempre colocados à margem do sistema, o que nos permitiu assistir, à margem, indivíduos de capacidades duvidosas (para dizer o mínimo) ou mais precisamente medíocres se apoderarem do sistema e fazerem dele o seu, desde que fossem capazes de vender almas ao diabo. Desde comités de zona até membros do bureau politico ou do comité central, membros das organizações de massa, só havia um princípio ou método para se “subir”, queimar o vizinho mesmo familiares e gritar viva. Quem não se lembra do “jornal do povo”, “trabalho cívico e voluntário”, “sucessivos golpes de estado fantomas”, “comités de zona”, “os bufos”, comissários distritais, OMSTEP, JMLSTP, OPSTEP, ONTSTP, letras musicais, os hinos, as palavras de ordem, etc, etc. Tudo isso servindo um único propósito: idolatração de um todo poderoso. A pessoalização do poder e redução de todo um povo ao mísero e humilhante destino do abismo. Só havia duas classes: a do todo poderoso e os seus aliados (familiares e amigos) e a população mísera. Era tanta humilhação que a perda da dignidade se tornou endémica. Um povo que apesar da humildade dizia-se ser digno se transformou no que somos hoje interna e internacionalmente.
Anos se foram passando: fome e miséria, privação dos direitos, liberdades e garantias, a cultura de que tudo era fácil só bastava “lamber botas” e gritar viva, que não importavam os meios mas o que valia era apenas subir, individuos medíocres sem capacidades para gerir uma “casa de banho” eram promovidos e de noite para o dia se tornavam homens e mulheres do sistema e com isso vinha a “prosperidade”. Uma prosperidade falsa e momentânea, pois como não tinham e nunca tiveram capacidades para nada tinham que continuar a “lamber botas” o tempo todo. Como não era preciso investir no conhecimento, no saber, na competência, na competitividade, no empreendedorismo, na meritocracia e tudo o resto: as escolas mais os professores, os hospitais mais os médicos e enfermeiros; os serviços públicos mais os seus burocratas foram todos postos a dormir ao ponto de em 15 anos conseguir-se o inimaginável: destruir tudo (a cultura, a dignidade, a autoconfiança, a necessidade de buscar o melhor, o principio da mais valia, o princípio do desenvolvimento, o princípio da prosperidade e progresso, valor acrescentado, entre outros valores). Assim em 15 anos criamos um estado de incompetentes e incapazes, mais conhecidos por “yesmen and yeswomen”.
Tempos idos estudantes saídos de STP e são-tomenses em geral, apesar de grandes limitações materiais ainda conseguiam vislumbrar, ainda conseguiam ser bem sucedidos e mesmo competir em muitos casos em pé de igualdade com os outros doutras paragens talvez muito melhor apetrechadas.
O curioso é que, talvez não soubessem ou não se tenham apercebido, os filhos dos ditos dirigentes (lacaios e borra botas diga-se de passagem) na sua esmagadora maioria eram alunos maus, infelizes, tristes, incapazes, inconsequentes. E obtinham resultados (passavam), porquê? Os professores e directores facilitavam em troco de algo ou para não serem mal vistos e quem sabe punidos. Bolsas de estudo eram dadas em troca de garrafas de whisky, outros favores ou então não eram dadas. Tantos alunos brilhantes foram perdidos. Tantos… Então o que temos em STP hoje é essa geração de infelizes a governar e em posições chave no aparelho do estado. Como podemos alguma vez esperar melhor do que está a acontecer, sem mencionar a agravante de que muitos desses ditos governantes ainda estarem activamente na cena política do país. Uma tristeza. Uma lástima!
Como será possível esses indivíduos virem com a maior naturalidade dizer tantas barbaridades e nós acreditarmos? Todos estão aí para afundar o país mais do que já está. As tretas de estabilidade política, confiança, segurança, vou fazer isto e aquilo não significa nada, pois a figura da presidência da república num regime semi-presidencialista como o nosso (imagem de Portugal) é apenas decorativa, razão pela qual o ainda PR teve de muitas vezes demitir PM para fazer valer um poder que sempre quis ter mas que a constituição nunca lhe proporcionou. Valha-me Deus. É muito para um estômago como o meu.
Se são assim tão íntegros, porquê que existe o “banho” – compra de votos? O que fizeram nos últimos 20 anos? Se nunca fizeram nada de útil antes, vão fazer agora, tornando-se PR ou voltando a ser PR? Francamente, não há 8 ou 9 candidatos. Há apenas 8 ou 9 facetas do mesmo sistema. Todos iguais, nenhum com algum projecto real para STP (país, sociedade ou povo). Qual é o trabalho de desenvolvimento social ou cívico que esses indivíduos fizeram e fazem? Não me refiro a dar prémios e coisas assim. Teoria política? Isso é o que STP menos precisa neste momento.
Como podemos ter 13 candidatos para eleições presidenciais, num país com aproximadamente 150,000 habitantes e dizem 90,000 eleitores (difícil de acreditar)? Como é possível? Como é aceitável? Basicamente, toda gente pode ser PR em STP, tão banal é o cargo, basta ter dinheiro para dar banho!
Uns dizem que é por falta de resultados, outros por falta de ética, outros pela democracia, outros para evitar que o país se afunde, outros fizeram licenciatura, mestrado e PhD em presidência da república ou seja só podem ser PR, etc, etc.
Pela minha parte acho:
1. Para os que dizem ser democracia só tenho a dizer que é uma interpretação muito duvidosa daquilo que é de facto a democracia e pelos meus lados diria mesmo que é anarquia e não democracia. Indivíduos com cadastro candidatos? Noutras paragens nem candidatos a junta de freguesia! Onde está o supremo tribunal de justiça? Onde está a comunicação social? Onde está a sociedade? Manifestação clara de eleições barriga de aluguer (vale tudo).
2. Ética? Qual deles tem ética? Francamente, saibam o significado das palavras.
3. Para o país não se afundar? Ele já está afundado? Com a personalização do poder? Com o vale tudo? Com o clube lambebotas (lacaios) que continuam no aparelho do estado? Com a cultura de uma lei para os dirigentes e outra para a população? Com a cultura da mediocridade que só basta conhecer quem esteja no poder e ter apelido? Com a cultura da mediocracia? Se não mudarmos de mentalidade ele vai-se a fundar muito mais.
Para aqueles que continuam a sonhar com um país melhor através desses que se chamam políticos da nossa praça, isso nunca vai acontecer. Nunca. Algo mudará quando os representantes de cargos públicos (todos, não só o PR ou PM) começam a ser responsabilizados e quando eles forem educados a servir e não servirem-se do cargo. Quando a meritocracia se tornar uma norma e não uma excepção.
Para aqueles que têm barriga de aluguer, vão alugando durante as eleições mas para o resto do ano (até as próximas eleições) vão morrer a fome, sem medicamentos, sem tratamento médico, sem serviço público, sem educação ou formação adequada para os filhos, sem sistema judicial capaz de defender os seus direitos, sem o sistema de segurança para si, sem uma reforma para viver, sem condições mínimas, sem nada. Vão contando com as migalhas e lágrimas de crocodile durante as campanhas eleitorais.
Lembrem-se que todos os ditos candidatos já ofereceram algo aos seus patrocinadores e o mais provável é que hipotecaram as vossas almas.
Exijam dos vossos candidatos trabalho sistemático, dia a dia, não blá blá blá nas eleições.
O meu voto vai para …. “barriga de aluguer”
José Santiago