Por Paulo Gorjão (Ionline) (*)
Há duas semanas referi neste espaço que "o novo governo português tem de marcar rapidamente a primeira cimeira bilateral regular entre Portugal e Moçambique, acordada em 2010, mas ainda sem data marcada devido à demissão de José Sócrates, em Fevereiro. José Sócrates e Luís Amado deram um novo impulso às relações bilaterais. Pedro Passos Coelho e Paulo Portas não podem desperdiçar a janela de oportunidade para consolidar mais ainda as relações bilaterais".
Ora a edição do "Expresso" desta semana refere que a primeira viagem oficial do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, muito provavelmente será a Moçambique. Como se depreende, caso se confirme, não poderia concordar mais com a escolha do chefe do novo executivo.
Isto dito, a fonte governamental não identificada citada pelo "Expresso" acaba por ser inoportuna quando refere que "é natural que o primeiro-ministro escolha um destino mais neutral" do que Angola. Enquadrar a visita desta forma não só retira peso à opção de Pedro Passos Coelho no sentido de privilegiar Moçambique, como também gera atrito sem qualquer necessidade na relação com Angola.
A escolha de Moçambique enquanto destino da primeira visita oficial de Pedro Passos Coelho vale por si em termos absolutos e não por ser supostamente "mais neutral" que outras eventuais opções diplomáticas. Nos últimos anos Portugal apostou de forma clara no aprofundamento das relações bilaterais com Moçambique e há motivos para depreender que nos próximos tempos a relação diplomática se tornará ainda mais forte.
Comparar Angola com Moçambique, nos termos em que foi feito pela fonte governamental citada pelo "Expresso", é um exercício sem sentido. A escolha de Pedro Passos Coelho, a confirmar-se a notícia, resulta em parte da sua vontade de privilegiar Moçambique, mas também das circunstâncias. Na realidade, tudo está mais ou menos preparado há meses para que o primeiro-ministro de Portugal visite Moçambique e nessa ocasião se institua a realização de cimeiras anuais.
Se as circunstâncias fossem outras, em vez de Moçambique a primeira visita oficial de Pedro Passos Coelho poderia muito bem ser a Angola. Aliás, a partir do momento em que Portugal institua a realização de cimeiras anuais com Moçambique, torna-se inevitável que o mesmo aconteça, assim que possível, em relação a Angola.
A relação de Portugal com Angola é demasiado importante para que fontes governamentais não identificadas cometam gaffes desta natureza.
(*) Director do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS)
RM – 05.07.2011