…Os chefes políticos do Ocidente, indiferentes à sorte da Nação Portuguesa e do seu Povo, tudo fizeram para que os mitos que alimentam a sua decadência e a desorientação das massas, facilitassem o caminho à finlandização da situação, pois Portugal era um caso embaraçoso, com a sua intransigência esclarecida, na demissão quase geral do Ocidente. Daí que os chamados grandes políticos do mundo livre, os seus periódicos e comentaristas, apesar da evidência em contrário, augurassem para a jovem democracia portuguesa e para o seu povo, uma era de prosperidade económica nunca vista e que ninguém verá, como bem sabem. Portugal, reduzido à sua faixa europeia, pobre no solo e no subsolo, fora das grandes correntes comerciais pela sua posição geográfica, verá, pelo contrário, acentuar-se a sua corrente migratória e terá de suportar um abaixamento geral no seu nível de vida. Pensar--se, efectivamente, que poderá sair riqueza do jogo dos partidos, da famosa adesão ao Mercado Comum e de outras fantasias, ê estar completamente fora das realidades. Uma coisa são as possibilidades de criação da riqueza, outra o quadro político de exploração dessas possibilidades.
E assim chegámos à situação em que Portugal se encontra, neste ano de 2011, 37 anos após o 25 de Abril de 1974.
Mas, em 1985/6, ainda Cavaco Silva e Mário Soares podiam ter pugnado por outra solução, até agora desconhecida dos portugueses. Não o fizeram por interesses e compromissos antes assumidos. A bem de quem?
De um ex-alto militante do MDB(Brasil), que assina como JJLABORET, transcrevo:
Como são as coisas... Em 1986 (março) José Sarney então eleito vice-presidente, pelo colégio eleitoral, assumia a presidência no lugar de Tancredo Neves, presidente eleito pelo mesmo colégio eleitoral (16 de janeiro), mas então falecido por uma diverticulite infecciosa. Nessa mesma data, Portugal estava aderindo a UE/CEE. Antes porém, voltamos ainda em finais de 1985, quando Mário Soares era ainda 1º ministro, porém já eleito para ser presidente a partir de 1986, com Cavaco Silva agora cotado para ser o 1º ministro. Nesse cenário, Cavaco Silva ainda não empossado, visitou secretamente o Brasil, para uma conversa com os candidatos (virtualmente eleitos) Tancredo Neves e José Sarney, porém Tancredo estava internado, doente, e quem o recebeu foi o Sarney. Cavaco vinha notificar o Brasil, que Portugal estava entrando na CEE/UE a partir de 1986, coincidentemente com seu mandato como 1º ministro e Mário Sares como presidente de Portugal. E o que trazia não era nada animador ou favorável ao Brasil: "AS RELAÇÕES COMERCIAIS E DE PREFERÊNCIA ENTRE OS DOIS POVOS, INCLUSIVE O ESTATUTO DO IMIGRANTE, SERIAM MUDADAS PARA OBEDECER REGRAS IMPOSTAS PELA ADESÃO À COMUNIDADE EUROPÉIA, SEGUNDO OS ESTATUTOS DESSA ORGANIZAÇÃO". Ora, é sabido que o Brasil tinha planos para crescimento e desenvolvimento comum com Portugal, e Jossé Sarney, assessorado por seus ministros, fez ver a Cavaco Silva o seguinte: - O Brasil estava saindo de uma ditadura para uma democracia, e os novos governantes queriam estabelecer uma parceria político-econômica de duas vias, com o país irmão. Foram colocados na mesa os termos dessa parceria, que eram o seguinte: O Brasil daria toda a preferência aduaneira para a colocação dos produtos portugueses em toda a América Latina, a partir do projetado MERCOSUL, enquanto que Portugal seria apenas um posto ou plataforma de colocação dos produtos brasileiros em toda a Europa e parte de Ásia e África. Ficava estabelecido que Portugal não se obrigava a CONSUMIR produtos brasileiros em obrigação bilateral, mas sim apenas a ser ponto de distribuição desses produtos, com a cobrança das taxas que fossem acordadas pela circulação das mercadorias. Portugal poderia ainda, se quisesse, ter preferência na aquisição dos produtos brasileiros que resolvesse manufaturar dentro do próprio país, para a geração de empregos. Tudo o que Portugal teria que fazer era PERMITIR O FLUXO DE MERCADORIA BRASILEIRA a partir do seu território. Por seu turno, o Brasil oferecia a Portugal: Consumo de toda a produção portuguesa, em condições favoráveis e privilegiadas frente às mercadorias de quaisquer exportadores estrangeiros ao Brasil: azeite, vinhos, queijos, tâmaras, nozes, peixes, bacalhau, cerâmica, tudo isso seria tratado como privilegio no comércio desses países. Quanto às relações políticas, a Constituição brasileira estaria sendo reformulada já em 1986, e conteria cláusulas de igualdade entre portugueses e brasileiros, inclusive nas obrigações previdenciárias. Brasileiros e portugueses circulariam livremente país-a-país, com seus direitos individuais garantidos como se estivessem na própria pátria. RESPOSTA DE CAVACO SILVA: "Nosso futuro está voltado para a Europa". e "Não podemos mudar esse traçado, pois já está decidido a nossa entrada na CEE/UE a partir do próximo ano". "Pedimos apenas que nos compreendam vocês" Sarney insistiu: "Esperem mais um pouco! Vamos detalhar o que queremos e o que é possível fazermos" Cavaco Silva: JÁ ESTÁ CONSUMADO! Brasil - 1988, é elaborada uma nova Constituição, democrática, restabelece-se eleições diretas em todos os níveis, delineiam-se todos os direitos civis individuais e coletivos dos cidadãos... O BRASIL ARRANCA DO ESTADO DE MISÉRIA, NA DITADURA, PARA O STATUS DE POTÊNCIA, NA DEMOCRACIA! Desenvolve tecnologias, bate recordes de produção alimentícia, torna-se auto-suficiente em eletricidade/energia, minérios, petróleo, torna-se o maior exportador de grãos, carne, frangos, frutas, do planeta, alcança uma população de quase 200 milhões de pessoas em mercado interno fantástico (que seria ideal para Portugal) e, para coroar, já nestes últimos três anos descobriu fantásticas reservas de petróleo (de que não precisará internamente) que já começaram a serem exploradas, e que entrarão em produção plena a partir de 2015. As diferenças sociais começam a serem corrigidas de fato: 38 milhões saem da pobreza e 72 milhões passam para a classe média! E vai melhorar ainda mais, até a solução total da pobreza, nos próximos 8 ou10 anos: POR UMA EMENDA CONSTITUCIONAL, A RENDA FANTÁSTICA DO PETRÓLEO SERÁ UTILIZADA PARA ELIMINAÇÃO DA POBREZA E PARA O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO/TECNOLÓGICO!!! Portugal, que poderia estar crescendo e correndo junto conosco... RECUSOU! Por uma Europa que lhe tira até a dignidade que sempre teve, como um INSULTO AOS GRANDES VULTOS que desbravaram os cinco continentes tornando Portugal o 1º do mundo, por mais de duzentos anos seguidos. Bom... é a tal de autodeterminação: em vários caminhos à nossa frente, escolhemos cegamente um! Se der certo, "bom", se não der certo, "mau"! Reclamar do que? Portugal apostou todas as suas fichas! Está dando preto. Nota: O Brasil está quase incólume à crise mundial de agora! A presidente(a) acalmou hoje a nação. Já havia passado quase incólume à crise passada recentemente, e agora, tem até nota elevadíssima das agências de "rating".
(Caro JLABORET: Pela importância e inedetismo do seu texto, seria possível indicar a fonte dessa "viagem secreta" de Cavaco Silva ao Brasil? Por várias pessoas a quem perguntei, desde historiadores a escribas, é-lhes totalmente desconhecido este episódio. Um abraço Fernando Gil)
Caro Fernando Gil, Busquei, com alguma dificuldade, junto a antigos partidários do tempo em que militava politicamente no antigo MDB, a informação agora correta: Realmente, não poderia constar uma viagem de Cavaco Silva ao Brasil, nos idos de finais de 1985. Peço desculpas por um erro da informação por mim coletada e aqui colocada. Na realidade o que aconteceu foi o seguinte: Cavaco Silva queria manter um bom nível nas relações com o novo Brasil saído da ditadura, e para isso julgou ser necessário informar aos futuros mandatários sobre a adesão de Portugal à CEE/UE, a partir de 1986. Como ainda eram vigentes os últimos dias da ditadura, logo a informação (protocolar) teria que ser dada ao então presidente João Batista de Figueiredo, e não ao candidato único pelo Colégio Eleitoral, Tancredo Neves. Cavaco Silva não apreciava o governo ditatorial de direita brasileiro, o mesmo que apoiou a direita ditatorial de Portugal, e assim resolveu ignorar João Batista de Figueiredo, nos estertores da ditadura, reverenciando aquele que logo o substituiria com a promessa do restabelecimento da democracia, após mais de 20 anos sob o tacão da exceção político-civil-jurídica. A realidade: Cavaco Silva realmente não veio "secretamente" ao Brasil, como coloquei anteriormente! Todavia, mandou um mensageiro pessoal (representante) com a finalidade que já descrevi. Esse representante vinha com autoridade pessoal plena e não diplomática, motivo pelo qual não foi usado o embaixador português para o comunicado, dado que Tancredo não era ainda empossado presidente. IMPORTANTE: No exato momento da reunião entre seu "representante pessoal" recebido (devido às circunstâncias) pelo José Sarney, Cavaco Silva efetuou UMA DEMORADA LIGAÇÃO PESSOAL, cujo conteúdo somente ele, Cavaco Silva, ou o José Sarney, poderão dizer o que foi dito e ouvido. Os fragmentos restantes foram os termos da fala do seu representante na ocasião, que é mais ou menos o que já aqui transcrevi. Notar que, Cavaco Silva manteve, por razões extra-diplomáticas (rompimento protocolar) o segredo do encontro do seu representante com o então candidato e virtual eleito - pelo colégio eleitoral da ditadura - vice-presidente José Sarney, que viria a ser o presidente de fato, pela morte de Tancredo Neves. No mais, o assunto tratado e o diálogo foi o mesmo que descrevi no meu comentário anterior, no entanto com o "mensageiro especial" e não com o próprio Cavaco. Pelo que volto a pedir desculpas a todos. Pela ocasião, eu, estava filiado ao MDB, partido do Tancredo Neves e do Sarney, e fazia parte do órgão dirigente do partido ao nível do Estado de São Paulo. As fontes de que dispus foram ex-colegas de partido influentes e contemporâneos à época (ex-deputados federais e estaduais) e excertos dos anais partidários do MDB (PMDB).
In http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2011/08/o-fim-de-n%C3%B3s-tal-qual-somos-e-fomos.html
Nota final:
Ressalvando que não foi Cavaco Silva que se deslocou ao Brasil, aqui está como o futuro de Portugal, mais uma vez, foi jogado à revelia do seu povo.
Teria sido caminho com melhor destino? Pelo menos estávamos “entre irmãos”.