Da Renamo, no campo do Ferroviário de Lichinga
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, castigou anteontem os membros e simpatizantes do seu partido que o aguardavam em número considerável no campo do Ferroviário de Lichinga, onde estava agendado um comício com início às 14 horas.
Os militantes e simpatizantes fizeram-se ao referido local a tempo e horas, mas Dhlakama só apareceu quando eram 16.30 horas, o que fez com que a maior parte dos presentes se retirasse do recinto desportivo, uns porque queriam abrir o jejum e outros porque simplesmente tinham outras tarefas, apesar das desculpas do líder pelo atraso.
“Agradeço a vossa paciência, porque estamos no mês de jejum e até podiam ter abandonado. Estou satisfeito por ver muitos jovens aqui presentes, porque antes era difícil aparecerem aqui. Se olharmos bem, o maior número dos presentes são jovens. Antes, quem afluía aos nossos comícios eram apenas velhos. Então agradeço essa vontade, porque já não são professores que vos obrigam a escolher o vosso futuro” — disse Dlakhama.
Precisou num outro desenvolvimento que, tempos atrás, houve rumores segundo os quais Dhlakama estava paralítico e circulava sentado na cadeira de rodas e que a Renamo já tinha acabado. Para ele, não é possível um ladrão, numa referência à Frelimo, declarar que o dono da casa está imobilizado ou acabado.
Dlakhama e a Renamo, segundo as suas palavras, ainda não acabaram e a população como acredita nele e no seu partido, o resultado foi a afluência em massa no seu comício.
“Se fosse no comício de Guebuza, podia até fechar mercados e escolas para que as pessoas fossem ao comício, para em contrapartida aparecer um punhado de criancinhas. Os políticos pensam que basta enganar o povo com um saco de arroz e ameaçar com helicópteros vai aderir ao seu rumo. Não, vocês são adultos e sabem o que querem. Por isso, a democracia não vai desaparecer só por causa de roubo da Frelimo” — hironizou.
Deu exemplo perguntando se alguém tendo sete milhões no bolso, pode roubar uma coitadinha que só tem 30 meticais no bolso? “Então, se a Frelimo rouba sempre os nossos votos é porque não tem nada e não costuma ser votada” — precisou.
CHEGA DE BRINCADEIRAS
Afonso Dlakhama disse num outro desenvolvimento que ele e o partido que dirige chegaram à conclusão de que chega de brincadeiras e tudo vai depender do Presidente Armando Guebuza e o seu Governo, se querem sair do poder a andar ou a correr. Vai depender deles, porque até Dezembro próximo eles devem largar o poder.
“Não vamos voltar à guerra. Eu sei o que é a guerra. Não preciso dela e nem quero ouvir falar dela, mas a Frelimo deve sair do poder. O colonialista português nos humilhou durante 500 anos e a Frelimo não pode continuar a nos humilhar. Vamo-nos manifestar e nesse dia nem bicicleta vai circular e nem mesmo aviões vão levantar voos do Rovuma ao Maputo. Vamo-nos manifestar para eles largarem o poder e formarmos Governo de transição para um período de dois anos e meio” — disse, explicando que quando se fala da Frelimo não se está a referir a um simples membro que tem cartão, mas os que estão no poder.
CRIAÇÃO DE QUARTÉIS
No comício de anteontem em Lichinga, Afonso Dhlakama reiterou o seu posicionamento sobre a ideia da criação de quartéis para albergar os desmobilizados de guerra que, segundo as suas palavras, estão sendo marginalizados pela Frelimo.
“Já ouviram que a Renamo quer criar quartéis, mas a Frelimo está a chorar e esqueceu que foi ela que provocou tudo isso. Quando assinamos o acordo de Paz em Roma combinamos muito bem para formarmos um exército único e no início tudo estava andar bem, mas a partir de 2000 para cá os nossos homens foram afastados do exército e os que ficaram estão sendo marginalizados. Por isso tivemos a ideia de criarmos os quartéis para albergarmos os nossos homens e isso vai acontecer em todas províncias” — disse Dhlakama
Acrescentou que a ideia de reagrupar os seus homens não significava o retorno à guerra, mas para que sejam controlados por ele.
“Vocês residentes de Lichinga não podem sentir-se desmoralizados. Vamos conseguir tirar a Frelimo do poder e se nesse dia eles tentarem ameaçar usando a força de Intervenção Rápida, vamos responder porque o país não é da Frelimo, mas sim do povo. E a Frelimo não pode continuar a fazer e desfazer. Já chega! A Renamo permitiu essas brincadeiras da Frelimo” — disse Dhlakama.
Afonso Dhlakama, que se encontra no Niassa desde o passado domingo, já realizou três comícios nos povoados de Lumbi, Chivingo e na cidade de Lichinga. Ontem teve um outro em Magica/Ngaúma e também está previsto que trabalhe nos distritos de Mandimba, Maua e Cuamba, nesse último será realizada uma conferência com os desmobilizados de guerra na próxima segunda-feira.
DIÁRIO DE MOÇAMBIQUE – 18.08.2011