O presidente da Aliança para uma Revolução Verde em África (AGRA), Namanga Ngongi, diz ser inaceitável que num continente onde perto de 80 por cento da população vive da agricultura, apenas dois por cento dos créditos bancários destinam-se a produção de comida.
Falando hoje na Beira, a capital provincial de Sofala, durante a cerimónia de lançamento do Plano de Investimento para a Produção de Alimentos no Corredor da Beira, Ngongi defendeu a necessidade de se encontrar formas de aumentar o financiamento a agricultura.
“Como podemos aceitar que 80 por cento da nossa população está na agricultura, mas apenas dois por cento dos créditos dos bancos comerciais destinam-se a financiar a agricultura”, questionou Ngongi, acrescentando que “isso não pode ser possível”.
Para o presidente da AGRA, essa marginalização da agricultura não é aceitável porque, mesmo com esses investimentos a baixo nível, este sector tem uma contribuição de 23 por cento para o Produto Interno Bruto (PIB) em Moçambique, por exemplo.
Em todo o continente africano, a agricultura tem uma contribuição média de 37 por cento para o PIB e em muitos países, individualmente, este sector contribui com 40 por cento para a produção global.
Por outro lado, metade das exportações de África resulta da agricultura. “Não podemos aceitar que apenas dois por cento dos créditos dos bancos comerciais sejam para a agricultura. Precisamos de fazer alguma coisa”, sublinhou Ngongi.
Falando esta Quarta-feira em entrevista a AIM, o presidente da AGRA disse que África tem potencial para auto-financiar a sua própria agricultura, sem ter de recorrer a instituições financeiras de outros continentes.
Contudo, para isso, é preciso que os Governos africanos criem condições conducentes a um ambiente favorável para as instituições financeiras passarem a investir seriamente na agricultura.
Ngongi defende a criação de políticas conducentes e que tornem a agricultura uma area reconhecida como um negócio capaz de atrair o interesse de jovens para que estes possam apostar nesta actividade para fazerem as suas careiras, não apenas ao nível da investigação ou extensão, mas na produção de comida como tal.
Questionado pela AIM sobre exemplos de políticas capazes de mudar o actual estágio da agricultura em África, o presidente da AGRA disse que os governos precisam ou mexer nas taxas de juros nos créditos agrícolas, que por sinal são altas, ou injectar dinheiro nos bancos para fazer face aos riscos inerentes a actividade.
“Por exemplo, o Ministério das Finanças pode colocar, vamos lá, cinco milhões de dólares como garantia para a partilha de riscos com os bancos por concederem créditos agrícolas e esse valor pode gerar entre 40 e 50 milhões de dólares nos bancos comerciais”, exemplificou a fonte.
Outro exemplo apontado pelo presidente da AGRA tem a ver com a possibilidade do Banco Central usar um certo dinheiro em valor para apoiar a liquidez dos bancos comerciais para concederem créditos agrícolas.
Por outro lado, o Banco Central pode conceder privilégios especiais aos bancos comerciais que atribuírem mais créditos para a agricultura. Esses privilégios podem ser através da partilha de capital no banco central ou por via da taxa de juro de que o banco beneficia ao emprestar dinheiro do Banco Central.
“Há muitos instrumentos que podem ser usados para apoiar a concessão de empréstimos aos agricultores. De facto, essa de dar dinheiro aos bancos pode ser a última hipótese, mas quando um país aposta na agricultura como prioridade é possível fazer alguma coisa”, sublinhou.
Portanto, não há receita única aplicável para todos os 54 países africanos. O que a AGRA insiste é a necessidade de reverter a actual situação da disponibilidade de alimentos no continente que pode vir a resultar em inúmeros problemas, incluindo a ocorrência de distúrbios civis, que por sinal já se verificam em vários países.
MM/DT
(AIM – 11.08.2011