São Tomé e Príncipe e Cabo Verde têm a uni-los vários fatores, entre os quais a mesma língua e cultura, mas são muitas as diferenças que os separam, disseram à Lusa dois observadores da realidade são-tomense.
Ambrósio Quaresma, jornalista e proprietário de "O Parvo", jornal satírico e crítico, criado em 1994 no balanço da abertura gerada pelo fim do regime de partido único, evidencia logo à partida o que tem sido o papel dos políticos dos dois países.
"Os cabo-verdianos são patriotas. Lutam mais pelo seu país. O são-tomense é diferente: é egoísta, é preguiçoso. Não quer trabalhar, quer mais vida fácil", frisou.
João Carlos Silva, impulsionador da divulgação da cultura são-tomense e tornado figura pública em Portugal pelos programas de divulgação da gastronomia na televisão portuguesa, aponta que, ao fim de 36 anos de independência, os dois países se encontram em "patamares diferentes".
"É verdade de Cabo Verde está num outro patamar. Tem tido resultados muito acima da média em relação à maior parte dos países africanos e tem um projeto muito bem desenhado de desenvolvimento com base, sobretudo, nos recursos humanos e na vontade férrea em ultrapassar, vencer, erradicar a pobreza e dar saltos quantitativos e qualitativos em direção ao desenvolvimento. Cabo Verde, quando ascendeu à independência, dizia-se que era um país inviável, e hoje dá exemplos", afirmou.
João Carlos Silva destaca, por isso, a diferença fundamental entre os dois arquipélagos: "São Tomé e Príncipe está num outro patamar ainda, muito próximo dos primeiros anos da independência, para não dizer que tem regredido com a instabilidade política, que é uma das marcas de São Tomé".
"São Tomé tem todas as condições, só que falta uma: acho que falta muita vontade politica e concertação politica para criar uma onda nacional, tomando esta consciência de que é necessário fazer esse trabalho de casa em termos de unidade e de criar um quadro de desejo e de vontade para tirar o pais da situação em que está. Nós precisamos disso. Quando se fala em São Tomé fala-se de instabilidade política governativa", sublinhou.
Os dois países vão neste domingo a eleições, para eleger novos presidentes da República e também aqui João Carlos Silva demonstra as diferenças.
"Em Cabo Verde, as coisas naturalmente vão seguir o seu curso, sem grandes sobressaltos, coisa que pode eventualmente não acontecer em São Tomé. Não está garantida a paz política nos próximos anos, coisa que não acontece, por exemplo em Cabo Verde, com um governo saído de eleições com maioria. E depois as presidenciais: nas pré-candidaturas, digamos, tínhamos 14 candidatos – um pais com cerca de 160 mil habitantes -, e Cabo Verde tem quatro candidatos, com pouco mais de 400 mil habitantes", notou.
O binómio estabilidade/instabilidade é outra diferença que Ambrósio Quaresma identifica.
"As quedas de governo em São Tomé e Príncipe são um negócio. Os políticos não querem trabalhar, nem sequer mostram ser profissionais nos seus postos de trabalho. Verão que a politica em São Tomé é o grande negócio. A estabilidade no nosso país tem esse rosto: negócio", acusou.
Dadas as diferenças evidenciadas por Ambrósio Quaresma e João Carlos Silva, falta reconhecer quão desiguais são os nacionais de ambos os países.
João Carlos Silva acentua que "o cabo-verdiano quando sai do seu país, já leva saudade. O são-tomense quando sai parece que sai zangado com o país".
"Há aqui quase uma relação amor/ódio", conclui.
EL.
Lusa - 05.08.2011