As eleições presidenciais de domingo em Cabo Verde (primeira volta) e em São Tomé e Príncipe (segunda) precisam "muito mais" dos cabo-verdianos do que dos próprios são-tomenses, dada a expressão dos "crioulos" nas "ilhas verdes" do Equador.
A análise é do jornalista, historiador e escritor cabo-verdiano José Vicente Lopes, também partilhada pelo diplomata Corsino Fortes, em que ambos, em entrevistas separadas à Agência Lusa, lembram a grande presença, de há longos anos, de cabo-verdianos em São Tomé e Príncipe.
"A influência dos cabo-verdianos é muito grande. Basta reparar que 40 por cento da população da ilha de São Tomé é cabo-verdiana ou de ascendência cabo-verdiana, percentagem que sobe para cerca de 60 por cento na ilha do Príncipe", disse Vicente Lopes, corroborado por Corsino Fortes.
No sentido inverso, diz o jornalista cabo-verdiano, os são-tomenses residentes em Cabo Verde "não têm qualquer influência" nas presidenciais das ilhas da "morabeza", justamente porque são muito poucos.
Indo um pouco mais longe, José Vicente Lopes lembra que, a abertura à democracia em São Tomé e Príncipe, em 1990, penalizou sobremaneira os milhares de cabo-verdianos que aí residem, pois foram-lhes retirados todos os poderes de cidadania, o mesmo acontecendo aos da segunda geração.
Daí que não votem na segunda volta das presidenciais são-tomenses e possam exercer o seu direito nas de Cabo Verde.
"Essa retirada dos direitos deveu-se, em parte, à defesa dos são-tomenses contra uma eventual preponderância dos cabo-verdianos na vida política do país, foi uma espécie de «instinto de defesa»", sustenta, por seu lado, Corsino Fortes, lembrando que, durante o regime de partido único – a que chama "democracia revolucionária" (1975/91) -, os "vasos comunicantes" entre os dois países eram "excelentes".
José Vicente Lopes, contudo, acentua o facto de a democracia nos dois Estados lusófonos ter seguido caminhos diferentes após a independência (ambas em 1975), sublinhando que Cabo Verde era o país que menos capacidade tinha para se desenvolver, ao contrário de São Tomé e Príncipe.
Corsino Fortes justifica a ideia de um maior desenvolvimento em Cabo Verde pelo "fator humano da cabo-verdianidade", enquanto Vicente Lopes, considerando que a situação é "incomparável", sustenta que a democracia são-tomense "só acentuou a miséria" num país que "nunca se reencontrou" devido, sobretudo, "à classe política".
"Basta ver quantos governos houve em São Tomé e Príncipe e quantos em Cabo Verde", sustentou, defendendo ainda que esse argumento se adequa também ao facto de o arquipélago situado no Equador ter "explorado até à exaustão um sistema constitucional que causa instabilidade".
Para o historiador, autor de várias obras sobre Cabo Verde, mais grave é o facto de, em São Tomé e Príncipe, os chefes de Estado terem sido sempre fatores de "instabilidade", ao contrário de Cabo Verde, onde "primou a estabilidade".
Para Corsino Fortes, os países seguiram "caminhos diferentes", salientando que não existe qualquer relação de amor/ódio", tanto mais que são os cabo-verdianos que, maioritariamente, têm uma influência indireta na economia do pequeno arquipélago, ao promoverem o trabalho agrícola.
Por fim, ambos concordam em mais um tema, a data das presidenciais: "É uma péssima altura".
JSD.
Lusa- 05.08.2011