CRÓNICA de: António Nametil Mogovolas de Muatua
Espaço sem conteúdo de onde se retirou tudo o que alguma vez já tivesse existido.
Empty dizem os que usam a língua também falada por Shakespeare – o maior poeta dramático da Inglaterra, 1.564 a 1.616 da nossa era – quando se referem que algo está vazio: my car is empty on petrol. Assim como o mesmo carro não anda correctamente quando um dos seus pneumáticos está vazio de ar. Quer dizer que até o ar preenche o vazio.
Então quando nem ar existe estamos perante o vácuo. Algo que não contém nada que nem o vácuo. O vazio sempre significa vazio de alguma coisa.
O copo está vazio de água e a tigela está vazia de sopa. O morto está vazio de alma. Um mau gestor está vazio de visão estratégica quanto ao futuro da coisa que ele tem a incumbência de bem administrar.
Eu tenho muito medo do vazio em geral!
O vazio de Deus em nossas vidas é a mais perturbadora de todas as ausências.
E não está com a verdade todo aquele que afirmar que em algum momento da sua vida nunca sentiu medo do vazio. Vazio traduzido por aquele friozinho que sentimos quando a nossa mãe nos anunciou que no dia seguinte iríamos começar nova vida indo para a escolinha brincar com novos amiguinhos e novas coisas aprender.
Igual frio de vazio emocional sentimos quando recebemos a carta formal do nosso futuro empregador felicitando-nos pelo facto de o lugar a emprego para o qual nos havíamos candidatado nos tinha sido atribuído e que deveríamos apresentar-nos rapidamente para o início das funções. O pior vazio e desmoronamento é aquele que sentimos quando nos transmitem uma notícia triste relacionada com o desaparecimento físico de um ente a quem queremos muito.
Apesar do vazio ser uma realidade inerente ao ser humano, importa evitar que este modo físico de nada existir seja a forma privilegiada de o Homem viver, porque a nossa vida tem que estar sempre cheia de algo que nos permita evoluir de patamares inferiores para os de escalão superior. Estudamos, por exemplo, para que o quase vazio do saber convencional seja preenchido pelo conhecimento científico, útil e objectivo. A alimentação ocupa o vazio material e espiritual que a fome provoca no Homem.
Na gíria militar diz-se que todos os espaços vazios são imediatamente ocupados pelo inimigo. Durante a luta armada de libertação nacional, a FRELIMO cuidava de ocupar e organizar a vida das populações nas zonas libertadas para evitar que o vazio reinasse e permitisse que a anarquia, o liberalismo, a desesperança, a ausência de perspectiva levasse o povo ao desânimo.
Na parte da Física que estuda a Mecânica, aprendemos que corpos vazios não têm sustentabilidade vertical e, consequentemente, não ficam de pé. Aliás há um dito popular moçambicano que diz que “ saco vazio não fica em pé”, numa alusão à necessidade de as provisões alimentares nunca faltarem aos trabalhadores.
S a m o r a M o i s é s M a c h e l , simbolicamente quebrador das grilhetas seculares do colonialismo contra os moçambicanos e cultor do diálogo permanente entre o Povo e os seus dirigentes, cuja morte provocou um vazio insuperável para todos nós moçambicanos, advogava que era preciso evitar o vazio comunicacional entre dirigidos e dirigentes.
O nosso sempre bom Deus e amigo dos moçambicanos, para evitar a nostalgia gerada pelo vazio das epopeias da Lurdes Mutola após se ter reformado das pistas, trouxe-nos o Kurt Couto. Bem haja para este miúdo recentemente bronzeado nas Universíadas da República Popular da China.
Os casais devem evitar que haja vazio de diálogo permanente e espontâneo na sua coexistência conjugal quotidiana.
Nas organizações onde haja pessoas em convívio é perigoso que haja vazio entre elas no relacionamento entre os mandados e os gestores de cúpula.
Marcelo Caetano, Professor Doutor, exilado no Brasil, aonde ganhou uma Cátedra de Direito Administrativo na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, após ter sido derrubado pelos oficiais dos fuzis que dispararam cravos em 25 de Abril de 1974, em Lisboa, nas suas conversas em família, mensalmente, radiodifundidas para todo o então território português continental e do além mar, defendia que era “preciso evitar a descontinuidade e o vazio na evolução social, económica e política do País”.
Segundo a sua visão fascista, queria a todo o transe evitar que o poder caísse nas mãos dos povos colonizados, que através de sublevações armadas e revolucionárias já tinham dito que queriam a independência dos seus países do jugo colonial de Portugal. Numa vã tentativa de democratizar o fascismo, Marcelo Caetano afirmava querer uma independência sem descontinuidades e sem vazio que, em seu reaccionário entender, só poderia ser materializada se aquela fosse de cor branca do tipo rodesiana em que os colonos brancos, hasteariam a sua bandeira e o poder continuaria vazio para os indígenas.
E o ambiente político na região austral de África era propício a este modelo, dado que tínhamos a República da África do Sul dominada pelo apartheid, a Rodésia do Sul (Zimbabwe) com o regime do Ian Douglas Smith e o Sudoeste Africano (Namíbia), protectorado pela RSA, a mandato caduco das Nações Unidas. Portanto, se estes intentos de Marcelo Caetano tivessem sido coroados de êxito, o falhado mapa cor-derosa ligando Angola no Oceano Atlântico a Moçambique no Oceano Índico, ter-se-ia concretizado para desgraça dos nossos povos nativos desta região mais boreal do nosso continente.
Se o sucesso das nossas independências aconteceu foi porque os movimentos libertadores dos nossos países privilegiaram a concertação entre os mesmos e importa agora evitar que o perigo do vazio de diálogo positivo entre os dirigentes dos países da África Austral, faça desmoronar o sonho dos edificadores da SADC.
O diálogo político, o acerto económico, a complementaridade comercial, o uso com reciprocidade de vantagens das infraestruturas físicas existentes entre os países da região deve evitar que haja um vazio perigoso que será aproveitado pelo nosso amigo permanente para nos dividir e reinar com iniquidade contra os povos da região.
Da mesma forma que a Unidade faz a força entre os pequeninos, o Vazio tornarnos-á ainda mais fracos e com fragilidades incomensuráveis e difíceis de superar.
Em Moçambique, trabalhemos com vigor para que os nossos silos não fiquem vazios de bens que satisfaçam a nossa procura global e assim dependermos menos das importações, passando, desta feita, a comprarmos do exterior apenas aquilo que o nosso país, objectivamente, não pôde produzir.
Os nossos armazéns cheios aumentarão a nossa competitividade económica, porquanto as nossas Reservas Internacionais Líquidas subirão, a nossa moeda ficará mais valorizada, a nossa Balança de Pagamentos e a Comercial melhorarão, o nosso Produto Interno Bruto crescerá. Em resumo, Moçambique jamais será um saco vazio com dificuldade de ficar de pé.
O vazio da pobreza será preenchido com riqueza honrada, conquistada com o nosso suor de todos os dias trabalharmos.
WAMPHULA FAX – 31.08.2011