O GOVERNO provincial de Cabo Delgado já ouviu alertas, sobretudo, da administração do Parque Nacional das Quirimbas, segundo os quais, a caça furtiva, nos tempos que correm, atinge as raias de extermínio, mormente no que aos elefantes diz respeito, praticado por uma espécie de sindicato de crime contra a fauna, nesta província e, muito especificamente, no interior daquela área de conservação.
Em sessão desta semana, o executivo de Eliseu Machava reservou tempo para falar da caça furtiva, tendo chegado ao nosso conhecimento de que tudo girava à volta dos últimos desenvolvimentos, nada abonatórios, sobre a maneira reiterada e com características que sugerem uma acção bem planificada como os furtivos se dedicam à matança de elefantes, principalmente ao longo do rio Montepuez.
O administrador do Parque Nacional das Quirimbas, José Dias, denunciou, há dias, a continuação, e de forma mais grave, do abate de elefantes no interior daquela área de conservação, de aproximadamente 7.506 quilómetros quadrados, situada em seis distritos centrais da província de Cabo Delgado, ante a apatia das instâncias judiciais que, segundo a direcção do parque, nada fazem em função dos processos que reiteradamente lhes são apresentados, de indivíduos que fazem parte do que considerou de um sindicato do crime existente para exterminar os recursos naturais, com maior ênfase, aqueles paquidermes.
José Dias disse que, nas últimas três semanas, a administração do PNQ tomou conhecimento da existência, na área de Taratibu, nas margens do rio Montepuez, de um bando de quatro caçadores armados, com espingardas do tipo AK-47 e uniformizados de fardamento militar, operando nos distritos ribeirinhos de Ancuabe e Meluco, para abate, exclusivamente, de elefantes.
“Até ao momento já abateram 11 elefantes adultos, sub-adultos e crias. Uma equipa multissectorial deslocou-se ao local para averiguar o caso e soube, no terreno, que os criminosos, depois de abaterem os animais, abandonam os despojos e as pontas são transportadas num helicóptero ainda não identificado, cuja proveniência e proprietário são desconhecidos”, denunciou José Dias.
ACÇÕES FURTIVAS ENVOLVEM UTILIZAÇÃO DE HELICÓPTEROS
O RECURSO a helicópteros para o transporte de pontas de marfim de elefantes abatidos ilegalmente, e em zona proibida, é uma nova táctica dos furtivos que denuncia ligações muito mais sofisticadas, mas a partir de elementos locais, que a administração do parque diz ter apresentado, bastas vezes, depois de encontrados em flagrante delito ou com provas suficientes para a sua incriminação.
“Acontece que, para a nossa surpresa, tais elementos, depois de serem neutralizados pelos nossos fiscais, em coordenação com a Polícia da República de Moçambique (PRM), e uma contribuição exemplar dos lideres comunitários, são, volta e meia, devolvidos sob diversas alegações de inocência e vêm troçar-nos, em pleno dia, amordaçando-nos em consequência e, na verdade, pondo água abaixo todos os esforços que envolvem, inclusive, avultados valores monetários”, explicou o administrador do Parque Nacional das Quirimbas.
Uma missão anti-caça furtiva, cuja actividade iniciou em Dezembro do ano passado, levada a cabo pelo Parque Nacional das Quirimbas, através do Departamento de Fiscalização, em colaboração com a PRM de Cabo Delgado, havia neutralizado, na segunda quinzena de Junho último, na aldeia de Mauá, posto administrativo de Bilibiza, distrito de Quissanga, três indivíduos que faziam parte de um grupo de caçadores furtivos procurados por aquela instituição gestora daquela área de conservação.
Os três, considerados cabecilhas do grupo que havia sido neutralizado e detido pela Polícia, na cadeia de máxima segurança, na cidade de Pemba, onde prosseguiam as investigações sobre os meandros criminais por si palmilhados, acabaram sendo soltos.
Depois de se ter vivido uma ligeira acalmia, em relação ao cometimento daquele tipo de infracções, segundo defende a administração do PNQ, tal veio a recrudescer logo a seguir à sua soltura. Trata-se de Jorge Salimo, de 40 anos de idade, natural da sede do distrito setentrional de Palma, residente no bairro de Cariacó, na cidade de Pemba, António Amisse, de 48 anos de idade, natural de Moja, em Bilibiza, no distrito de Quissanga e Bento Aníbal, de 20 anos de idade, natural de Nipataco, distrito de Ancuabe.
No local da neutralização, segundo havia sido informado na oportunidade, tinham sido apreendidas 106 munições de AK-47, supostamente usadas para o abate desenfreado de elefantes naquela área do Parque Nacional das Quirimbas e 104.114,00 meticais em dinheiro, que se pensa tenha provindo da venda de marfim e que funcionava como fundo para o pagamento de colaboradores do grupo.
Tinham sido encontrados ainda documentos de identificação dos caçadores, um cartão de desmobilização militar da ONUMOZ, pertencente ao suposto chefe do grupo que responde pelo nome de Luís Assima, natural do Niassa e cartão de eleitor do chefe adjunto, de nome Manuel Kuchupa, natural de Negomano, distrito de Mueda.
Estes dois últimos, não haviam sido encontrados pela equipa conjunta do PNQ e policial, por terem saído um dia antes da operação, segundo se sustentava, em mais uma missão da prática da caça furtiva de elefantes, com três armas do tipo AK-47, não se sabendo a zona aonde teriam ido operar.
Pensa-se que possa ser a mesma equipa furtiva que se reactivou, desta feita, com a novidade de contarem com o uso de helicópteros para o transporte dos troféus, deixando em terra todos os despojos.
O administrador do PNQ encoraja a todas as forças vivas da sociedade, a fazerem frente a mais estes desmandos, contra a natureza ao arrepio de todas as normas e leis instituídas no país, na verdade, uma agressão àquilo que se pretende seja a zona de conservação estabelecida em 2002, pelo governo de Moçambique.
- Pedro Nacuo