Entre poder discursivo e a verdade há uma grande distância…
Por: Noé Nhantumbo
Sem dúvidas que por parte da liderança governamental em Moçambique existe uma grande discursiva e de retórica. As palavras fluem com uma intensidade tal que se fosse verdade o que nos diziam Moçambique estaria avançado a passos gigantes para vencer as dificuldades que apoquentam os cidadãos todos os dias.
Um líder tem de ser capaz de liderar processos e isso não transparece quando analisado o que está realmente acontecendo no país.
Alguém já cognominou a III república de “comissariado político”. Há muitos aspectos que conferem ou dão como facto que a actual administração anda completamente à volta de seu chefe e que os ministros do governo não conseguem brilhar e nem actuar fora daquilo que os mesmos entendem que deve a visão do chefe ou coisa com que o chefe não se oporá.
Na verdade se analisados os discursos proferidos pelas diversas ocasiões fica-se com a ideia de que o manancial de onde saem as ideias da liderança governamental moçambicana está esgotado ou só fornece o mesmo tipo de discurso. Vive-se numa situação de obediência completa a slogans que periodicamente saem da cúpula e os funcionários do governo a todos os níveis sabem que sua permanência e gozo das regalias que actualmente possuem depende daquilo que ele conseguirem expressar e manifestar. Muitos já compreenderam que para avançar na carreira é preciso tanto possuir o cartão vermelho como agir de maneira a que os colegas de trabalho vejam também as camisetas do partido e que o sujeito em causa participe nas reuniões da célula do partido.
Compreende-se que o poder seja “doce” e que mantê-lo é o que todas as forças políticas pretendem. Só que entre nós insiste-se em discursos que não passam da repetição dolorosa. Sempre que mentem prejudicam as oportunidades reais dos moçambicanos.
A comunicação social tem em geral seguido uma via que a leve a não confrontar-se com a liderança governamental.
Ciente de a confrontação ou a simples crítica daquilo que é mal feito pelo governo poderá resultar em boicote de suas actividades, de corte na publicidade e de outras medidas penalização, os editores fazem como que autocensura.
E quando se colocam ao lado daqueles que se comportam como autênticos bajuladores, os editores prestam um serviço de inestimável valor a liderança governamental
Há factos reunidos e conhecimentos pelo público sobre actos e procedimentos do governo que são lesivos ao país e aos seus cidadãos.
Quando um governo distrital como o de Dondo cola papéis que encobrem os logótipos de departamentos governamentais colocados nas portas de viaturas e depois o partido Frelimo utiliza estas viaturas para seu trabalho partidário estamos um atropelo flagrante do que está estabelecido sobre utilização de viaturas do estado. Estamos face a uma mentira. Assim sendo o governo do distrito do Dondo está financiando as actividades da Frelimo e isso contraria a lei do país.
Quando a esposa do PR Armindo Emílio Guebuza visita sistematicamente as províncias do país fá-lo no quadro de suas prerrogativas como primeiradama mas na prática mistura partido com estado e o estado custeia estes exercícios de propaganda política em favor de seu partido.
Quando dizemos que não se constrói um país com mentiras e meias-verdades queremos enfatizar o que tem estado a acontecer. O estímulo e apadrinhamento de ilicitudes abrem portas e janelas da escola da corrupção. Todo o procedimento ilícito que seja do conhecimento da liderança e que não seja reportado como ilicitude pela liderança fomenta o surgimento e enraizamento de práticas corruptas na sociedade.
Aquele dito “o exemplo vale mais que mil palavras” ajusta-se perfeitamente à situação moçambicana. Os dirigentes governamentais, a Primeira-Dama e o PR até têm bonitas palavras e discursos brilhantes no seu conteúdo.
Só quando chega a hora de implementar o que andam o tempo todo a proclamar engasgam-se, tropeçam e acabam nada fazendo.
Se a função do PR restringe-se a viajar pelo país fiscalizando a acção do governo então deveria mandar cessar funções aos diversos inspectores do estado que funcionam nos ministérios.
Se é o PR que deve dinamizar o desenvolvimento dos distritos então de nada vale ter governadores nas províncias. A tendência de centralizar tudo e a prática de controlar tudo estão minando as bases para o funcionamento da máquina governativa. Não se pode edificar um aparelho de estado moderno e eficiente se não houver uma distribuição funcional de competências.
Toda estratégia montada e denominada de “Presidência Aberta e Inclusiva” pode se catalogar de método ou opção que visa aumentar visibilidade de que está no poder e serve para realizar campanha política eleitoral antecipada com fundos do Estado. Esta é uma outra mentira que falseia a realidade.
Os administradores visitados correm a varrer e limpar o que em geral está sujo e os governadores ensaiam visitas de auscultação e fiscalização do programa quinquenal do governo. Todos querem enganar o PR e apresentar relatórios de realizações que de facto não aconteceram.
O nível de reembolso dos Fundos para Iniciativas Locais abaixo de níveis que qualquer iniciativa de “revolving funds” sustentável pode suportar mostram que se mente e se insiste por razões meramente politicas numa coisa que para o olho da maioria dos moçambicanos é um aborto.
A teimosia em continuar com projectos inviáveis mostra o desprezo da posição e opinião dos outros.
Existem pessoas com poder que não conseguem equacionar que os outros podem ter pontos de vista validos. Isso atrasa o desenvolvimento nacional mas porque faltam iniciativas que concorram para a promoção de acções contra as assimetrias o país sofre.
Moralidade e sentido e estado são contrários à cultura da mentira oficial…
DIÁRIO DA ZAMBÉZIA – 29.09.2011