Dedico este artigo as minhas amigas Eugenia Chaimite e Angelina Mendes Lima que se foram sem dizer ADEUS!
Sem cor nem alegria! Sem bandeiras nem festa que mereça tal nome, a antiga Cidade de Quelimane, que em tempos gloriosos fora considerada como sendo a quarta do pais, mais conhecida como a capital do coco, do chá, da mukapata, da galinha a zambeziana e do camarão, celebrou os seus 68 anos sem luz nem gloria!
Uma urbe seduzida e abandonada!
O jantar no Benfica não passou de uma cerimónia de luto, que mais se assemelhava ao almoço de um funeral com corpo presente!
Esquecida e humilhada pelos seus filhos e por aqueles que receberam o mandato constitucional de a tirar do abismo, Quelimane jaze nas margens do rio dos Bons Sinais, sonolenta, malariada e sem brilho!
A história desta cidade não passa da de muitas cidades em decadência programada! Programada sim, porque não se explica que se despromova uma cidade com a pujança da de Quelimane, a categoria de Vila!
Hoje Quelimane já não vende a vitalidade que a fez ser baptizada de ‘Pequeno Brazil’! As ruas foram desdentadas, o alcatrão retirado sem nenhuma anestesia, sendo colocado em seu lugar saibro! Saibro esse que não resite nem a chuva nem ao calor!
Quando chove, transforma-se em matope, fazendo com que carros ligeiros enterrem em pleno coração da urbe! Quando não chove e o que se vê! Poeira por todos os cantos, transformando as casas em autênticos edifícios avermelhados, dando uma imagem que não nos faz recordar o diabo! Quelimane hoje, não tem estradas! Essas despediram-se e em seu lugar surgiram autenticas piscinas municipais!
Enquanto que o resto do pais beneficia do fluxo de turistas, Quelimane em particular e a Zambézia no geral continuam sem plano nem sonhos de turismo! Quando milhares de dólares são investidos em outras regiões do pais por quem de direito, a pérola dos bons sinais se reservam meros 600.000 meticais! É possível?
Sem investimentos que tirem do sono em que a induziram, a Lagoa Azul antigo-combatetizada, dorme um sono mais do que profundo!!
As águas quentes de Nhafuba, do Chire, da Maganja da Costa continuam seu sono milenar, sem eira nem beira! As lagoas de Raraga, as lindas praias de Olinda, Musseliwa, Pebane, clamam por uma mão empreendedora! A Reserva do Gilé, já não dorme, ronca! Uma autêntica anestesia de economia politica!
A estrada Quelimane-Zalala continua fina, esburacada, humilhada, sofrida, um autêntico fio dental! Os 35 quilómetros que separam a ex-urbe a esta outrora estância turística de referência, são feitos em nada mais e nada menos que hora e meia, em carro próprio! Maquival adormece em pleno dia!
Os terrenos ao lado da estrada Quelimane-Zalala jazem esquecidas! O único ruído visível neste trajecto e das serrações que substituíram os coqueiros! Ah sim os armazéns de madeira dos chineses! Visitar Zalala no meio de semana não lembra o diabo!
Filas infindas de gente malnutrida, gente sem esperança a espera do peixe que os super barcos dos donos do poder expelem! Do mar o peixe não surge com vida! Surge congelado! Os pescadores já não pescam, foram transformados em mendigos de peixe congelado!
Porque te anestesiam? Que mal lhes fizeste se até ‘votaste para eles’ nas últimas eleições?
Porque se programou a despromoção da minha urbe? Porque se desurbaniza a minha ex-cidade?
Porque humilham a minha urbe ao ponto de lhe terem partido a alma?
Querem que nos curvemos ou como diz Jorge Rebelo, que curvemos nossas almas perante o poderio pujante dos detentores do poder? Já não nos basta
‘termos votado’ nos detentores do poder? Querem pisar, curvar, destrocar nossos espíritos e almas?
Não patrão, isso não! Não nos pisarão! Não curvaremos nossas almas e muito menos nossos espíritos! Nem que nos retirem a carne toda e apenas restem ossos!!
Nem que desdentem nossa cidade! Nem que pintem de saibro nossas almas! Nossas casas, nossas mulheres belas que nem sereias no alto mar! Nossos espíritos, nossa alma, nosso orgulho Zambeziano não se curva, não se humilha, porque somos fruto de muita miscigenação! De uma miscigenação milenar de povos de todo o mundo africanos, árabes, europeus, índios! Somos o resultado da síntese do melhor que a humanidade produziu!
Quelimane, não te vergas!
Erga-te et ambula! Nós acreditamos em ti e te devolveremos teu brilho secular!
Manuel de Araújo
Juntos Vamos Mudar Quelimane
De Quelimane, Com Quelimane,
Para Quelimane
FAÍSCA – 23.09.2011