DIALOGANDO
por JOÃO Craveirinha (JC)
(doutorando na F.L.U.L., artista plástico e autor)
O meu poema, aqui, graficamente adaptado para este formato d’O Autarca poderá ser introdutório à problematização que pontualmente retomarei SOBRE A JUVENTUDE DE MOÇAMBIQUE.
MINHA IRMÃ EUROPEIA
[Poema em prosa de JOÃO Craveirinha]
I: Minha irmã europeia / Só poderás sentir nossa indignação / Quando um dia sem prosopopeia / Sentires em tua memória / Não como maldição / Nem ressentimento ou reclamação / Os látegos que não imaginas / Rasgando o corpo africano / E ouvires os insepultos gritos / Silenciosos de minha gente / Arrancados a ferro e fogo / Bordados por azorragues sangrentos / Na pele escura do afro-escravo / Conotado com negro e desgraçado / Da cor das trevas amaldiçoado/ Por tal acorrentado e massacrado/ Dezenas de Milhões em África, Europa, / Ásia e Novo Mundo e se mais mundo houvera. / Holocausto por teus historiadores denegado/ Também da mulher africana violada e humilhada/ Reeditadas no preconceito pós-moderno / Aos próprios Afro-descendentes/ Sem língua sem cultura sem heróis (Só nos futebóis) / Um apagão colectivo da memória. /
II: Se puderes minha irmã, veste a pele por um segundo/ Fecha os olhos e tenta sentir o que não podes sentir/ Porque foste assim deseducada / Talvez aí, possas um dia sentir / Um pouco quanto dói/ Aquilo que me dói na tua injustiça/ Quando nos acusas de complexos (Sempre de inferioridade) / Olhando verticalmente / De cima para baixo / Na mão a matraca, da tua intolerância/ Tu do alto da tua arrogância/ Tecnocrata e materialista/ (perdeste a sensibilidade, da tua superior alma feminina?) /
III: E (nós) os outros – serão para ti os que te guardam rancor? / Quando nem tu mesma consegues-te libertar do torpor/ Da memória conquistadora do passado em estupor?! /
IV: Ah minha irmã europeia/ Não te tenho rancor não/ Tenho pena de ti/ Por não te lembrares que também em tuas veias/ Corre o mesmo sangue vermelho/ Que teus antepassados fizeram correr/ Em África, em Tenochtitlan e Hispaniola/ Vera Cruz, Virgínia e Cuba/ Brasil e Argentina sem Tango nem Habanera! /
V: Já não nem choro pelo nosso holocausto africano/ Pois não tenho mais lágrimas pra chorar/ Mas o que resta ainda no meu globo ocular/ Choro pela tua insensibilidade/ De mulher europeia/ Que devia saber o que custa ser/ Uma pessoa duplamente discriminada!
VI: No entanto se quiseres pego em tua mão/ Ao som de um Fado corrido/ Rodopiamos no salão/ Tu, com tua saia minhota/ E eu sem correntes nos tornozelos/ E tu sem correntes mentais/ Dancemos livres de nossos fantasmas! / JOÃO Craveirinha@
Olissipo, 11 Outubro 2008/ 02h:00 – madrugada -
http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/1222151
“Como facilmente poderia ter acontecido”. Excerto de legenda traduzida do alemão sobre o colonialismo europeu em África. Caricatura alemã de 1906 invertendo os papéis da situação colonial…numa alusão se a história tivesse sido ao contrário. Será que os europeus teriam gostado de serem dominados pelos africanos, e tratados da mesma forma como os destrataram?! Lá diz o provérbio: “Não faças aos outros o que não gostarias que fizessem a ti”. (JC)
Palavras-chave: conceitos; culturas em exibição; estereótipos; marcas; mitos; poder; preconceito. [Keywords: brands; concepts; cultures in display; myths; stereotypes; power; prejudice.] (JC).
O AUTARCA – 13.09.2011
Veja http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2011/09/sobre-a-juventude-de-mo%C3%A7ambique-1.html