Instâncias turísticas estão a ser erguidas no lago artificial criado pelo barramento das águas do rio Zambeze, pela barragem da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, na localidade do Songo, distrito de Cahora Bassa, no centro da província de Tete.
A zona circundada pelas águas da albufeira de Cahora Bassa está a ser aproveitada para o incremento do ecoturismo, uma das actividades que está a atrair investidores nacionais e estrangeiros, na sua maioria, que se dedicam à actividade piscatória do peixe kapenta, uma das fontes de arrecadação de receitas da província, em particular, e do país, no geral.
Presentemente, mais um “lodge” está em construção e numa fase bastante adiantada na zona de Khamanga, no distrito de Cahora Bassa, cuja obra já consumiu cerca de 600 milhões de dólares norte-americanos, propriedade de um casal que se encontra instalado naquele ponto há cerca de 15 anos. Trata-se dos proprietários da empresa Indústria Pesqueira Bronick envolvida na pesca semi-industrial de kapenta.
“Eu tenho a nacionalidade britânica e a minha esposa é moçambicana. Estamos aqui a trabalhar há cerca de 15 anos na captura e exportação de kapenta para vários países da região. Com o rendimento desta actividade, estamos a investir na construção deste nosso lodge que vamos terminar em meados do próximo ano”, disse Frederik Patrick Nichole.
Moringa Bay Lodge, ora em construção, vai ser constituído por 20 casas, das quais 13 já estão concluídas e equipadas. No total, o complexo em edificação, o qual compreende também um centro de campismo para albergar mais de 40 pessoas, vai ter capacidade para 55 camas.
“Esta zona da albufeira de Cahora Bassa é um potencial adormecido para o ecoturismo. É um lago muito bonito e atraente, por isso, muita gente, sobretudo, turistas sul-africanos, zimbabweanos e britânicos, gosta de vir aqui, onde encontra um ambiente totalmente diferente, desde a língua e tipo de comida. Isto é magnífico e nem parece estar dentro do território moçambicano”, assinalou Frederik Nichole.
Aquele empresário disse que a situação ao longo da albufeira de Cahora Bassa é bastante favorável para o desenvolvimento da actividade turística, sobretudo depois de, há cerca de um ano, a zona, que dista a 20 quilómetros da Estrada Nacional nº1 (EN-1), ter passado a beneficiar da energia eléctrica da rede nacional. Na ocasião, o nosso interlocutor destacou também o bom relacionamento entre os agentes económicos locais e as comunidades circunvizinhas bem assim com as autoridades governamentais.
“Estou muito feliz pelo meu trabalho aqui, em Moçambique. O Governo dá muitas facilidades e já tenho todos os meus documentos legais. Aliás, mesmo antes de iniciar a minha actividade, já cá esteve o Ministro do Turismo que me encorajou bastante para o desenvolvimento da minha empresa. Com o executivo local, nomeadamente as autoridades comunitárias, distritais e o próprio governo provincial, nada tenho a lamentar”, disse, indicando que a população que vive ao longo do percurso da estrada que liga aquela zona e a EN-1, numa extensão de 20 quilómetros, tem contribuído com meios financeiros e humanos para a sua reparação e manutenção, “o que contribui bastante para o reforço do nosso entendimento”.
Segundo Frederik Nichole, o Governo da província de Tete, através da direcção do Turismo, está a trabalhar em estreita colaboração com os investidores na zona da albufeira de Cahora Bassa, o que, de acordo com as suas palavras, permite um clima de trabalho são, onde há troca de ideias e experiências para evitar constrangimentos e infracção da lei que regula a actividade de turismo no país.
No entender daquele operador da área de pesca industrial de kapenta e ecoturismo na albufeira de Cahora Bassa, não existe, em nenhum lado do mundo, onde se trabalha sem a lei, instrumento regulador para qualquer actividade socioeconómica. Disse que durante os 15 anos que está em Moçambique aprendeu muitas coisas boas, entre elas o acarinhamento que as autoridades governamentais dão aos investidores sérios.
ANIMAIS PARA ATRAIR TURISTAS
NA pequena península onde está localizado o Moringa Bay Lodge, Frederik Nichole vai proceder ao seu povoamento com algumas espécies de fauna bravia, constituídas por animais não ferozes do grupo antílopes como gazelas, cudos, porco do mato, cabrito do mato e zebras, para servirem de atractivo e melhorar o ambiente de vida no “lodge”.
“Já estou autorizado pelo Governo para a importação destes animais, a partir do Zimbabwe, onde tenho amigos a criar estas espécies e tudo indica que, antes do fim do ano, já cá terei algumas gazelas, cudos, impalas e cabritos do mato. Um dos meus amigos que cá esteve hospedado por estes dias já me ofereceu três zebras e, a qualquer momento, poderei ir buscá-las. Vai ser mais uma oportunidade para as pessoas verem, de perto, estes animais, com destaque para as crianças acompanhadas pelos seus pais”, disse aquele empresário que afirmou haver, na zona, todas as condições para aqueles animais viverem e reproduzirem-se, pois, conforme assinalou, para além do seu habitat, há água em quantidade e um ambiente totalmente calmo.
Num futuro breve, Frederik Nichole vai abraçar a actividade de compra e processamento do peixe pende para a sua exportação a partir de uma pequena experiência que fez, no ano passado, quando conseguiu encontrar mercado nacional e internacional para aquele produto pesqueiro.
“Para apoiar os pescadores artesanais que operam na albufeira, cuja produção chega a deteriorar-se devido à falta de mercado na zona para a sua colocação, vou começar a comprar todo o pende e processar de várias maneiras, nomeadamente em filetes para abastecer o lodge e exportar para outros pontos. Depois de concluir o projecto de ecoturismo vou começar a comprar e instalar o sistema de frio para a conservação do pescado”, disse o dono do Moringa Bay Lodge, em Khamanga, distrito de Cahora Bassa.
Entretanto, o director provincial do Turismo, Rafael Funzano, disse que o Governo de Tete está a trabalhar na criação, ainda este ano, de um parque nacional na zona de Inhacapiriri, em Khamanga, com objectivo de conservar os animais bravios e impedir que estes façam vítimas humanas ou que elefantes, por exemplo, venham a destruir as machambas dos camponeses.
“Nós, como moçambicanos, devemos cultivar o hábito de viajar e conhecer a nossa terra. Devemos ser os primeiros a valorizar o que é nosso e não apenas apreciar as coisas do estrangeiro que, muitas vezes, não são tão boas como as nossas. Devemos dar exemplo aos nossos hóspedes na valorização da nossa história e da nossa cultura”, disse Rafael Funzano.
- Bernardo Carlos