MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Olá Julieta, minha boa amiga
Como vai a tua vida? E a tua família? Do meu lado, tudo bem.
Só que, por vezes, muito surpreendido com as coisas que as pessoas dizem pela boca fora. Neste caso estou-te a falar do senhor Edson Macuácua que, no caso presente, actuava como portavoz da recente reunião do Comité Central do partido FRELIMO. Ouvi na rádio e pode ser que as palavras não tenham sido exactamente estas, mas, se não foram, terão sido outras muito parecidas. Pois dizia ele que não podemos distribuir, de forma equilibrada, uma riqueza que não existe.
Portanto, todos devemos dedicar-nos à agricultura para criar essa riqueza. E eu fiquei a pensar nas imagens que se podem ver de todos os encontros em que participa a direcção da FRELIMO. Provavelmente as maiores concentrações de obesos por metro quadrado a que este país já assistiu, antes e depois da Independência.
Se não há riqueza neste país como chegaram eles àquele estado? Como construíram os palácios que proliferam em alguns bairros da cidade, e que deixam o Sommerschield dos colonos muitíssimo para trás?
Como adquiriram os luxuosos carros em que se deslocam?
Terá sido na agricultura, de enxada na mão do nascer ao pôr do Sol? O próprio Edson Macuácua, há uns dez anos um jovem magrinho, que hoje parece não caber dentro da sua própria pele, foi na agricultura que conquistou a sua actual prosperidade? Ou será que o problema é o facto de a pouca riqueza que existe, em vez de ser distribuída de forma equilibrada, vai parar sempre aos mesmos bolsos? Ou, dito de outra forma, aos bolsos dos mesmos?
Samora era obeso? Os membros do Comité Central da FRELIMO, no tempo dele, eram obesos? Os ministros eram obesos?
Se não eram é porque alguma coisa mudou muito entretanto. E o que mudou foi, precisamente, a forma como a riqueza existente era distribuída e a forma como ela passou a ser, depois da morte de Samora.
E, já que falamos em produção de riqueza, chamo-te a atenção para o que aconteceu recentemente: tudo começou com uma Reunião de Quadros do partido FRELIMO. Milhares de pessoas reunidas, inclusive em dias de trabalho, a falar, falar, falar. Acabado esse encontro começou uma reunião extraordinária da Organização da Mulher Moçambicana, também em dias normais de trabalho. Logo a seguir foi a reunião do Comité Central que, parcialmente, também decorreu em dias de trabalho. Tivemos, portanto, mais de uma semana em que aqueles e aquelas que enriqueceram sem terem de pegar na tal enxada, mais não fizeram do que falar e comer os lanches e/ou outras refeições que lhes foram servidos. Vais-me dizer que é a forma de eles contribuírem na luta contra a pobreza. E eu concordo. Na luta contra a pobreza deles próprios, não contra a pobreza do povo moçambicano. De resto essa luta até já foi vencida. Já nenhum deles é pobre. Agora a sua luta é pela contínua arrecadação, acelerada, da riqueza. Nesse aspecto a luta deles continua…
Um beijo para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ