Edição e Notas de João Paulo Borges Coelho
Esta entrevista foi realizada em Tete, na tarde morna de 14 de Dezembro de 1983, por mim próprio e por José Guilherme Negrão, no quadro de um projecto de investigação do Arquivo Histórico de Moçambique, achando-se arquivada em cassette no seu sector de história oral com o registo T.T. 11. Foi transcrita por Ana Mainga Vicente e revista por Albino Dimene.
A sua adaptação à forma escrita foi guiada por critérios de economia de espaço e facilidade de leitura. Nesse sentido introduziram-se títulos e alterou-se por vezes a ordem sequencial de algumas respostas. Houve, porém, a preocupação de manter um certo balanço e o "sabor" do discurso oral. As notas que acompanham o texto visam precisar certos acontecimentos, ou dar-lhes um enquadramento sempre que outras fontes o permitiram ou que se julgou necessário à compreensão. As fontes complementares a que se recorreu foram exclusivamente as coloniais do Fundo de Moatize do Arquivo Histórico, e este exercício revelou como são indissociáveis as fontes orais e escritas no estudo da história recente de Moçambique.
O entrevistado, Celestino de Sousa, foi responsável por uma pequena rede clandestina da Frelimo na zona oriental de Tete, entre os anos 1965 e ca.1967. Nessa qualidade, dá-nos um relato em primeira mão não só dos acontecimentos com ela relacionados mas, também, das circunstâncias que rodearam o nascimento e actuação do movimento no contexto do Malawi, que servia de rectaguarda da luta nacionalista em Tete. De alguma maneira o relato permite-nos "ver" um pequeno grupo de emigrantes moçambicanos (alfaiates, motoristas, carpinteiros, enfermeiros, cantineiros: nacionalistas em part-time) empenhado, à custa de enorme esforço pessoal, em criar um espaço que pudesse acolher os "guerrilheiros" a quem entregariam o testemunho da luta pela independência.