O ADMINISTRADOR do Parque Nacional das Quirimbas, José Dias, deplorou recentemente a continuação, de forma grave, de abate de elefantes no interior daquela área de conservação de aproximadamente 7.506 km2, situada em seis distritos centrais da província de Cabo Delgado.
Ante a apatia das instâncias judiciais que, segundo a direcção do parque, nada fazem em função dos processos que reiteradamente lhe são apresentados, de indivíduos que fazem parte do que considerou de um sindicato do crime existente para exterminar os recursos naturais, com maior ênfase, aqueles paquidermes.
José Dias diz que nos últimos sete dias a administração do PNQ tomou conhecimento da existência na área de Taratibu, nas margens do rio Montepuez, de um bando de quatro caçadores armados, com espingardas do tipo AK-47 e vestindo fardamento militar, operando nos distritos ribeirinhos de Ancuabe e Meluco, para abate, exclusivamente, de elefantes.
“Até ao momento, já abateram 11 elefantes adultos, sub-adultos e crias. Uma equipa multissectorial deslocou-se ao local para averiguar o caso e soube no terreno que os criminosos, depois de abaterem os animais, abandonam os despojos e as pontas são transportadas num helicóptero ainda não identificado, cuja proveniência e proprietário são desconhecidos”, denunciou José Dias.
O recurso a helicópteros, para o transporte de pontas de marfim de elefantes abatidos ilegalmente e em zona proibida, é uma nova táctica dos furtivos que denuncia ligações muito mais sofisticadas, mas a partir de elementos locais, que a administração do parque diz ter apresentado bastas vezes, depois de encontrados em flagrante delito ou com provas suficientes para a sua incriminação.
“Acontece que, para a nossa surpresa, tais elementos, depois de serem neutralizados pelos nossos fiscais, em coordenação com a PRM e uma contribuição exemplar dos lideres comunitários são, volta e meia, devolvidos sob diversas alegações de inocência e vem ridiculizar-nos, em pleno dia, amordaçando-nos em consequência e na verdade pondo água abaixo todos os esforços que envolvem, inclusive, avultados valores monetários” explicou o administrador do Parque Nacional das Quirimbas.
Desde Janeiro de 2009, segundo dados disponíveis, o PNQ tem usado várias estratégias para a mitigação da prática da caça furtiva na área de conservação, entre outras, a criação de equipas multissectoriais para a neutralização dos supostos violadores da Lei e Regulamento de Florestas e fauna Bravia e o Plano de Maneio em uso.
Os exemplos de como todos estes esforços não são compensados sob a forma de punição dos infractores são, na opinião das autoridades do Parque Nacional das Quirimbas, bastantes, ainda que para isso apresente-os na companhia de todas as provas materiais que consubstanciam a prática da infracção.
Uma missão anti-caça furtiva, cuja actividade iniciou em Dezembro do ano passado, levada a cabo pelo Parque Nacional das Quirimbas, através do Departamento de Fiscalização, em colaboração com a PRM de Cabo Delgado, havia neutralizado na segunda quinzena de Junho passado, na aldeia de Mauá, posto administrativo de Bilibiza, distrito de Quissanga, três indivíduos que faziam parte de um grupo de caçadores furtivos procurados por aquela instituição gestora daquela área de conservação.
Os três considerados cabecilhas do grupo que haviam sido neutralizados e detidos pela Polícia na cadeia de máxima segurança, na cidade de Pemba, onde prosseguiam as investigações sobre os meandros criminais por si palmilhados, acabaram sendo soltos.
Depois de se ter vivido uma ligeira acalmia em relação ao cometimento daquele tipo de infracções, segundo defende a administração do PNQ, tal veio-se recrudescer logo a seguir à sua soltura. Trata-se de Jorge Salimo, de 40 anos de idade, natural da sede do distrito sententrional de Palma, residente no bairro de Cariacó, na cidade de Pemba, António Amisse, de 48 anos de idade, natural de Moja, em Bilibiza, no distrito de Quissanga e Bento Anibal, de 20 anos de idade, natural de Nipataco, distrito de Ancuabe.
No local da neutralização, segundo havia sido informado na oportunidade, tinham sido apreendidas 106 munições de AK-47, supostamente usadas para o abate desenfreado de elefantes naquela área do Parque Nacional das Quirimbas e 104.114,00Mts em dinheiro, que se pensa tenha provindo da venda de marfim e que funcionava como fundo para o pagamento de colaboradores do grupo.
Tinham sido encontrados ainda documentos de identificação dos caçadores, um cartão de dismobilização militar da ONUMOZ, pertencente ao suposto chefe do grupo que responde pelo nome de Luis Assima, natural do Niassa e cartão de eleitor do chefe adjunto de nome Manuel Kuchupa, natural de Negomano, distrito de Mueda.
Estes dois últimos não haviam sido encontrados pela equipa conjunta do PNQ e policial, por terem saído um dia antes da operação, segundo se sustentava, em mais uma missão da prática da caça furtiva de elefantes, com três armas do tipo AK-47, não se sabendo a zona aonde teriam ido operar.
Vicente Muarapelele, chefe de aldeia de Mauá, após a neutralização dos caçadores, havia sido citado como tendo dito que no dia anterior haviam abatido um elefante nas margens do rio Montepuez, para além de três abatidos na semana anterior àquela, entre as aldeias de Mingonha e Moja, ao longo da mesma corrente de água e outros ainda mortos pelos mesmos, longe das comunidades.
Muarapelele teria dito ainda que sabia da presença dos caçadores furtivos na sua área de influência, mas esperava a reação do governo apesar de não ter reportado o caso ao posto administrativo de Bilibiza e nem ao distrito de Quissanga.
Na oportunidade, José Dias, ouvido pelo nosso Jornal, mostrou-se igualmente agastado com a situação de caça furtiva ao notarem-se casos de envolvimento de alguns líderes comunitários, deixando-se aliciar por valores monetários que rondavam entre 6 e 8 mil meticais por semana, em troca do sigilo pela caça na sua área e pagamento de acompanhantes para o carregamento de troféus após o abate de elefantes.
Pensa-se que possa ser a mesma equipa furtiva que se reactivou, desta feita com a novidade de contarem com o uso de helicópteros para o transporte dos troféus, deixando em terrra todos os despojos.
O administrador do PNQ encoraja a todas as forças vivas da sociedade a fazerem frente a mais estes desmandos contra a natureza ao arrepio de todas as normas e leis instituidas no país, na verdade uma agressao àquilo que se pretende seja a zona de conservação, estabelecida em 2002, pelo Governo de Moçambique.
- Pedro Nacuo