Revelações do coronel Sérgio Vieira.
Olívia Machel, entretanto, acusa o partido Frelimo e o Governo de usarem as homenagens a Samora para tirar dividendos políticos.
25 anos após o acidente de Mbuzini, que vitimou o primeiro presidente de moçambique independente, continuam por esclarecer as causas que terão ditado aquele acidente. Tal facto não impede, porém, o surgimento de novas versões e factos até aqui desconhecidos.
No programa Debate da Nação, da STV, exibido na última quarta-feira, a filha de Samora Machel, Olívia Machel, descreveu um conjunto de circunstâncias anormais que terão acontecido naquele dia 19 de Outubro. De acordo com a filha de Samora Machel, era norma, sempre que Machel regressasse de uma viagem de avião, ao entrar no espaço aéreo, “a força aérea escoltar o avião até aterrar”, facto que não aconteceu naquela noite.
Instado a explicar este facto, Sérgio Vieira, que na altura desempenhava as funções de ministro da Segurança, confirmou este facto. “Eu posso dizer que foi um erro muito grave, não diria um crime, do Comando da Força Aérea, que não fez descolar os aviões”, disse Sérgio Vieira que, em seguida, acrescentou: “Pode ser que esse erro possa estar ligado ao facto de o Comando da Força Aérea não ter tido todo o conhecimento da hora de saída do avião de Mbala”, justificou Sérgio Vieira.
Vieira concordou com a filha de Samora, quando ela perguntou se não era estranho um chefe de Estado viajar e a segurança e as forças armadas não estarem em prontidão. “Devia estar tudo a funcionar mas (...), disse Vieira, para, depois, negar a ideia de uma acção deliberada. “Não temos indicativo que tenha sido uma acção deliberada.”
Só que, ao tentar explicar as possíveis razões que terão levado a Força Aérea a não levantar os aviões e escoltar o Tupolev presidencial, Sérgio Vieira confirmava uma outra tese, até aqui rebatida pela história oficial e levantada pelo investigador João Cabrita no referido debate: os pilotos do avião presidencial não elaboraram o plano de voo, um dos erros apontados por Cabrita para sustentar a sua tese, segundo a qual, o avião caiu por causa de sucessivos erros dos pilotos e não por indução do VOR falso.
É que, se a força aérea não sabia a que hora o avião iria chegar, é porque não havia nenhum plano de voo, um facto que consubstancia um erro grave, principalmente, quando se trata de um voo que transporta um chefe de Estado. Ou seja, os próprios serviços de segurança, dirigidos por Sérgio Vieira, falharam no seu papel ao não exigir o plano de voo, de acordo com a teoria de João Cabrita.
Diz Cabrita que “o avião foi reabastecido em Lusaka, quando ia para Mbala e, de lá até Mbuzini, não foi reabastecido e os pilotos não tinham nenhum plano de voo, em violação ao protocolo”.
Falta de vontade política
Num outro momento do debate, Olívia Machel acusou os sucessivos governos da Frelimo de não se terem empenhado no máximo para esclarecer as causas e os supostos envolvidos na acção contra o Tupolev presidencial.
“O governo do Apartheid caiu há muito tempo (...). E o que Moçambique fez e está a fazer para esclarecer este caso? O que nós, a nível interno, estamos a fazer? Em que passos estamos?”, indagou Olívia Machel para, em seguida, não excluir a hipótese do envolvimento de altas figuras do Estado moçambicano na suposta conspiração contra Samora Machel.
O PAÍS – 21.10.2011
Recorde em http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2008/08/srgio-vieira-fo.html