O LÍDER da Liga da Juventude do ANC, Julius Malema, que esteve ontem presente pela sexta vez no Comité Disciplinar do partido no poder, está a convocar marchas pela “libertação económica dos negros sul-africanos”.
O dirigente, que advoga a nacionalização dos sectores mineiro e bancário e a expropriação das terras dos brancos, à semelhança do que aconteceu no Zimbabwe, passou os últimos dias a mobilizar residentes de bairros pobres em toda a província de Gauteng para participarem em duas marchas, na hoje e amanhã. As marchas vão realizar-se em defesa daquilo que Malema designa por “libertação económica dos negros sul-africanos”. No fim-de-semana e na segunda-feira, Malema e outros dirigentes da Liga - seis dos quais sob a alçada disciplinar do partido - levaram a cabo mini-comícios em bairros como Diepsloot, Heidelberg, Sebokeng e Everton, durante os quais apelaram aos residentes para marcharem “pela libertação económica”.
Num dos comícios do fim-de-semana, Julius Malema referiu-se aos indianos da África do Sul como “coolies”, um termo ofensivo para aquele grupo étnico, que de imediato exigiu um pedido de desculpas à Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano (ANC), sem obter qualquer resposta até ontem, de acordo com a Lusa.
As manifestações marcadas para hoje e amanhã prevêem duas concentrações, em Joanesburgo, e marchas de protesto com três destinos diferente: a sede da Câmara das Minas, em Joanesburgo, a Bolsa de Valores (JSE), em Sandton, a norte de Joanesburgo, e a sede do Governo, os Union Buildings, em Pretória.
A Liga da Juventude foi proibida pela Polícia metropolitana de Pretória de utilizar a principal auto-estrada entre Joanesburgo e Pretória, a M1, para a marcha em direcção à sede do Governo e também de usar o parque sobranceiro aos Union Buildings para uma vigília de protesto na noite de hoje. Apesar disso, algumas zonas de Joanesburgo, como o centro, Rosebank e Sandton, estão em alerta máximo em termos de planos das autoridades, uma vez que manifestações organizadas no passado recente pela Liga da Juventude do partido no poder degeneraram em violência e em destruição de propriedade pública e privada. A real capacidade mobilizadora de Malema e da sua equipa dirigente entre os sul-africanos mais desfavorecidos continua a ser um enorme ponto de interrogação, mas observadores afirmaram que o líder da Juventude está a desafiar directamente a autoridade do Presidente da África do Sul, Jacob Zuma.
Na mesma semana em que Zuma demitiu dois ministros, envolvidos em actos de corrupção e gestão danosa de dinheiro público, e suspendeu o comissário da Polícia sul-africana, Malema aguarda uma decisão final do comité disciplinar do ANC.
Suspensão prolongada de todos os cargos dirigentes do partido ou expulsão são as duas penas mais prováveis por indisciplina, divisionismo interno e atentado contra o bom-nome do partido.