Interessante comentário colocado no artigo acima, por um leitor que se assina por “livre pensador”:
A Teoria do (des) conhecimento de Samora Machel
Como pudemos ver "in loco" na Praça da Independência ontem, houve mais convidados e "obrigados" - os alunos das escolas - do que genuinamente interessados em assistir ao mais nojento aproveitamento politico da nossa historia recente, por parte daqueles que em vida, Machel acantonou por serem ambiciosos políticos. Uma estatua, discursos nostálgicos e anacrónicos, prelecções de religiosos que em vida, ele humilhou, uma delegação de cinco comunistas norte-coreanos que fizeram a estatua, vestidos de roupa igual e muitas tendas com a PUBLICIDADE da PEPSI-COLA!
Samora deve ter-se remexido no tumulo. Ele, um comunista convicto, que proibiu a publicidade no seu reinado. E ate a venda de revistas como o TINTIM e o Tio Patinhas, por serem literatura de cariz imperialista, foi homenageado por seus mais ferrenhos inimigos políticos, ante os olhares de capitalistas convictos e outros tantos...
Era pedir demais. Por um momento, uma ventania forte cruzou a cidade de Maputo, tão forte era que ate pensei que o palanque e a estatua iam simplesmente voar em direcção a Mbuzini. Enfim, como diria Maquiavel, os fins, justificam os meios. E se o fim era preparar as eleições de 2014, então, já esta, Machel será o mote da campanha do próximo candidato presidencial do partido no poder. E nos, os crédulos, vamos acreditar na lenda e continuar a votar NELE!
E para terminar o dia, um debate de surdos - usando as palavras de Machado da Graça - na STV sobre a morte de Samora Machel. Lado a lado, posições irredutíveis e muito discutíveis de Sérgio Vieira e João Cabrita, misturadas com delírios e divagações históricas de Sibindy e Olívia Machel. Verdade mesmo. Eu fiquei ainda mais confuso em relação ao assunto, do que ja estava. Mas ainda acredito na hipótese de assassinato político por interesses conjugados de soviéticos, sul-africanos e moçambicanos. Uma vez que:
1- Machel iria radicalizar o conflito armado na região, atacando e invadindo o Malawi por volta de Novembro de 1986. Não era de interesse das exauridas FPLM ou SADF que isso sucedesse;
2- Quando Olívia Machel diz que o seu pai regressou da URSS decepcionado com Gorbatchev, era porque lhe havia sido dito que a URSS não participaria na aventura militar no Malawi, tanto que mais, estava já atolada com a UNITA e SADF em Angola, como se viu na estrondosa derrota de Mavinga, que os cubanos viriam a reequilibrar em Cuito-Cuanavale dois anos depois;
Em suma, o mundo de então caminhava para a distensão e Samora pretendia fazer exactamente o contrario, logo deveria ter percebido o risco. Sobretudo, por ser um homem muito intuitivo, contudo, desta feita, falhou. Porque a sua intuição convertera-se em paranóia por suspeitar dos inimigos internos do seu Comité Central. Quando Sérgio Vieira diz que, dias antes, Samora convidara todo o Conselho de Ministros a escrever cartas para revelar o que desejam fazer no futuro, isto revela uma rotura politica grave no Governo de então. E quando Olívia fala de uma confidencia do pai para os filhos no dia 17/10/1986, em que se refere a aviões da FAM que bombardearam o mar ao largo do Bilene e quando sabemos também que o fatídico voo de Machel andou desacompanhado o tempo todo, então confirma-se que a nossa forca aérea, ou uma boa parte dela, já não estavam alinhadas com os objectivos militares de Machel. E quem percebe um pouco de estratégia militar, percebe que a FAM era o diferencial de combate em relação a RENAMO que detinha vantagem militar no terreno, pois asfixiava os centros urbanos e já confraternizava abertamente com as FPLM em algumas províncias, já que a Marinha de Guerra, essa nunca existiu na nossa historia militar, pois essa tarefa sempre foi assumida pela URSS e RDA (recordemos a captura de um pesqueiro sul-africano pela Volksmarine na zona da Ponta do Ouro).
E por fim, o recurso cada vez frequente ao discurso popular, para remodelar o governo, desfiles militares assoberbados, fuzilamentos públicos e outras manifestações de forca personificada UNICA e EXCLUSIVAMENTE em Machel e sua linha dura, mostram que ele, no final do seu consulado eram um Homem só e politicamente desorientado.
E quando morreu, Moçambique foi aquilo que se viu. Mudou instantaneamente para uma economia de mercado. Hoje, e tido como herói e ate, arquitecto da paz. Pessoalmente, penso que nunca foi nem uma coisa, nem outra, provando o velho ditado que narra que Deus escreve direito por linhas tortas. E no caso de Machel, muito bem escrito.
Por estas razoes obvias (e outras), nem a RSA, nem Moçambique, nem a Rússia, como herdeiros políticos dos sistemas de então, quererão destapar a caixa de Pandora. O desaparecimento de regimes, não exime as nações do pagamento de compensações aos lesados. Lembremo-nos da Alemanha após a II Guerra Mundial, já sem o Nazismo e por quanto tempo teve de pagar compensações de guerra. Se a RSA criasse uma comissão de inquérito e se comprovasse que o exercito sul-africano fora o responsável pelo despenhamento do avião, isso abriria um precedente para uma choruda indemnização (politica ou financeira) ao Estado moçambicano, a que acresceriam despesas de guerra também, visto que qualquer moçambicano poderia exigir idêntica indemnização ao Estado sul-africano pelos familiares e património destruídos com armas e estratégia sul-africanas. Pelas mesmas razoes, a Rússia deveria justificar a sua posição ambígua face ao Apartheid na região quando oficialmente declarava Moçambique como seu aliado natural. E finalmente, o actual e o anterior CC da FRELIMO iriam provavelmente entrar num ajuste de contas fratricida, resultando provavelmente numa guerra civil. Na FRELIMO, e isso está muito claro, todos necessitam hoje da figura de Machel para ganhar as eleições de 2014, evitando que ela caia nas mãos da oposição (Dhlakama e Máximo Dias, por exemplo), mas poucos, senão a "brigada dos reumáticos" ainda acreditam nas ideias dele. E ainda bem, porque se fosse o contrario, estaríamos todos na clínica do dr. Mabuse!...
Disse