EDITORIAL
Que lições é que Moçambique deve tirar da actual crise económica mundial? A resposta a esta questão pode ser simples, mas pô-la em prática pode não ser tanto quanto parece. Mas se tivéssemos que dar uma resposta curta e rápida, essa seria, aprender a viver com os seus próprios meios e procurar inventar as suas próprias soluções.
Mas a pergunta mais óbvia que vem logo a seguir, é como é que um país que só é o melhor dos quatro países menos desenvolvidos do mundo pode se dar ao atrevimento de tentar viver com os seus próprios meios, sem a ajuda dos outros países mais desenvolvidos.
O fundamental aqui é que durante décadas o mundo foi sendo convencido das virtudes de um sistema capitalista ancorado na noção bíblica do poder auto-regulador das forças do mercado e do minimalismo do Estado.
Hoje, este mesmo sistema está em queda livre, tendo caído no descrédito e conduzido à revolta popular que se apoderou da Europa e do resto do Mundo Livre. De Portugal à Espanha, passando pela Grécia e Itália, governos estão a cair como consequência da actual crise, que se manifesta no aumento do desemprego e no excessivo endividamento do Estado. Existe a sensação de que todos (ou quase todos) perderam o controlo da situação.
Estes são momentos altamente perigosos, onde a demagogia pode surgir com soluções simplistas, capazes de ganhar ressonância no meio de um público confuso, o qual poderá, emocionalmente, ser convencido da eficácia de sistemas económicos que no passado provaram terem sido um fracasso.
Nunca haverá melhor sistema económico no mundo do que aquele que reconhece a necessidade de criação e multiplicação de riqueza; um sistema baseado na distribuição justa dessa riqueza, e onde o ser humano, como o elemento central no processo de transformação, está livre de explorar até ao máximo todas as suas potencialidades ao serviço do bem comum.
Para além de uma subjugação colonial que se perpetuou por vários séculos, muitos países menos desenvolvidos, sobretudo em África, tiveram a má sorte de nunca terem tido a oportunidade de traçar as suas próprias estratégias de desenvolvimento económico e social, especialmente no auge da Guerra Fria, quando a única opção era aliarem-se ou ao Leste ou ao Ocidente.
O fim da confrontação Leste-Oeste, e o consequente surgimento do Ocidente como o bloco vitorioso deu lugar a uma ortodoxia económica que relegava o Estado ao papel de um mero observador, enquanto as forças do mercado determinavam o destino das sociedades. O papel regulador do Estado tornou-se mínimo, e havia, em muitos casos, a noção de que quanto mais inexistente melhor até.
Neste ambiente de excessiva crença no poder auto-regulador dos mercados, poderosos indivíduos, instituições financeiras e governos foram consumindo mais do que aquilo que produziam, contraindo mais dívidas para fechar o défice.
Países pobres como Moçambique estão a ressentir-se das consequências de uma crise global que não é da sua autoria. Mas este momento deve ser aproveitado para redesenhar toda a estratégia de desenvolvimento baseada em soluções orgânicas apoiadas por um processo de inclusão social e de aproveitamento de todas as capacidades humanas e de recursos existentes no país.
Isto não pode ser interpretado como uma chamada ao isolamento ou à necessidade de formulação de políticas de desenvolvimento baseadas em emoções de novas parcerias que poderão resultar em mais do mesmo.
A descoberta e exploração de novos recursos deve ser aproveitada como uma oportunidade para expandir as oportunidades de todos os moçambicanos num processo de democracia económica que deverá evitar que estes recursos sejam vistos como um demónio que veio para criar mais problemas.
Mas o futuro de Moçambique será melhor determinado não pelos rendimentos que tais recursos trazem, mas sim pela capacidade deste país encontrar as melhores políticas para o aproveitamento de todo o seu grande potencial agrícola.
Enquanto esforços têm sido feitos para que o desenvolvimento rural seja a base da prosperidade de Moçambique, os seus resultados têm sido quase negligentes. Hoje, há mais pessoas a viverem nos centros urbanos de Moçambique do que nas zonas rurais. A maioria destas pessoas vive em condições precárias e numa situação de ociosidade, mas nunca voltarão ao campo enquanto acreditarem que com toda a sua precariedade, a vida no meio urbano continua a ser melhor do que aquela que deixaram atrás no campo.
SAVANA – 25.11.2011