Parque Nacional das Quirimbas, em Cabo Delgado
Pelo menos um helicóptero, cuja origem se desconhece, tem sido visto a sobrevoar áreas onde estão a ser confirmadas práticas de caça furtiva no Parque Nacional das Quirimbas, em Cabo Delgado, virada para a extracção de troféus de elefantes abatidos. O administrador daquele parque, José Dias denunciou o facto na sexta-feira, na vila sede do distrito do Ibo, considerando de assustadoras as investidas dos caçadores ilegais, pondo em perigo a preservação da espécie procurada.
José Dias garantiu que os troféus são transportados por um helicóptero, depois do abate indiscriminado de elefantes, o que permite escaparem do controlo das autoridades, incluindo o fisco.
Dias garantiu estar em curso uma acção para a protecção de recursos naturais em Cabo Delgado, consistindo na identificação da proveniência dos actuais caçadores furtivos que usam métodos de extermínio dos animais bravios dentro do Parque Nacional das Quirimbas.
Dias fez estas denúncias numa comunicação a propósito das experiências sobre os conflitos resultantes do processo de conservação de recursos naturais no Parque Nacional das Quirimbas.
Ele falava no âmbito de um seminário de avaliação do impacto do projecto de desenvolvimento comunitário e gestão sustentável dos recursos marinhos no distrito do Ibo, em implementação desde o ano de 2004, sob auspícios da AMA – Associação do Meio Ambiente de Cabo Delgado, com suporte financeiro e técnico da WWF ( World Wide Fund for Nature), o mesmo que Fundo Mundial para a Vida Selvagem e Natureza.
O administrador do Parque Nacional das Quirimbas não quantificou o número de elefantes abatidos pelos caçadores furtivo, mas acrescentou que o problema veio juntar-se ao incremento das incursões de furtivos locais.
Queixou-se do facto de os caçadores ilegais locais serem soltos pelas autoridades da justiça, depois de serem neutralizados pelos fiscais daquela área de conservação de recursos naturais.
Ocorre igualmente caça furtiva de subsistência feita pelo sector familiar em todo o parque, através do uso de arcos e flechas, armadilhas e laços. Este tem estado virada para o abate de porcos do mato e pequenos antílopes.
Grosso modo, disse José Dias, a preocupação reside na caça furtiva exercida para fins comerciais e feita através de uso de armas de fogo contra mamíferos de grande porte, grandes antílopes, búfalos e elefantes, para comercialização da carne e troféus.
Segundo dados divulgados no encontro do Ibo, que reuniu representantes dos governos dos seis distritos que integram o Parque Nacional das Quirimbas, realizado na sexta-feira passada, a acção dos caçadores furtivos traz consequências na conservação da biodiversidade e integridade do ecossistema.
Tal actividade concorre para a redução de espécies faunísticas, degradação de ecossistemas e consequente interferência na cadeia alimentar das espécies ameaçadas, elevação dos riscos de extinção de espécies, degradação e fragmentação de habitats e mudanças climáticas locais.
No âmbito económico, segundo o administrador José Dias, a pilhagem de recursos naturais no Parque Nacional das Quirimbas reduz a possibilidade de geração de receitas provenientes da exploração do valor económico da biodiversidade, incluindo o turismo cinegético, representando perda de benefícios fiscais pela sua exploração e de rendimentos para as comunidades locais.
O Parque Nacional das Quirimbas foi estabelecido em Junho de 2006, cobrindo uma área de 7.500 quilómetros quadrados, seis mil quilómetros dos quais da parte terrestre e 1.500 da área marinha, incluindo 11 das 28 ilhas do arquipélago das Quirimbas.
Essa zona de conservação abrange os distritos de Ancuabe, Ibo, Macomia, Meluco, Pemba-Metuge e Quissanga, onde vivem igualmente cerca de 160 mil pessoas, o que torna o Parque Nacional das Quirimbas um campo de disputa entre o homem e animais bravios.
Outro problema de difícil solução diz respeito à harmonização da realidade de sobrevivência e de desenvolvimento dessa numerosa população, uma vez que as pessoas desenvolvem várias actividades que ameaçam a conservação dos recursos naturais dentro do Parque Nacional das Quirimbas e na sua zona tampão, facto que origina vários conflitos.
Como forma de mitigação desses conflitos, foram criadas brigadas móveis para fiscalização, sensibilização das comunidades, para reduzir acções nocivas a conservação de recursos naturais, e contínua capacitação dos 54 fiscais do parque e 100 comunitários.
DIÁRIO DE Moçambique – 23.11.2011