A talhe de foice
Por Machado da Graça
Por razões que não interessa relatar só agora terminei a leitura do excelente livro O Fim do Império e o Nascimento da Nação, de Fernando Amado Couto.
Achei que devia aqui falar um pouco sobre ele para criar aos que ainda o não leram a curiosidade por o fazerem.
O livro trata sobre um período extremamente importante da história do nosso país: o período entre o fim da guerra de libertação e a Independência. 1974/1975.
Com uma primeira parte essencialmente centrada na cidade da Beira, onde creio que o autor vivia nessa época e onde se deram acontecimentos decisivos, a obra deixa, depois, de estar geograficamente centrada.
E, pelas suas páginas, vão passando os principais personagens daqueles tempos, desde o Presidente Kenneth Kaunda, da Zâmbia, até ao aventureiro Jorge Jardim; desde o intelectual e assessor de Samora, Aquino de Bragança, ao dirigente do Movimento das Forças Armadas português, o coronel Melo Antunes, desde o dirigente da Frelimo, José Óscar Monteiro ao ministro português, Mário Soares. E tantos outros.
Um dos aspectos que torna o livro de leitura obrigatória para quem se interessa pela nossa História recente é a incrível riqueza da documentação consultada. O autor não deixou arquivo por visitar, documento por ler. Até as trocas de telegramas entre o consulado americano em Lourenço Marques e o governo dos Estados Unidos surgem com bastante frequência, ao longo da obra, numa altura em que não se falava em wikileaks nem outras coisas do género.
A posição de alguns elementos da Igreja Católica no desenrolar dos acontecimentos e as consequências que daí vieram é outro dos temas de maior interesse. D. Sebastião Soares de Resende um dos importantes fazedores da História daquele fim de império, e que connosco continuou depois de a Nação estar nascida.
Pelas páginas passa também, com alguma frequência, a figura enigmática de Joana Simeão, sempre activa, sempre em conluios e uniões de partidos, numa tentativa, sem sucesso, de criar uma alternativa viável à Frelimo.
Do outro lado da barricada as figuras dos Democratas de Moçambique e dos estudantes universitários, que procuraram favorecer as posições do movimento de libertação, ajudando ao seu conhecimento pela população das cidades.
A rendição dos militares portugueses do aquartelamento de Omar e os acontecimentos de 7 de Setembro, em Lourenço Marques, dão movimento à narrativa.
Trata-se, portanto de um livro que é um tijolo sólido no muro crescente do conhecimento sobre a nossa História. Um livro que nos fala, em pormenor, de muita coisa que não sabíamos, ou que sabíamos muito superficialmemnte.
Um agradecimento, portanto, bem merecido ao Fernando Amado Couto.
SAVANA – 25.11.2011