Por Andreia Seguro Sanches
Moçambique e Portugal fortalecem relações bilaterais
Com um terreno e uma exploração propícia ao desenvolvimento da indústria de biocombustíveis, Moçambique pode tornar-se um importante playerneste sector a nível internacional. O país conta com a ajuda da Galp Energia que já tem em marcha um programa tecnológico de investigação e desenvolvimento de biocombustíveis de segunda geração.
A flutuação dos preços de petróleo no mercado internacional, a necessidade de assegurar uma alternativa viável à utilização dos combustíveis fósseis (recursos naturais não renováveis), a redução de emissões de gases de estufa para proteger o ambiente e a mitigação das preocupações com a segurança energética têm feito com que, nos últimos anos, os governantes mundiais se tenham comprometido com algumas políticas e programas que incentivam ao uso de bio-combustíveis. Por exemplo, em 2007, a União Europeia aprovou uma directiva que determina a utilização de pelo menos 10% de energias renováveis, incluindo biocombustíveis, no sector dos transportes até 2020, e 20% na matriz energética total. Em 2009, Portugal e Espanha adoptaram uma medida que visa a obrigatoriedade de incorporação de biocombustíveis nos combustíveis rodoviários, no espaço de dois anos.
Galp Energia com projecto arrojado
Um desses investimentos está a ser realizado pela Galp Energia, uma das empresas portuguesas que exploram os bio-combustíveis em Moçambique, através da sua participada Moçamgalp, uma empresa moçambicana detida 50% pela Galp, 49% pela Ecomoz e 1% pela Petromoc.Na verdade, há muito que a Galp Energia vem piscando o olho ao mercado moçambicano. Por isso não é de estranhar que, nos últimos três anos, este operador integrado de petróleo e gás português tenha investido alguns milhões na exploração e produção de biocombustíveis neste país, propício e acolhedor ao desenvolvimento deste tipo de indústria. Trata-se de um projecto inovador, competitivo e sustentável que visa a produção de biodiesel de 2ª geração a partir de óleo vegetal da jatropha, uma planta que pertence à família da Eurphorbiacea, que não é cultivada na Europa e que tem um rápido crescimento, podendo atingir até seis metros de altura.O projecto envolve várias partes, cabendo à Galp Energia o financiamento e o desenvolvimento da vertente agrícola, enquanto que à Petromoc e à Ecomoz pertence as acções de licenciamento do projecto, a aquisição do direito e uso de terras e as questões jurídicas e legais para a sua implementação. O projecto, que terá um impacto ambiental e socio-económico positivo em Moçambique, está a ser posto em prática nas províncias de Manica e Zambézia, num investimento inicial avaliado em mais de 19 milhões de USD.
A Galp começou por fazer o levantamento topográfico das regiões ideais para a plantação desta planta e avançou para o estudo do seu impacto ambiental. No total, já foram plantadas cerca de 960 mil plantas jatropha em duas áreas piloto que abrangem 750 ha. Em preparação estão mais 2 mil ha em Mocuba, na província de Zambézia, num espaço total de 10 mil hectares para cultivar. No entanto, a Galp pretende até 2019, superar uma área plantada de 50 mil ha, correspondentes a uma produção de óleo de 50 mil toneladas. Uma tarefa que não se avizinha fácil tendo em conta que em Moçambique a terra é propriedade do Estado e não pode ser comprada ou vendida, portanto tem de ser adquirida mediante um acordo.
Segundo divulgou a empresa portuguesa em comunicado, o projecto de investigação será cofinanciado pela Fundo de Apoio à inovação/ADENE, em cerca de 50% dos investimentos elegíveis, que ascendem a 2 milhões de euros. O remanescente do investimento será suportado pela Galp Energia.A Universidade de Évora, a Vicort, a Domingos Reynolds de Sousa, o Instituto Superior de Agronomia e o Instituto Politécnico de Portalegre (IPP) são parceiros da Galp Energia neste projecto, estando os trabalhos divididos em cinco etapas: o melhoramento de plantas e técnicas de produção, a colheita mecânica, a extracção do óleo, a valorização de subprodutos e o biodiesel. “É um projecto exemplar de transferência de tecnologia e muito interessante para o IPP, que já desenvolveu vários projectos na área da bioenergia”, frisou à agência Lusa Joaquim Mourato, presidente daquele instituto politécnico, que contribui assim para que a Galp atinja os objectivos traçados pela União Europeia, em cada litro de combustível pelo menos 10 por cento de origem vegetal. A comunidade académica moçambicana também é parceira do esforço de investigação e desenvolvimento que está a ser feito no sentido de tornar este projecto uma referência a nível internacional, tanto a nível do modelo económico, como no que diz respeito à sua sustentabilidade social e ambiental.
O PAÍS – 28.11.2011