Opinião
Edwin Hounnou - [email protected]
A cidade do Chimoio, outrora símbolo de higiene, salubridade e beleza urbana, hoje, está um caos. Já aqui o dissemos e insistimos, porque cada vez que por lá passamos constatamos que as coisas tendem a piorar.
A degradação a que o governo deixou chegar a antiga vila de Pery de Linde ou Vila Pery, é chocante.
Quem a viu – e falamos até depois da independência nacional – não acredita facilmente que pessoas que não se calam com o discurso da auto-estima tenham permitido que a que já foi a bela cidade do planalto tenha chegado ao estado a que chegou. Lembrarmo-nos dos que passam o tempo a organizar eventos para cantarem vitórias retumbantes contra a pobreza revolta, quando estas imagens reais estão à frente dos nossos olhos.
A que já foi considerada a cidade mais limpa e exemplar do País, de uma urbe próspera que era na década de 70, nos dias que correm, é um caos.
Chimoio é uma cidade destruída.
No Chimoio, pulula gente como formigas. Gente sem nenhuma ocupação produtiva, gira de um lado para outro, a vender roupas, sapatos, pastas, etc., de segunda mão, trazidos do chamado mundo do consumo para ajudar os ‘povos pobres’. Acaba vestindo os pobres sem trabalho, num ciclo chocante de reprodução da miséria.
Assim, como em outras cidades e vila do País, se vai escondendo a pobreza…
E atrás disso veio a destruição da produção de fibras, o desaparecimento da indústria, o desemprego, e toda a série de desgraças inerentes.
A agro-indústria desapareceu deste planalto. A agricultura, o seu lado mais forte, foi aniquilada pela corrupção de dirigentes que autorizaram que falsos investidores derrubassem todas as fruteiras que abasteciam Chimoio e as cidades da Beira, Tete, Quelimane, e não só, de laranjas, tangerinas, abacates, etc., alegando que no seu lugar iriam produzir tabaco.
Apesar das repetidas chamadas de atenção para se parar com decisões que iriam empurrar a província de Manica para o beco da fome, a corrupção assaltou a quem competia proibir o assassinato das fruteiras.
Destruíram o planalto.
Hoje, comer uma laranja/tangerina não está ao alcance de qualquer bolso.
Com 10 meticais se podia comprar uma dúzia de laranjas da terra, mas agora, com essa importância adquire-se só uma.
E mais revoltante: importada da África do Sul.
Os responsáveis por este crime ainda não foram chamados à razão. Seria normal perante a realidade hoje que os obreiros da desgraça fossem penalizados, mas nada disso aconteceu.
O governo permite tudo. Reinam os forasteiros.
Compram tudo e uns poucos e não fica nada.
O governo revela-se sem nenhum amor a Chimoio.
Estão lá uns e outros forasteiros a encherem-se de dinheiro da corrupção para irem satisfazer os seus desejos para outras paragens. Em Chimoio só deixam progredir o caos.
Quem manda veio transferido de outras paragens e aqui foi colocado em postos de comando. Estão aqui em missão de serviço a destruir pura e simplesmente a terra deixando o caos para quem aqui nasce e morre.
Um então governador, era um sindicalista que se vendeu ao governo, encheu-se de dinheiro e abalou. Com ele começou a destruição deste planalto de onde não se vê o Índico.
De sindicalista vendeu-se ao regime e foi andando usurpando terras por onde andou. Foi elevado ao posto de ministro, de onde, mais tarde, veio a cair por indecente e má figura.
Um director provincial da Agricultura foi “entronado” num grande projecto.
Foi a prenda. É assim que os ‘chefes’ se agraciam uns aos outros. De cima abaixo. A corrupção e a incompetência são agraciadas em vez de punidas. Até os juízes e outros magistrados são agraciados com terras… Outras vezes são usadas as suas esposas com negócios chorudos elogiados em primeiras páginas de certos jornais… e assim vão todos curtindo uma boa… Chimoio acaba por ser uma gota no oceano.
Fazer de certas regiões do País desertos é uma agenda escondida de certos figurões.
Pelos efeitos práticos as gentes das terras arruinadas começam a entender o esquema da grande burla.
A fome e a pobreza por que o País passa convém a algumas pessoas do governo.
Retiram disso proveitos ilícitos incomensuráveis.
Ao abastecerem o que não se produz deixam todos a depender das tais elites…
Por exemplo, a TEXTÁFRICA que empregava, entre directos, indirectos e terceiros, cerca de oito mil trabalhadores, foi forçada a cair numa falência fraudulenta e as suas maquinarias, ainda novas, reexportadas.
Algures, agora, produzem capulanas.
Importadas as capulanas, os governantes brindam com elas os empurrados para a desgraça. Com elas compram consciências ao desbarato em comícios populares. Compram votos com as capulanas importadas.
Criam a dificuldade para alienar pessoas e manterem-se no poder.
Hoje da Textáfrica ficaram as ruínas. Autêntico “elefante branco”. Os seus compartimentos foram divididos em pequenas carpintarias de produção de caixões e fabriquetas de achar de manga e piripiri.
A EMMA foi, também, levada a fechar as portas, por fraude.
As machambas do algodão, que se espalhavam pelas províncias de Manica, Tete e Zambézia, deixaram de existir.
As nossas autoridades perante este cenário que não podia ser pior, esforçam-se por demonstrar que é possível termos um país desenvolvido com base, apenas, em discursos políticos, festins, reuniões alargadas e passeios pelos distritos e localidades.
Depois admiram-se que no último relatório (2011) das Nações Unidas sobre o desenvolvimento humano apareça o nosso Moçambique entre 187 países analisados como o quarto pior do Mundo. Discutem desavergonhadamente para que as Nações Unidas corrijam o erro. Não têm a mínima vergonha!
Andam tão ‘bêbados’ a enganar todo um povo que se alguma vez as Nações Unidas corrigissem o erro passaríamos a ser o sexto país mais pobre do Mundo.
De miséria para miséria, é o que anda a discutir quem está no nosso governo de destruidores como os que levaram Chimoio a ser a desgraça que é hoje.
Perante caos atrás de caos que se vai encontrando por Moçambique afora, onde as coisas só não são piores porque os privados e a ajuda dos países doadores vai ajudando a lavar a imagem, está à vista a obra dos sucessivos governos que temos tido. Chimoio é apenas um exemplo do que já foi uma cidade de progresso transformada no que é hoje por quem sem fraudes eleitorais já estaria há muito na prateleira.
Resta às suas gentes perceber que chegou a hora de meter os pés à parede e acabar com o festim dos incompetentes e incapazes de inverter a tendência para o caos que criaram para no meio da confusão reinarem e enriquecerem à custa da miséria de muitos.
Canal de Moçambique – 24.11.2011