O arcebispo da Beira disse sábado, durante a celebração da eucarestia por ocasião da missa de Natal, que o continente africano precisa de reconciliação. Explicou haver várias razões que o continente esteja dividido. “Há autoridades que governam com base na divisão tribal. Põem as tribos em conflito para poderem dominá-las, por isso, esta África precisa do Natal de Jesus”, realçou Dom Jaime Pedro Gonçalves.
“Nós temos várias circunstâncias em que de facto vivemos estas divisões. Uma vez alguém me disse: sr. arcebispo, é preciso ser artista para viver as diferenças, senão um torna-se racista ou outra coisa semelhante. É preciso saber viver as diferenças, conviver com elas, porque isso é uma arte e uma virtude e o Natal de Jesus vem lembrar-nos esta questão importante da reconciliação. Por isso dizemos que o Natal de Jesus veio a África através da igreja e optou pelo trabalho da reconciliação”, sublinhou o prelado.
Lembrou que “nós (igreja) em Moçambique, de facto temos trabalhado nessa linha de procurar a reconciliação de todos.
Acrescentou que “o Papa João Paulo II assinou connosco a Carta Justiça e Paz na África Austral, o que significa que a igreja programou e trabalhou na reconciliação e, nessa altura, se vos lembrais, tínhamos situações complicadas em Moçambique, Angola, Zimbabwe, África do Sul (por causa do apartheid), na Namíbia, onde a SWAPO lutava pela independência”.
De acordo com Dom Jaime, este trabalho é realizado pela igreja desde o ano de 2009. Justificou que o programa responde às exigências do Natal de Jesus para o mundo. “A reconciliação do Natal vem a África com Jesus Cristo porque, de facto, Deus e o Homem se entenderam, ficaram reconciliados. A igreja quer oferecer aos povos africanos a reconciliação, o entendimento”, disse.
Para o ainda chefe da igreja católica na Beira (está à espera de substituto, depois de reformado), a igreja, que é de facto a família de Deus, vem ao encontro dos povos africanos que têm Deus e a família como fundamento da sua vida, porque “não se pode entender um africano que não tenha Deus. Não se pode, nem culturalmente, nem religiosamente, nem antropologicamente. Os africanos têm no fundo um dado Deus, esta é a realidade africana”, explicou.
Dom Jaime reiterou que “o Natal de Jesus que hoje celebramos é Natal para África, porque Cristo nasceu no meio dos homens, se encarnou no meio dos homens e o Natal vem ao encontro de África, até porque Jesus quando nasceu e viveu neste mundo chegou a dois continentes. Esteve na Ásia, em Belém, Galileia, Nazaré, onde viveu e cresceu, e também Jerusalém. O segundo continente onde esteve foi África. Esteve no Egipto, para onde fugiu de Herodes, na companhia dos pais, José e Maria”, referiu.
Refira-se que a missa de Natal, também conhecida por missa do galo, foi presenciada por centenas de fiéis da igreja católica que lotaram o recinto anexo à Sé Catedral da Beira.
DIÁRIO DE Moçambique – 26.12.2011