SÃO cerca de dois hectares, que pertenciam a uns colonos de quem os seus avós herdaram, onde jazem cafezeiros antigos e novos, que tempos depois voltaram a produzir o famoso café do Ibo, sem igual em toda a extensão planetária, agora com Abdul Satar, como a face mais visível desta cultura cuja identidade, por si só, é a ilha do Ibo.
Há 12 anos Abdul Satar Abubacar, que esteve radicado em Nampula, regressa ao Ibo e desata com a reposição da plantação, pondo novos cafezeiros ao lado dos velhos, ao mesmo tempo que o produto ia sendo fornecido a determinadas pessoas e estabelecimentos hoteleiros, tanto em Pemba como em Maputo, a pedido de quem já sabia da existência e peculiaridade do café do Ibo.
“Normalmente eram encomendas para naturais do Ibo nesses locais e a indústria hoteleira”, explica Abdul Satar, que viu reforçada a sua actividade no ano passado, quando o movimento mundial “Slow food” que procura a preservação das tradições culinárias locais, consegue repor o café do Ibo, no lugar que bem lhe merece, ao se comemorar, o dia da Terra-mãe, naquela parcela insular de Moçambique, tendo como tema aquela cultura.
Luís Augusto, um dos propulsores da iniciativa, ao lado do Parque Nacional das Quirimbas, traz-nos a necessidade que roda o mundo, de travar o ritmo frenético da vida actual, caracterizado pelo desaparecimento de tradições culinárias locais, o interesse cada vez menos das pessoas pela comida, pela origem e pelo sabor dos alimentos.
Dir-se-ia que, através destas entidades, chegou a “Slow Food”, que representa uma rede de 100.000 associados, segundo o “Notícias” soube, procedentes de 150 países, mas unidos por um conceito de alimentos de qualidade baseado em três pré-requisitos básicos e interconectados, designadamente, bons (apetitosos, saborosos), limpos (produzidos sem exigir demais aos recursos da terra ou do mar e sem prejudicar a saúde humana) e justos (que respeitam a justiça social).
Este movimento abraçou o café do Ibo, a primeira marca para se fazer ao mundo, razão porque em 2010, o dia da terra-mãe foi comemorado exactamente na sede do arquipélago das Quirimbas, resgatando deste modo aquela cultura que, entretanto, era somente praticada com alguma persistência por Abdul Satar.
Hoje, Abdul Satar diz que tem esperança em que o cultivo do café do Ibo se desenvolva e, conforme promessas do movimento “Slow Food”, provavelmente haja mercado dirigido e a produção, por ai possa crescer.
A plantação de Abdul Satar tem neste momento 1.500 plantas e a sua produção máxima é de 100 quilos de café ao ano, geralmente entre 30 a 70 quilos, vendido ao preço de 150 a 200,00 MT/quilograma. O processamento é inteiramente manual.
Entretanto, já há sinais de contágio, pois de acordo com o administrador do Ibo, Fernando Samo, há na Ilha 200 mudas de cafezeiros na sede distrital, ligadas à escola secundária local e nos outros pontos do distrito contam-se 1.500, para além da cifra igual, pertencente a Abdul Satar.
- PEDRO NACUO