BERNARDO Timana, acusado pelo Ministério Público de ser o principal responsável pelo assassinato de Jorge Microsse, antigo director da Cadeia Central da Machava, no Maputo, negou ontem, perante a juíza Maria Manuela de Oliveira, do Tribunal Judicial da Matola, qualquer envolvimento no crime.
Entretanto, a juíza ordenou a captura do seu filho e co-réu no processo, Ernesto Bernardo Timana, conhecido no mundo do crime por “Bush”, por ter faltado à sessão inaugural do julgamento, sem dar qualquer satisfação, mesmo depois de devidamente notificado. Caso não justifique a sua ausência na audiência, por escrito, nos próximos cinco dias, será recolhido aos calabouços.
Interrogado no primeiro dos três dias agendados pelo tribunal para julgar o caso, o empresário Bernardo Timana negou categoricamente ser o mandante do crime que ceifou a vida do oficial superior da polícia, uma ocorrência de 21 de Outubro de 2005, na zona de Massaca, distrito de Boane, província do Maputo.
Este processo contava com três réus mas, com a morte de Custódio Cláudio Manuel, em vida e no mundo do crime tratado por Todinho, respondem pelo crime Bernardo e Ernesto Timana, pai e filho.
Bernardo Timana é apontado pelo Ministério Público como sendo o mandante, enquanto que o seu filho consta nos autos como um dos executores. A acusação aponta que Bernardo Timana, que pouco antes da morte de Microsse cumpria uma pena no estabelecimento gerido pelo finado, mostrava-se revoltado contra o falecido alegadamente porque este terá inviabilizado a sua soltura da cadeia. Na verdade, segundo a acusação, porque Timana estava envolvido noutros crimes, quando chegou a vez de ser solto, o antigo director da Cadeia Central, Jorge Microsse, travou a soltura e mandou averiguar se não haveria outra pena por cumprir, facto que levantou ira em Bernardo Timana que sistematicamente ameaçava de morte o malogrado.
Assim, como forma de se vingar, segundo referem os autos, Bernardo Timana contratou os serviços de Todinho, que saiu da Cadeia Central dez dias antes do assassinato do Microsse. Bernardo Timana, de acordo com a acusação, foi quem pagou a caução de 1.800 meticais de Todinho de modo que este saísse e executasse o plano de assassinar Microsse. O réu Bernardo Timana reconhece que pagou o valor em causa para que Todinho saísse em liberdade, mas nega que o gesto tenha a ver com a necessidade deste assassinar Jorge Microsse, mas sim fê-lo, segundo ele, porque é amigo do pai do falecido Todinho.
O Ministério Público aponta que, nalgumas vezes, Microsse chegou a denunciar em carta dirigida aos ministérios da Justiça e do Interior, de estar a sofrer ameaças de morte por parte de Bernardo Timana, mas que as suas denúncias nunca foram tidas em conta.
Consta ainda dos autos que Jorge Microsse perdeu a vida ao ser baleado com vários tiros quando se fazia acompanhar por duas amigas. Ao imobilizar a viatura (em Massaca) para uma das acompanhantes descer, o mesmo foi surpreendido por uma viatura que parou às pressas e do seu interior desceram dois indivíduos encapuçados. Um tratou de bloquear a porta do condutor e outro a do acompanhante, tendo na circunstância, um deles atirado à queima-roupa, contra Jorge Microsse que perdeu a vida no local.
As próximas sessões estão agendadas para os dias 21 e 22 de Dezembro corrente onde, para além dos réus, serão ouvidos declarantes arrolados pelo Ministério Público e defesa. Aliás, quando fazia referência à escala das sessões de julgamento, a juíza Maria Oliveira deu a conhecer que nos últimos tempos o processo perdeu dois declarantes por morte e um, neste caso o irmão do finado, não irá comparecer em sede de audiência por estar na Zambézia em missão de serviço.