AS instituições do Ensino Superior devem avançar para uma mudança radical e imediata dos seus currículos que se apresentam desajustados do contexto actual, razão pela qual tem formado licenciados que não são aceites no mercado de emprego, por falta de capacidade, segundo defendeu ontem, em Maputo, Orlando Quilambo, Reitor da Universidade Eduardo Mondlane e presidente da Academia de Ciências de Moçambique.
Falando à margem da conferência sobre reflexão do Ensino Superior em Moçambique, Quilambo explicou que a formação actual em muitas instituições do Ensino Superior não responde aos anseios dos empregadores, razão pela qual a lista de licenciados desempregados está a aumentar no país, porque os mesmos são considerados inaptos para determinadas tarefas específicas. Citou, por exemplo, o facto de muitas instituições insistirem em ministrar cursos iniciados na década 80, facto que não se enquadra aos novos desafios que o país enfrenta.
“De lá a esta parte pouco foi feito para mudar e melhorar os currículos. As instituições do Ensino Superior devem entrar para um momento de introspecção, tendo como prioridade a qualidade. A formação deve estar em consonância com os desafios do mercado, bem como virada para uma melhor resposta aos desafios da actualidade. Olhando para o caso dos recursos naturais que têm vindo a ser descobertos nos últimos tempos no nosso país, praticamente que não temos ninguém a formar nessa área. O país mudou e é preciso ter em conta isso, pois estamos com muitos licenciados no desemprego. Urge rever o tipo de formação que se está a ministrar para que os empregadores possam mudar de ideia e aceitar os nossos quadros” – disse Orlando Quilambo.
Ensino Superior em Moçambique constitui tema de fundo da Conferência sobre Reflexão do Ensino Superior no país, tendo envolvido académicos e a sociedade civil, para identificar as formas conducentes à optimização do Ensino Superior dentro do contexto moçambicano.
Eduardo Sitoe, académico e um dos oradores, que apresentou o panorama sobre a situação actual do Ensino Superior, apontou três vocábulos que, segundo ele, ganharam alto-relevo sempre que se fala do Ensino Superior, nomeadamente deterioração, degradação e declínio.
A progressiva apreciação negativa do estado actual do Ensino Superior deriva, segundo Sitoe, de vários factores circunstanciais que caracterizam a sociedade moçambicana de hoje como, por exemplo, o facto de ter um “doutor” na família constituir evidência pública e motivo de auto-estima no seio da sociedade.