Nas últimas duas semanas, o país foi sacudido — mais uma vez — pelas declarações bombásticas e belicistas do presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, de preparação de manifestações que ele pretende venham a paralisar Moçambique de lés a lés. De visita à cidade da Beira, Dhlakama retomou o seu velho discurso de manifestações dos seus membros e simpatizantes, que têm em vista “empurrar da Frelimo do poder”, conforme disse.
Ameaçou inclusivamente paralisar o país, do Rovuma ao Maputo, incluindo a circulação de quaisquer meios de transporte, como terrestres e aéreos.
Trata-se, esta, de mais uma declaração de incitação à violência do líder da Renamo, um discurso que em nossa opinião, apesar de caduco, deve ser tomado em consideração pelas autoridades competentes, conhecida que é a facilidade com que se pode movimentar arruaceiros para provocarem distúrbios e criarem intranquilidade no seio das comunidades.
Mas, concentrando-nos no discurso de Dhlakama, começa a ser sintomático que ele recorra a essa linguagem de violência numa época específica do ano — justamente na altura em que os moçambicanos, imbuídos pelo espírito natalício, preparam em paz e na maior alegria as festas do Natal e Ano Novo.
Dhlakama já fez ameaças dessas em anos anteriores, sempre agendando manifestações para a época de Natal e Ano Novo.
Mesmo considerando que tais manifestações acabam por não se concretizar, é preciso avaliar por que razão o líder da Renamo, que fica meses a fio, durante o ano, retirado no seu casulo em Nampula, sem dizer uma palavra que seja, aparece sempre por alturas da principal quadra festiva moçambicana para proferir ameaças de provocar instabilidade no país.
Certamente que o faz com o objectivo de desestabilizar o país, de criar um clima de medo e insegurança nas pessoas, de levar a que os moçambicanos e os milhares de cidadãos estrangeiros que elegem Moçambique para passar as festas de Natal e Ano Novo, não celebrem condignamente as festas, não se movimentem pelo país fora como desejam, com receio de depois serem apanhados por uma desagradável manifestação.
Essa também é uma forma de guerra! A guerra psicológica tem tanto efeito nocivo nas comunidades quanto a guerra das armas! E Dhlakama sabe disso perfeitamente, razão pela qual opta pelo recurso sistemático e planeado desse discurso belicista em época pré-definida!
Mas o país não pode continuar a ser colocado entre a espada e a parede por um indivíduo que acorda e põe-se por aí a dizer qualquer coisa que julgue que possa contribuir para criar instabilidade no seio dos moçambicanos e estrangeiros que aqui se encontram ou pretendem cá vir e, consequentemente, denegrir a imagem de Moçambique e do seu Governo, que à custa de muito esforço de todos têm vindo a registar progressos rumo ao desenvolvimento que almejamos.
Moçambique vive hoje uma fase de consolidação da democracia que é exemplo para muitas nações do mundo!
E em democracia o poder não se conquista à força das armas nem com ameaças de se incendiar o país, mas através do voto popular! São os cidadãos de uma nação ou de uma autarquia que decidem quem acham que lhes deve governar!
A Renamo, em particular o seu líder, insistem em manter a ideia de conquistar o poder com recurso à força. Os que pensam de forma diferente, dentro desse partido, já estão a bater as asas e a enveredar por formações políticas que mais se identificam com o princípio de conquistar o poder pelo voto popular.
É por isso, por exemplo, que o MDM, constituído, essencialmente, por dissidentes da Renamo, está ali a lutar por conquistar a simpatia do eleitorado, através das possibilidades que um Estado democrático lhe confere.
E um candidato desse partido, ao triunfar nas recentes eleições autárquicas em Quelimane, veio a provar o que estamos a dizer e que Dhlakama faz de conta que ignora: em democracia, o poder conquista-se através do voto popular!
DIÁRIO DE Moçambique – 24.12.2011