Comentário
Salvador Raimundo
É DE Lei que o Presidente da República se dirija, anualmente, aos moçambicanos para os dizer como é que o país está em todas as suas vertentes.
O Presidente Armando Emílio Guebuza esteve, ontem, na Assembleia da República para cumprir essa obrigação, fazendo-o pela sexta vez desde que está na Ponta Vermelha.
Tenho para mim que o Informe de ontem não difere dos anteriores dois, onde o Presidente evitou assumir protagonismo em termos conclusivos sobre o real estado da Nação. Ou seja, Armando Emílio Guebuza não disse, ontem, tal como nas noutras duas ocasiões em que esteve no Parlamento, se o Estado da Nação era bom, razoável ou mau.
Vale lembrar que Armando Guebuza é um político.
Como tal, e nessa qualidade, recorre à política para dizer o que pensa e o que os seus colaboradores directos o aconselham a dizer ou a omitir, desde que em defesa dos interesses do País ou do Partido que sustenta o Governo.
É que o País não está.
O crescimento económico que tem sido noticiado, ainda não é visível no dia-a-dia do moçambicano anónimo, aquele indivíduo que acorda cedo em busca de meios que o levem ao trabalho, a troco de um salário que não cobra, sequer, metade das necessidades.
Do mesmo modo que o tal crescimento económico não se faz sentir, ainda e por tempo indeterminado, para o pacato cidadão das zonas suburbanas e rurais, embora se empenhe na sua actividade laboral, seja ao serviço de outrem, seja a conta própria.
E isso inclue os que residem e trabalham nas zonas urbanas.
O próprio funcionário do Estado não anda contente por este Estado da Nação, embora nos últimos anos esteja a ser contemplado por “ene” incentivos que têm por objectivo, entre outros, evitar o êxodo para o sector privado, enfraquecendo desse modo o funcionalismo público.
A questão dos 7 milhões distribuídos pelos distritos seguindo uma estratégia previamente desenhada pelos gestores da iniciativa, é apontada pelo Presidente Guebuza como uma das práticas para ajudar na queda dos índices de pobreza.
Por isso, Guebuza teima em manter a ideia, contra todos os riscos desde cedo evocados pelos especialistas.
Mas Guebuza vê nos 7 Milhões de Meticais uma oportunidade política para ser aplaudida pelos que se beneficiam do fundo. E isso mesmo tem sido evocado, embora de forma tímida, em campanhas eleitoralistas.
Engraçado é que a pobreza continua a resistir a todas as iniciativas até aqui levadas a cabo, o que sugere um repensar das estratégias.
Nesse repensar, não deve ser excluída a tão propalada produção interna de comida, a ver se deixamos, em definitivo, de depender dos farmeiros sul-africanos.
Uma das formas encontradas é trazer os farmeiros sul-africanos para cá. Mas isso está a ter alguns entraves, porque aqueles têm recebido um carinho especial do lado sul-africano, ao contrário do que tem sido feito por cá.
Lindo foi ouvir de Guebuza a necessidade de se apostar na competitividade em tudo em que nos metemos, designadamente na produção agrícola e extractrativa. Bonito de ouvir, há que ter condições competitivas para que isso seja concretizável.
Para esta casa, o Estado da Nação continua assim-assim.
EXPRESSO – 21.12.2011