O SUBSECRETÁRIO de Estado Adjunto norte-americano para os Assuntos Africanos, Reuben E. Brigety, considera que a parceria entre Moçambique e Estados Unidos da América é muito forte. Reuben Brigety, que falava ontem, no Maputo, numa entrevista que marcou o fim de uma visita de três dias que vinha efectuando ao nosso país, justificou a importância da parceria pelo facto de Moçambique ser um actor estratégico na África Austral.
Reuben E. Brigety afirmou igualmente que os EUA não só têm vontade, como também estão prontos e desejosos em trabalhar com o governo de Moçambique no combate à pirataria marítima no Canal de Moçambique.
Passamos a transcrever a entrevista concedida por Reuben Brigty, que é igualmente responsável pelos Assuntos da África Austral e Segurança Regional no Departamento de Estado dos EUA.
Notícias (Not.) – Os EUA mostram-se preocupados com os atrasos que se têm verificado na implementação dos projectos do Millennium Challenge Account (MCA) em Moçambique. O Governo moçambicano evoca como razão desse atraso a falta de infra-estruturas. Qual é a percepção dos EUA sobre o MCA em Moçambique?
R.E.B. - O MCA é um programa muito importante na política externa dos Estados Unidos. Apenas 20 países beneficiam deste programa, sendo Moçambique um deles. O facto de Moçambique ser beneficiário mostra que há uma relação muito forte entre Moçambique e os Estados Unidos.
Nas minhas discussões recentes com alguns membros do Governo moçambicano, todos foram unânimes em levantar a questão da capacidade interna e humana para a execução do trabalho daquilo que são as suas responsabilidades. Este desafio de capacidade também é o que está por detrás da morosidade na implementação dos programas do MCA, embora este programa, por si mesmo, vise melhorar a capacidade e as próprias infra-estruturas.
Vamos continuar a trabalhar e vamos envolver também os nossos parceiros, mas, acima de tudo, vamos assegurar que este compacto seja executado dentro dos termos em que foi elaborado e aprovado.
Not. – Os Estados Unidos são o maior doador dos programas de HIV/SIDA em Moçambique. Ao mesmo tempo, o governo norte-americano considera que o Executivo moçambicano deve aumentar a porção do seu orçamento para combater a pandemia. Acha que este país tem condições para aumentar esse mesmo orçamento?
R.E.B. – Sim, existem essas condições para que o Governo de Moçambique aumente a proporção do orçamento que é alocado aos programas de HIV/SIDA.
Tive a oportunidade de visitar o Hospital de Mavalane, que é um dos sítios que tem um dos maiores programas de HIV/SIDA e tive algum pessoal moçambicano e com pacientes vivendo com o HIV/SIDA. Mesmo num país como Moçambique, que tenha parcos recursos, é difícil imaginarmos uma ameaça maior ao futuro de Moçambique em relação àquela que é imposta pelo desafio do HIV/SIDA.
Mesmo que o orçamento seja muito pequeno há sempre opções que se podem fazer e nós acreditamos que o Governo de Moçambique deve e pode aumentar a proporção do orçamento que é alocado para esta área do HIV/SIDA em Moçambique.
Como correctamente mencionou, o governo dos Estados Unidos está profundamente comprometido com o financiamento do HIV/SIDA a partir do programa e também para a resposta nacional ao HIV/SIDA em Moçambique.
É nessa esperança, de facto, que o Governo moçambicano deve demonstrar o seu compromisso através do aumento desta proporção de orçamento que é alocado para esta área de combate ao HIV/SIDA.
Not. -Os EUA têm-se mostrado preocupados com o facto de Moçambique ser um corredor de drogas, bem como por ser um país com elevados índices de corrupção. Tendo em conta estes aspectos, como vê o actual estágio das relações entre os dois países?
Reuben E. Brigety (R.E.B)– A parceria entre Moçambique e Estados Unidos da América é muito forte, isso porque Moçambique é um parceiro muito importante para os Estados Unidos e também por ser um actor muito importante dentro da região da África Austral. A razão pela qual temos tido muitas discussões com Moçambique em relação à corrupção e narcotráfico é porque como duas nações amigas que somos temos de revelar pelas coisas com muita franqueza e falamos desses assuntos que preocupam os dois estados, não como disputa, mas como amigos.
Not. – O Corno de África preocupa os EUA. Moçambique é vulnerável à pirataria. Vários refugiados oriundos do Corno de África têm-se albergado no Norte de Moçambique. Como avalia a cooperação com Moçambique neste domínio?
R.E.B. – Na minha posição anterior, já que trabalhei como subsecretário adjunto para Assuntos dos Refugiados no Departamento do Estado, a minha responsabilidade era justamente de lidar com assuntos dos refugiados de quase toda a África.
Durante esse período passei muito tempo no Corno de África, na Somália e Eritreia e também interagi com alguns governos parceiros e passei algum tempo em campos de refugiados.
Estou ciente de que este movimento de refugiados é muito grande, não só como emigrantes económicos, mas também como refugiados.
Então, Moçambique como qualquer outro país tem a responsabilidade de proteger as suas fronteiras, tudo dentro das leis internacionais de migração e também fornecer asilo aos refugiados dentro desses mesmos acordos internacionais.
O governo dos EUA também tem a sua responsabilidade no trabalho com os países da região e também com Moçambique no âmbito do fornecimento de asilo aos refugiados.
Not. – O Canal de Moçambique tem sido alvo de ataques de piratas. Os EUA vão cooperar com o país no combate à pirataria marítima?
R.E.B. - O governo norte-americano não só tem vontade, como também está pronto e desejoso de trabalhar com o Governo de Moçambique no combate à pirataria marítima no Canal de Moçambique.
A pirataria é um desafio multinacional e por isso exige uma resposta multinacional.
Estamos felizes por saber que Moçambique assinou um acordo tripartido com a Tanzânia e África do Sul para combater a pirataria. Estamos ansiosos por saber mais detalhes em relação a este acordo tripartido que é para também sabermos de que forma é que o governo americano pode ajudar nesse combate.
Not. – Qual é o estágio do diálogo com a SADC sobre a AFRICOM?
R.E.B. – A AFRICOM foi criada como uma forma de dar à África a mesma proporção de atenção que é dada pelos Estados Unidos da América a outras regiões. Dentro da política de defesa americana, antes da AFRICOM, existiam três comandos que eram o Comando Central, o Comando Europeu e o Comando Pacífico e nenhum deles olhava para África de uma forma tão específica como a AFRICOM o faz.
Com a criação da AFRICOM, como Governo americano vimos como um instrumento crucial com o qual se pode trabalhar em todo o continente africano em questões como segurança e protecção.
Para além das minhas responsabilidades para com a África Austral, também sou responsável pelas questões de segurança a nível da África Subsahariana. Portanto, vimos que é muito importante para a questão da protecção e segurança e por isso vimos que a África é um parceiro muito importante que nos possa ajudar nesse sentido.
Not. Qual tem sido a reacção da SADC, em particular, em relação a este desejo norte-americano?
.R.E.B. – Não tivemos discussões directas com a SADC como um todo, mas tivemos conversas com países individualmente.
Nas minhas novas responsabilidades na área de segurança, é meu desejo ter conversas mais abertas com os países da SADC para saber de que forma é que poderemos estabelecer a paz e a estabilidade na região e também de que forma é que os países da SADC podem ajudar a promover a paz e segurança noutras regiões de África.
Quem é Reuben E. Brigety II
O Dr. Reuben E. Brigety, II foi nomeado Subsecretário de Estado Adjunto no Gabinete para os Assuntos Africanos no dia 14 de Novembro de 2011, com responsabilidade pelos Assuntos da África Austral e Segurança Regional.
- PAULO DA CONCEIÇÃO