MOHAMBE, Chibuto e Gaza pararam literalmente na manhã de calor tórrido do último sábado para homenagear o empresário Guilherme Capela, co-fundador da empresa Capelas Mohambe, com mais de um século de existência no nosso país. Partiu para o outro mundo aquele que já é considerado um verdadeiro embondeiro, que o país perdeu em terras lusas, na fatídica manhã 7 de Outubro deste ano.
O testemunho passado em sua honra, em Mohambe, veio de pessoas de todos os estratos sociais e resumiu-se àquilo que foi a sua forte personalidade de homem justo, bem-disposto e pronto para ajudar os mais necessitados.
Depoimentos oriundos de camponeses pobres, não só da região Mohambe, mas de outros pontos de Gaza, como é o caso de várias zonas agrícolas de Chókwè, nomeadamente Marranbadjane, recordaram com alguma nostalgia os momentos difíceis decorrentes de cheias e secas cíclicas que tiveram em Guilherme Capela uma mão amiga de apoio a esses produtores através da disponibilização de sementes, alimentos, e outros insumos agrícolas para fazer face a essas tragédias.
Foi igualmente aquele cidadão que mandou construir, em Mohambe, uma escola primária, inicialmente concebida para, em primeira estância, servir aos trabalhadores da companhia Capelas Mohambe e a comunidade em geral vivendo na sua periferia, donde partiram quadros que nalguns casos servem ao país, ao mais alto nível.
Durante a cerimónia, que contou com a presença de mais 500 pessoas, Olinda Langa, administradora do distrito de Chibuto, falando na ocasião, em nome do Governo, destacou o facto de Guilherme Capela ter dedicado mais de sete décadas à melhoria das condições de vida das comunidades locais, particularmente das camadas mais desfavorecidas.
Segundo ela, o grande “império” com mais de um século, construído com a contribuição do malogrado, deve ser honrado pelos filhos, dando continuidade à sua obra em prol da melhoria das condições de vida das gerações vindouras.
“Os esforços empreendidos por Guilherme Capela em vida, nas áreas da agricultura, agro- processamento, transportes e mesmo nas comunicações, são um legado que deve e merece ser continuado com a mesma dedicação e entrega abnegadas ao trabalho que caracterizaram a vida de Guilherme Capela. O Governo irá prosseguir com o seu papel de facilitador, tendo em vista proporcionar a esta companhia todas as condições necessárias para que preste seu contributo no desenvolvimento sócio-económico de Mohambe, de Chibuto e de Gaza, em geral”, disse Olinda Langa.
Natural da cidade de Aveiro, em Portugal, Guilherme Capela, nasceu há 88 anos, tendo chegado ao nosso país com a tenra idade de 15 anos de idade e de simples auxiliar de balcão. Contando com a contribuição de familiares, foi pioneiro na construção de uma mega empresa, actualmente com mais de três mil cabeças de gado, actividade actualmente tida como sendo a nuclear da empresa, abarcando ainda as áreas da agricultura, comércio, entre outras.
Segundo o testemunho de Nelo Capela, filho e gestor da empresa, um dos momentos de maior amargura vividos pelo seu pai, ao longo destas sete décadas no país, foi o roubo de centenas de cabeças de gado bovino, ocorrido durante o conflito armado dos 16 anos, terminado em 1992, com o Acordo Geral de Paz rubricado em Roma.
“Foi um momento de muito desânimo assistir de forma impotente à destruição de um património fruto de muito trabalho, sacrifício e esta situação contribuiu, em grande medida, para a contínua degradação do estado de saúde do meu pai”, disse na ocasião, Nelo Capela, prenhe de emoção e sem capacidade de conter lágrimas.
- VIRGÍLIO BAMBO