Manuel de Araújo, 40 anos, o futuro presidente do município de Quelimane, o quarto maior de Moçambique, terá explorado com sucesso o complexo do "miúdo" que se atreveu desafiar o "golias" FRELIMO nas intercalares da quarta-feira.
Números apurados pelos canais públicos RM e TVM e pelo privado STV atribuem uma vitória confortável a Manuel de Araújo, do MDM, terceiro maior partido da oposição moçambicana, na eleição para a presidência de Quelimane, centro de Moçambique, e à FRELIMO, partido no poder, em Pemba e Cuamba, norte.
Quando a FRELIMO, no poder em Moçambique há mais de 36 anos, enviou da capital do país para Quelimane quadros importantes, para reforçar a campanha do "sonolento" Lourenço Abubacar, candidato do partido, Manuel de Araújo usou essa estratégia como prova de que "a FRELIMO de Maputo quer mandar em Quelimane e tem medo do miúdo Araújo".
"Sabem quem está aqui? Está aqui Verónica Macamo [presidente da Assembleia da República], Manuel Tomé [Comissão Política da FRELIMO] e Aiuba Cuereneia [ministro da Planificação e Desenvolvimento], todos por causa deste 'miúdo'", disse Manuel de Araújo, apontando para si, numa das ações de campanha.
Insistindo que a presença de "pesos pesados" da FRELIMO ao lado do seu candidato a presidente de Quelimane era prova de falta de confiança no candidato, Manuel de Araújo, um ex-deputado da RENAMO, principal partido da oposição, exigiu que o partido no poder "deixasse Lourenço Abubacar" falar.
"Não o tratem como marionete. Já tinham feito isso com Pio Matos", afirmou, numa rádio católica local, aludindo ao facto de as intercalares terem resultado da pressão da FRELIMO para que Pio Matos renunciasse à presidência de Quelimane por alegado mau desempenho.
Creditado por vários analistas como "dono da oratória", Manuel de Araújo, detentor de uma pós-graduação pela Universidade de Londres, agitou durante a campanha o espetro de um banho de sangue, se a FRELIMO tentasse "roubar" as eleições.
"Não balcanizemos Quelimane, queremos a paz, mas estamos preparados para a guerra", ameaçou, em mais um banho de multidão, depois de a sua caravana ter sido impedida de prosseguir uma ação de campanha numa rua fronteira do comando da polícia em Quelimane.
Para contrariar as críticas de ser um académico elitista, que passa o tempo em Maputo, em pesquisas e em universidades no estrangeiro, Manuel de Araújo comunicou com o eleitorado na língua nativa de Quelimane, chuabo, tentando marcar a diferença com o seu adversário da FRELIMO, natural de um distrito costeiro da Zambézia, Pebane.
Andou de bicicleta, o "táxi" mais usado na cidade, para contrastar com os "todo-o-terreno" luxuosos que transportavam a campanha da FRELIMO, comeu bolinhos vendidos em bancas a céu aberto e apresentou-se sempre com a camisa azul garrida.
Aos ataques da FRELIMO de que não era idóneo "por não ter família", devido à sua condição de solteiro, numa sociedade em que ser político casado confere respeitabilidade, Manuel de Araújo respondeu com uma aparição pública ao lado da mãe, uma professora primária, e da filha.
PMA
Lusa – 08.12.2011