REFLEXÃO de Adelino Buque
A vitória de Manuel de Araújo, na cidade de Quelimane, nas intercalares de 7 de Dezembro, não sofre qualquer contestação. Aliás, a CNE proclamou os resultados, dando vitória expressiva ao senhor Manuel de Araújo. O candidato vencido expressou publicamente os parabéns ao vencedor e mostrou-se disponível para com ele colaborar. Nada mais certo, num processo eleitoral que se pretende civilizado.
Aproveito a deixa para felicitar Manuel de Araújo pela vitória. Parabéns, caríssimo!
Se a vitória do candidato do MDM não sofre qualquer contestação, já não compreendo quando se fala de libertação de Quelimane. Isto foi capa de um semanário de referência e de forma recorrente se tem dito e escrito que, finalmente, Quelimane se libertou.
A minha questão é: liberta de quê? A libertação de Moçambique excluiu Quelimane? No quadro da autarcização, afinal Pio Matos não tinha sido eleito sucessivamente pelos munícipes de Quelimane? Pelo que se diz, sempre de forma estrondosa. Pessoalmente, nunca me interessou acompanhar de perto eleições autárquicas que ocorrem em outros municípios que não as da Matola e Maputo, lugares onde habito e tenho interesses. Mesmo as eleições dos municípios de Inhambane, minha província, nunca tiveram relevância para mim, a título pessoal. Mas se hoje se proclama a libertação de Quelimane sugere-se que esteve durante estes longos 36 anos sob dominação.
Será este o entendimento? Curiosamente, não oiço vozes discordantes sobre esta suposta libertação.
Existe um provérbio que diz que “quem cala consente”.
Será o caso?
Existe, no país, algum esforço para nos atirar para o retorno à tribo e ao localismo, sobretudo depois da descoberta dos recursos minerais e do multipartidarismo.
Não quer dizer que esteja contra os recursos minerais e o multipartidarismo, mas o discurso actual incide sobre os ganhos locais para comunidades onde foram descobertos os recursos e esquece-se o país como um todo. Até para o trabalho questionam-se os ganhos dos locais e não dos nacionais. Ou seja, o não local e o estrangeiro chegam a confundir-se nos actos eleitorais. As províncias, que muitas vezes coincidem com a tribo, constituem, hoje, o círculo eleitoral onde todos se acotovelam para chegarem à Assembleia da República. Portanto, isto exacerba o sentido de pertença que se circunscreve em “eu”.
Mas, no caso em apreço, também não consigo perceber por que, pelo que oiço, não tenho dados que me permitem afirmar, Pio Matos é natural da Zambézia e de Quelimane, em particular. Permitam-me exceder-me no raciocínio: será porque Pio Matos é mestiço e a vitória de Manuel de Araújo é de um cidadão preto? Também sou preto, não há aqui racismo da minha parte. Será por isso que se declara a libertação de Quelimane? Libertos do mulato, passando agora para as mãos do preto? Não estarão a ser racistas? Ou seja, a expressão libertação de Quelimane insere uma série de interrogações e inquietações.
Penso que os autores desta linha de pensamento deveriam explicar-se melhor.
Quelimane: FRELIMO muda e surda!
Existe um silêncio suspeito por parte dos membros da FRELIMO em Quelimane. Reagir a estas afirmações é uma questão de honra, salvo se assumirem que governavam sem o mandato dos munícipes de Quelimane. De contrário, é preciso que fique claro que, à semelhança dos outros espaços territoriais, Quelimane foi liberto em 1975. A proclamação foi feita pelo saudoso Primeiro Presidente de Moçambique independente, Samora Moisés Machel, na altura em nome do comité central da FRELIMO, a Frente que lutou durante 10 anos contra o colonialismo português.
Depois disso, a guerra dos dezasseis anos não chegou a tomar nenhuma cidade, embora tenha tido impacto na Zambézia, mas não tomou a capital provincial, pelo que, esclareçam: de que libertação de Quelimane estão falando!
PS: Morreu Lourenço Macul, presidente do município de Inhambane, a cidade mais limpa de Moçambique. Nunca privei com ele, mas admirava-o. Homem de trato simples e ciente das suas obrigações. No dia 1 de Dezembro apareceu débil, estava a recuperar de uma malária, na Casa do Capitão, local que acolheu a reunião nacional do INSS, para agradecer a escolha da cidade de Inhambane para acolher tão importante evento.
Descanse em paz, caro presidente.
CORREIO DA MANÃ – 19.12.2011