Linha d'água:
Por Luís Loforte
Encontro-me num resort à beira-mar, na cidade de Pemba, onde decorrem, ainda, obras de vulto com vista à sua ampliação e aprimoramento. Logo pela manhã, passo à ilharga de um desses locais de algazarra laboral a caminho das águas quentes de Nanhimbe. Chegam-me aos ouvidos linguajares swahilis, o que não deixava de ser estranho, uma vez que seria natural ouvir o macua, o kimwani ou o maconde, as línguas locais, ainda que o idioma de Nyerere e Kenyata faça parte da grelha da RM local, embora acredite que o tenha sido por razões políticas e até culturais.
Aproximo-me dos operários e verifico que todos, sem excepção, são jovens. Balbucio: habari zenu wandugu? Estou convencido de que sei alguma coisa de swahili e que a frase significa, em português, “como estão, irmãos?” Ainda que não fosse esse o significado, pelo menos acreditei que andasse por lá perto, a avaliar pela resposta uníssona, efusiva e de visível agrado, ao que traduzo “tudo bem, disponha!”: “habarini, karibu!”
Próximo dali, vislumbro um outro grupo de homens, estes pendurados em cocurutos de casas pré-fabricadas em construção e de muito bom nível. Os tanzanianos adivinham que lhes vá fazer a pergunta e antecipam a resposta: those are south african. De facto, mais tarde, no restaurante, ouvi-lhes falando em zulu e xoza. Mas porque o trabalho dos sulafricanos é mais complexo, e certamente decorrente de um contrato com uma empresa daquele país, decidi concentrar-me no que faziam os tanzanianos: simples trabalho de composição e assentamento de caixilharia de alumínio, para o qual a precisão da medição e a manipulação do vidro são fundamentais, coisa que bons alunos das escolas técnicas industriais, que sei existir uma em Pemba, saem a saber e prontos a trabalhar, desde que haja seriedade no seu enquadramento pós-formação.
Meio em inglês, meio em swahili, e às vezes, também, em tosco português, os moços falam-me das suas origens, na Tanzânia: Songeia, Zanzibar, Morogoro...
Enquanto falavam, fico a pensar no que escutara, semanas a fio, desde início de Janeiro, na nossa rádio de referência e em tempos de antena com a designação genérica de Balanço, obviamente do que se fez em 2011. Agora está-se nos municípios e não custa crer que tudo também será uma infinidade de encómios.
Todas as províncias, pela voz autorizada dos seus governadores, cumpriram as metas, ou perto disso.
Algumas até as superaram! Na Agricultura, na construção de estradas, na comercialização, nisto e naquilo, na... Educação. E para não ser exaustivo, com a Educação chego ao ponto crucial desta curta crónica.
Ou melhor, à pergunta simples e sincera: como pode uma província cumprir metas se não é capaz de exibir canalizadores, torneiros mecânicos, electricistas, operários especializados? E, para o caso de Cabo Delgado, como nos podemos regozijar com as brutais descobertas de petróleo e gás na bacia do Rovuma quando sabemos que a maior parte dos postos de trabalho não será ocupada pelas gentes desta província, mas sim por pessoas vindas do exterior?
Como? Como? E, para tornar ainda mais negro o quadro, vem-me um líder juvenil elencar os grandes objectivos de um ano de trabalho: comemorar, comemorar e comemorar! E o trabalho, o desenvolvimento social, as pessoas, meus caros amigos?
CORREIO DA MANHÃ – 31.01.2012