OS 50 ANOS da fundação da Frelimo, cujo programa comemorativo vai ser oficialmente lançado na sexta-feira em Maputo pelo Presidente do partido, Armando Guebuza, devem ser celebrados sob o signo da paz e consolidação da unidade nacional, segundo defenderam militantes ontem contactados pelo “Notícias”.
Os nossos entrevistados destacaram como marcos dos 50 anos da fundação da Frelimo a união dos três movimentos nacionalistas dando origem à Frente de Libertação de Moçambique, sob direcção do Presidente Eduardo Mondlane, a luta armada contra o colonialismo português, a realização dos congressos para a redefinição de estratégias, a proclamação da independência nacional, o processo de construção do Estado moçambicano, a reconstrução nacional, a restauração da paz, o combate a pobreza e os desafios do futuro.
Partido de grande prestígio – segundo Salvador Machava, secretário no comité da cidade de Maputo
A Frelimo é hoje um partido de grande prestígio no continente e no mundo. Os 50 anos da sua existência é sinónimo de grande crescimento do povo moçambicano, segundo afirmou Salvador Machava, secretário para a mobilização e propaganda no comité da cidade de Maputo.
“50 anos é uma vida. Significa a durabilidade dum partido, um grande crescimento dum povo. A Frelimo libertou o país, reconstruiu e está a desenvolver Moçambique. Temos a enorme responsabilidade de educar as novas gerações para que saibam que a Frelimo é um partido gigantesco e é do povo moçambicano”, disse.
Salvador Machava afirmou que durante estes anos, houve muitas transformações no seu seio.
“A independência foi proclamada pela Frelimo e todos nós vemos hoje grandes obras. Isso significa que o partido não parou. A Frelimo é um partido de grandes transformações, um partido que está a cumprir com as suas responsabilidades”, declarou.
Para este dirigente político, as pessoas que afirmam que existem duas alas da Frelimo desconhecem a sua génese.
“A Frelimo de 62 é a mesma de hoje. As pessoas passam, mas o partido permanece. Portanto, é falsa a afirmação de que a Frelimo de hoje não é a de 62. Os que assim defendem querem deturpar a história. Na Frelimo nunca existiu e nunca vai existir divisão. A linha definida pela Frelimo em 62 continua a mesma. É só ver que as grandes linhas de orientação saídas do Terceiro Congresso estão hoje a ser implementadas”, rematou.

António Nunes
Não pode existir duas alas da Frelimo - afirma Inácio António Nunes, fundador
É comum ouvir-se falar da existência de duas alas da Frelimo, nomeadamente a de ontem e a de hoje. Para Inácio António Nunes, membro fundador da Frente de Libertação de Moçambique, isso é inadmissível. Não pode haver e nem se deve, eventualmente, falar-se da existência da Frelimo de ontem nem de hoje. Ela é una, desde a sua fundação em 1962. No entanto, o que é preciso é resgatar a memória colectiva e refazer-se constantemente a história.
Aliás, sobre o esforço em curso de se reescrever a história da Frelimo a partir de depoimentos dos protagonistas da própria luta armada, Inácio Nunes reconhece que há, efectivamente, esse cometimento visando o resgate da verdade, mas é ainda preciso muito trabalho.
“É preciso muito trabalho para resgatar a memória das pessoas, para que se sintam libertas e fazer com que a história que está a ser reescrita seja verdadeira”, indicou.
Disse sentir-se muito satisfeito por constatar que o trabalho que realizou está a dar os seus frutos.
“Mas não nos devemos esquecer de que ainda há muita gente que está contra a Frelimo. Muita gente está com entusiasmo falso, mas, no fundo, está a fazer o seu trabalho. Nem todos nós descobrimos ainda que somos da Frelimo. Muitas vezes pensamos que arranjamos um bom quadro, mas que, no fundo, esse quadro está a fazer o seu trabalho. Nem tudo o que brilha é ouro”, afirmou, acrescentando que há muita coisa que deve ser esclarecida.
Muita gente está esquecida na “prateleira”, defendeu, para depois ajuntar que se houve tempos que esses quadros foram “usados”, porque então hoje não podem ser educados. “Muitos foram educados e recuperados e estão a trabalhar. Mas convido a essas pessoas esquecidas a virem celebrar connosco os 50 anos da fundação da Frelimo. Comemorar 50 anos é motivo de júbilo”, disse.
Refira-se que Inácio António Nunes está a escrever uma obra sobre a sua vida como guerrilheiro da Frelimo. Em 1959, Inácio Nunes e outros companheiros de então fundaram a União Nacional Africana de Moçambique Independente (UNAMI), marcado por ódio ao branco colonizador.

Isabel Trindade
Consolidar as conquistas - considera Isabel Trindade, militant
Isabel Trindade é militante e jovem empreendedora. Disse não conhecer com muita profundidade a história da Frelimo, mas do pouco que sabe pode destacar algumas etapas, ao longo dos 50 anos da sua existência. A primeira etapa refere-se à fundação da Frente de Libertação de Moçambique, com objectivos muito específicos.
Neste contexto, avultou a união dos três movimentos nacionalistas numa só frente de luta contra a dominação colonial portuguesa, nomeadamente a UDENAMO, UNAMO e MANU, sob a direcção de Eduardo Mondlane.
Na segunda etapa destacou a educação para a formação do homem novo, desenvolvida em paralelo com a luta de libertação nacional, ou seja nas zonas libertadas.
Um outro momento é a proclamação da independência nacional e, em 1977, a transformação da Frente de Libertação de Moçambique em partido político, dirigente da sociedade. A partir daqui, inicia uma nova etapa, ou seja é a Frelimo que assume a direcção do país, os destinos dos moçambicanos.
Para Isabel Trindade, a partir da altura em que a Frelimo conduz os destinos do país significa que ela é o povo. Há, portanto, uma combinação entre o pensamento e a visão sobre o país, que foi alterando conforme as dinâmicas que se viviam.
Apelou para que os jovens saibam consolidar as conquistas alcançadas, a importante das quais a unidade nacional. Assume que os moçambicanos são um povo uno, apesar das diferenças étnicas que o caracterizam.
Actualmente, a mensagem é a luta contra a pobreza e a necessidade de preservação da paz.

Inácio Fernando
Expressão do processo de construção da unidade nacional - aponta Inácio Fernando, militante
Militante e jovem gestor, Inácio Fernando considera que os 50 anos da fundação da Frelimo expressam o processo de construção e consolidação da unidade nacional. Simbolizam várias etapas da história do país, o culminar de um processo de resistências seculares do povo moçambicano contra o colonialismo português.
Disse que a unidade nacional de que tanto os moçambicanos se orgulham cimentou no seio da Frelimo e do povo em geral o alto sentido de pertença, factor que galvanizou a mobilização e organização interna do funcionamento das estruturas político-militares da Frente de Libertação de Moçambique.
“Ao longo destes 50 anos, temos conseguido manter uma reflexão sobre o significado das tribos ou grupos étnicos desde a luta de libertação nacional até aos nossos dias. No nosso percurso, passamos das zonas libertadas onde o nosso povo demonstrou saber definir prioridades comuns, valorizar as tradições e acatar a orientação da Frelimo”, disse.
Nesse processo, afirmou, o povo moçambicano foi consolidando o projecto de uma sociedade nova e de exercício do poder que, por sua vez, exigia mudanças de mentalidades e de vida, de aprendizagem de novos valores para a formação de uma sociedade não baseada no racismo, tribalismo, regionalismo ou outro tipo de preconceitos negativos.
Para Inácio Fernando, quer a unidade nacional, enquanto consciência de moçambicanidade, quer a educação são heranças de que as novas gerações se devem orgulhar, porque ao longo destes anos testemunhou-se o esforço do Governo na formação do homem.
“A Frelimo conseguiu, com sucesso, restaurar o direito à educação que era negado ao nosso povo. O acesso à educação fazia parte das razoes da revolta dos moçambicanos contra o colonialismo português. Hoje conseguimos fazer com que todas as crianças tenham acesso à escola e em alguns casos gratuitamente. Falo duma escola de formação do homem novo. Um ensino que permite a apropriação duma nova maneira de pensar e agir”, disse.
Afirmou que é com orgulho e satisfação que se verifica que a Frelimo, ao longo dos 50 anos, tem conseguido criar nos jovens uma personalidade moçambicana e sem subserviência. Hoje os jovens estão em contacto com o mundo exterior, assimilam criticamente as ideias e experiências doutros povos, transmitindo-lhes também as experiências da reflexão e prática internas.
“Temos desafios pela frente. A nossa geração deve prosseguir a luta, combatendo a pobreza e criando uma consciência de responsabilidade e solidariedade colectivas, livre do individualismo e da corrupção. Temos que nos engajar na consolidação dos valores que herdamos da Frelimo e permanentemente reforçar a necessidade de servir o povo”, defendeu.