Por Gito Katawala*
Ok, acho que devo alguma explicação, depois de ler a pergunta/constatação do EGM, tive que explicar para ele em privado que na minha opinião há uma explicação que tem como origem nas características e manifestações do eleitorado dessas duas cidades, Pemba e Cuamba. Nao sou um etnólogo, mas a minha origem bantu e a convivência com outros descendentes dos "maraves" leva-me a concluir que entre todos os "macuas" são muito cautelosos e não hesitam em acomodar-se mesmo sabendo que esta a ser usados ou ignorados. Entendam que isto não eh uma incitação a animosidades nem acusações pejorativas, mas eh uma constatação baseada nos anos de convivência. Não é mera coincidência que os colonos e administração portuguesa escolheu a dedo os poucos que se lhes outorgou a assimilação; não é mera coincidência que nunca tiveram um representante nos primeiros movimentos de libertação; não é mera coincidência que nunca houve um "high profile individual" na nomenklatura Moçambicana. A bondade deles é o preço que pagam por todas essas humilhações, sempre regateiam o seu bem estar a troco de um não me chateies.
Um bloguista Português Alberto Viegas, Licenciado em Filologia Românica (Universidade do Porto, 1978), Mestre em Administração Escolar pela Universidade do Minho (1992). Investigador. Doutor em Educação pela UCP (2009). Professor Convidado da Universidade Católica Portuguesa, escreve no seu blogue uma certa passagem que passo a transcrever: " Para a tribo Macua, o sorriso é um sinal de amizade e de que se pode criar uma boa relação. Quando chega alguém que não conhecem, sorriem-lhe na mesma. Deste modo, ele saberá que não tem nada a temer." Agora entendem porque os Senas e Ndaus não se deram bem com essa de se mostrar os dentes nem? Eles põe as cartas na mesa e dizem logo, essa historia de andar a mostrar os dentes eh o que esta a minar a nossa confiança, dai resulta a relação quase antagónica entre estes e os Machanganas. Os meu pais são Nyanjas, bom a minha a mãe até que tem origem Chopi, mas o meu pai é Nyanja, notei também que essa característica de regatear o bem estar com sorriso também se aplica aos Nyanjas, com única distinção de os Nyanjas serem um pouco mais leiloistas.
A Cidade de Pemba, apesar de muitos assumirem que é predominantemente Mwani (or Kimwani), tem a particularidade de ter uma maioria Macua, as elites locais são as tais que tem um berço nos tais assimilados seleccionados a dedo no tempo colonial, por coincidência tem uma compleição epidérmica diferente da dos da maioria, mas em todo caso na perspectiva do patrão caucasiano, era tudo negroide, anyway, os Macuas da baia de Pemba em regra também são sorridentes, e voltando ao bloguista, diz ele que " Os macuas recorrem também ao sorriso para apagar as ofensas. O ofendido, por sua vez, espera que aquele que o ofendeu lhe retribua outro sorriso para demonstrar que não queria ferir-lhe o coração. Basta um sorriso e acontecerá a reconciliação." - como podeis notar, de 5 em 5 anos as ofensas são proferidas em forma de promessas, manifestos eleitorais, mas os Macuas querem sempre perdoar e reconciliar.
Outra característica generalizada dos Macuas é a humildade e respeito, na nossa gíria fazíamos sempre pouco dos que estava dispostos a dar salamalecos a torto e direito. Mas eh assim mesmo, não se lhe pode tirar essa particularidade, Macua prefere vergar, ou seja cumprimentar com vénia ou continência, por mais que se lhe note o exagero, coisa que outro bantu nao vende assim com tanta facilidade. Yao or Maconde, por mais que ele saiba que não sabe nada, nunca vão vergar, prefere virar as costas e ir nutrir a ignorância dele, mas não te preocupes, ele não te detesta, esta a fazer-se de difícil. O Macua foi sempre tão cumpridor e como disse antes sorridente, o António Viegas também diz que " durante o período colonial, este costume deu origem a muitas incompreensões. Ao patrão enfurecido que o insultava e lhe batia, o macua sorria, querendo dizer-lhe: «Desculpe, não queria ofendê-lo». Mas o patrão, ignorando o significado desta atitude, tratava-o ainda com mais violência, pois pensava que estava a burlar-se dele.
Caríssimos, ai esta a minha explicação de porque o MDM não conseguiu ter a mesma mobilização que teve em Quelimane. Mas claro, não nos esqueçamos também na capacidade ideológica da Freli e a logística, foi também em Cuamba que vimos as atropelações mais flagrantes desde o uso de meios do Estado/Governo a favor de um só lado. E houve o caso das listas e prisões de Deputados da AP. As declarações racistas e tribalistas do candidato vencedor. Mas foi uma lição bem dada. Agora só nos resta prepararmo-nos para as gerais e presidenciais de 2014.
Povo no Poder!
A Luta Continua!
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