Detido há 21 dias nas “celas” da Renamo
O Partido Renamo transformou definitivamente a sua sede politica, ao nível da cidade de Nampula, em “quartel militar” e “local para encarcerar” indivíduos que considera opositores dos seus planos belicistas.
Entrevistados nossos afirmam ter testemunhado cenas de espancamento a cidadãos indefesos, acrescentando e alguns chegam a ser arrastados de forma violenta para dentro das instalações daquele partido por homens armados e com fardamento de cor verde.
O facto foi constatado também por alguns moradores circunvizinhos e confirmado, esta terça-feira, por Inácio Dina, chefe de Relações Públicas no Comando provincial da Polícia, em conferência de imprensa.
Dina confirmou ainda a detenção, no passado dia 8 de Fevereiro, de um cidadão identificado pelo nome de Emane Puantua, de 46 anos de idade, residente no quarteirão 5, unidade Comunal 24 de Julho, bairro municipal de Carrurpeia, arredores da cidade de Nampula.
Pantua foi submetido ao cativeiro no passado dia 5 de Fevereiro, por sinal na mesma data em que foram espancados dois jornalistas de uma televisão pública, nomeadamente Vicente Martins e Horácio Hermínio, quando pretendiam efectuar uma reportagem no local onde estão acomodados os desmobilizados daquele ex movimento armado.
De acordo com informações fornecidas pela polícia e confirmadas pela própria família, o cidadão foi encontrado a escassos metros do “quartel” com cartões da Frelimo e dos Desmobilizados das Forças Armadas de Moçambique.
Há cidadãos que são impedidos de circular normalmente na rodovia. Temos ainda informações de cidadãos que têm sido mantidos em cativeiro na sede daquele partido, onde, há sensivelmente dois meses, está concentrado um grupo que se supõe sejam ex-guerrilheiros da Renamo. Disse Dina, que reconhece a prevalência de um clima de intranquilidade pública na zona.
O porta-voz da Polícia negou, no entanto, que a sua corporação tenha perdido o controlo operativo no perímetro do posto administrativo de Muatala, onde todos os dias se regista a movimentação de homens armados daquela que é considerado de maior força política no país. Referiu, a propósito, que a sua instituição está redobrar as acções de patrulhamento na zona, através do reforço dos efectivos da Força de Intervenção Rápida (FIR) e do Grupo Operativo Especial (GOE).
A acção surgiu da necessidade premente de pôr cobro as injúrias e arremesso de pedras e outros objectos contundentes de que os nossos elementos de patrulha eram vítimas naquela rua, numa manifesta tentativa de os impedir a exercer o seu trabalho. Explicou Dina, acrescentando que, neste momento, está em curso uma “ reflexão conjuntural” por forma a equacionarem-se formas pacíficas de retirar do local os militares da “perdiz” que, por norma, deveriam posicionar-se na residência oficial do seu líder. A referida acção poderá, segundo Dina, permitir a libertação do cativeiro em que se encontra Emane Puantua, cuja filha, Arrira Emane, de 20 anos de idade e estudante da 12ª classe, viu-se forçada a vender o seu telemóvel para assistir o seu agregado familiar composto de sete pessoas.
O porta-voz da PRM refere que o diálogo com a direcção da Renamo propiciaria o restabelecimento da ordem e tranquilidade públicas no posto administrativo de Muatala e na cidade de Nampula, em geral.
WAMPHULAFAX – 29.02.2012
NOTA:
Tudo isto não é mais que o reconhecimento de que existem dois exércitos em Moçambique, nenhum do Estado, mas ambos de partidos “camuflados” de políticos.
Uma curiosidade: Foi na Rua dos Sem Medo que, nos anos 40, aprendi a andar de bicicleta e onde dei o meu primeiro trambolhão.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE