Comentário De Refinaldo Chilengue
Este ano tive o privilégio de participar, pela segunda vez consecutiva, no Festival de Canhu na região sul-africana de KwaNgwanase, em KwaZulu-Natal.
Trata-se de um festival que reúne maioritariamente todos os (descendentes dos) súbditos daquilo que foi o Reino Tembe, antes da chegada dos colonos em Moçambique, que resultou na sua dispersão por diversas regiões do sub-continente africano, muitos deles hoje estabelecidos em KwaZulu-Natal, Suazilândia e Botsusana.
A participação de moçambicanos tem registado um crescendo de ano para ano. Em 2011 o Governo esteve representado pela Governadora da província do Maputo e este ano por uma funcionária do Ministério do Turismo.
Membros destacados da família Tchembene, a que o actual Presidente da República de Moçambique, Armando Emílio Guebuza, pertence não têm faltado a estas festas.
Grupos culturais moçambicanos tomam igualmente parte na festa. Este ano evoluiu nos palcos em representação de Moçambique Alexandre Mazuze e as suas habilidosas bailarinas.
Este ano os moçambicanos participaram no auge do festival de canhu ou umthayi festival no sábado em KwaNgwanase e, no dia seguinte, domingo, foram divertir-se na Ponta do Ouro, com o régulo Xavier Tembe a presidir a festa.
Mas não é das festas que pretendo aqui falar, porque elas, tanto do lado de lá como do lado de cá, decorreram às mil maravilhas, salvo pequenos “entretantos” próprios de eventos que movimentam milhares de pessoas, como o são estes.
O que mais me impressionou é o trato que as autoridades sul-africanas reservam ao seu povo.
Aparentemente, pode haver quem considere mesquinhice minha, mas no meu modesto entender é revelador de uma diferença expressa: chovia copiosamente ao princípio da noite, altura em que o umthayi festival é transferido do campo de festas para a residência oficial do Rei Tembe, um jovem de 34 anos de idade.
Tanto em 2011 como neste ano havia gigantescas tendas que obviamente nem todos os participantes nelas podem caber.
Se em 2011 fazia calor e não chovia, este ano aquecia e chovia e “todo o mundo” buscava abrigo, e as tendas foram o recurso de quase todos, salvo os que se abrigaram nas viaturas.
Chegada a hora do jantar de gala – com a participação do Rei e seus mais próximos –, as tendas estavam apinhadas. Num aparente à vontade, um elemento do protocolo pegou no microfone e apelou a “todos os não convidados de honra” a se retirarem da tenda principal. Apesar de continuar a chover as pessoas ordeiramente retiraram-se, sem necessidade de recurso à violência.
De resto os agentes da Polícia que vi a assegurarem a ordem no festival não portavam bastões nem espingardas de assalto, mas sim pistolas. Não se “metem” com os convivas, simplesmente acompanham o evoluir dos acontecimentos.
Pensei cá para com os meus botões: como seria na minha terra, onde por tudo e por nada temos agentes policiais que recorrem à brutalidade para lidar com o “maravilhoso povo”?
CORREIO DA MANHÃ – 21.02.2012