Mueda
O distrito de Mueda, província de Cabo Delgado, recebeu ligação à rede eléctrica moçambicana há quase um ano, mas a população diz, agora, que não consegue suportar os custos das facturas de energia, exigindo sistemas de cobrança pré-pagos.
Enquanto mostra uma factura superior a 12 mil meticais, Samuel Martins, proprietário de um negócio informal na sede distrital de Mueda, mostra-se preocupado com o valor das contas de electricidade que tem recebido.
“Todos agradecemos quando vimos que tínhamos energia aqui na vila, mas as pessoas estão a ter dificuldades para ligar, porque custa muito dinheiro. Pagávamos 500 meticais agora as facturas chegam até aos 10 mil”, garante à Lusa Samuel Martins.
Em Março do ano passado, o histórico distrito de Mueda, localizado no extremo norte moçambicano, onde em 1964 foi dado o primeiro tiro contra o colonialismo português, recebeu ligação à energia produzida na Hidroeléctrica de Cahora Bassa.
“Falta um esclarecimento exacto quanto à contratação da corrente eléctrica. O preço de puxar a electricidade para as casas não está bem esclarecido. Uns pagam 800 meticais outros pagam 4.000”, explica à Lusa Luís Ussene, funcionário de um posto de combustível.
A chegada da eletricidade ao distrito permitiu diminuir problemas de acesso a água, que pautam o quotidiano da maioria da população local, no entanto, a região continua praticamente às escuras.
“Como a zona tem problemas de água, com a chegada da energia conseguimos puxar a água das barragens para o planalto, esse é um dos pontos mais importantes”, conta Mobiro Namipa, presidente do município de Mueda.
“Em algumas casas não ligamos a energia à noite, a vila não fica iluminada, porque as pessoas têm medo de pagar valores altos”, diz Samuel Martins, afirmando que este facto vai ter repercussões no desenvolvimento local.
Para Mobiro Namipa, a solução para pôr fim às “surpresas” que os munícipes encontram nas contas de energia mensais é a introdução de um sistema de pré-pagamento, chamado ‘credelec’ em Moçambique.
“Estamos a pedir, para não termos problemas de cobranças, que exista o ‘credelec’. As pessoas devem comprar a energia e utilizá-la da maneira que quiserem para não haver problemas de as pessoas que a utilizam serem cobradas a mais ou menos”.
“Gostaríamos de ter ‘credelec’ para as pessoas controlarem sozinhas a sua energia (consumos), porque ninguém consegue pagar sozinho 10 mil meticais. É muito dinheiro. Quem recebe 10 mil é um doutor. Mais vale usar velas”, ironiza Samuel Martins.
No distrito de Mueda, que faz fronteira com a Tanzania, vivem mais de 100 mil pessoas, de acordo com os censos de 2007. Esta é uma das regiões mais remotas e pobres de Moçambique, onde se estima que a maioria da população sobreviva com menos de um dólar por dia.
DIÁRIO DE MOÇAMBIQUE – 20.02.2012