O PRESIDENTE do Zimbabwe, Robert Mugabe, ameaçou segunda-feira rejeitar o seu homólogo sul-africano, Jacob Zuma, como mediador do processo de transição política do país.
Mugabe e os sectores mais radicais da União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Patriótica (ZANU-PF) estão descontentes com o mediador nomeado pela Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) porque Zuma e a sua equipa de mediação criticou a lentidão do processo de transição zimbabweano, alegadamente provocada pela intransigência de Mugabe à aplicação das reformas que fazem parte do processo, designadamente a aprovação de uma nova lei fundamental.
Nas eleições gerais de 2008, a ZANU-PF perdeu a maioria parlamentar, pela primeira vez desde a independência. Na segunda volta das presidenciais, o candidato do Movimento para a Mudança Democrática (MDC, oposição), Morgan Tsvangirai, retirou a candidatura em protesto contra a violência.Em entrevista, segunda-feira concedida à rádio pública zimbabweana na véspera do 88.º aniversário, Mugabe reiterou a determinação em convocar eleições este ano e, se necessário, rejeitar o mediador.
“Nós podemos rejeitar Zuma em plena luz do dia. Já lhe transmitimos isso mesmo. Não somos forçados a aceitá-lo, mas também não pretendemos lutar entre nós”, disse o Presidente, no poder desde 1980, que também atacou verbalmente Lindiwe Zulu, uma das assessoras de Jacob Zuma na equipa de mediação.
“Essa mulher Lindiwe Zulu pensa que o mediador é a África do Sul. Não é a África do Sul, é o presidente Zuma e só ele”, referiu Mugabe.
O Presidente zimbabweano ficou seriamente preocupado com um projecto constitucional, posto a circular entre os membros do parlamento e que teria sido aprovado por consenso, no qual os mandatos presidenciais seriam limitados a 10 anos, o que impediria Mugabe de se candidatar nas próximas eleições.
Lindiwe Zulu disse recentemente haver uma crescente preocupação entre os negociadores e os mediadores relativamente à idade do presidente e “homem forte” da ZANU-PF e a inexistência de um sucessor nomeado pelo partido, explicando que “a morte de Mugabe podia arrastar o Zimbabwe para o caos”.
Robert Mugabe celebrou ontem 88 anos e a polémica sobre os custos para os cofres do Estado das celebrações voltaram a estar na ordem do dia.