África do Sul
O número de rinocerontes abatidos por caçadores furtivos na África do Sul desde o início de 2012 totaliza já 135, a maioria dos quais(75) no perímetro do Parque Nacional Kruger, informaram quarta-feira as autoridades. Preocupados com um número tão elevado de abates ilegais daquela espécie, os responsáveis dos parques naturais, públicos e privados, do Governo e das agências policiais envolvidas no combate ao tráfico de cornos de rinocerontes manifestam, no entanto, alguma satisfação pelo aumento de detenções e condenações, bem como pelas pesadas sentenças impostas a caçadores ilegais e traficantes, nos processos mais recentes.
Segundo números do Ministério do Ambiente, 89 suspeitos foram detidos nas primeiras 11 semanas deste ano, o que constitui um número significativamente maior do que as detenções efectuadas em anos anteriores. Vários grupos organizados que caçavam rinocerontes e contrabandeavam para a Ásia os seus cornos foram igualmente desmantelados desde Janeiro, refere o ministério.
Um sinal de que as pesadas sentenças passadas pelos tribunais aos responsáveis pela caça ilegal de rinocerontes começam a ter um efeito dissuasor foi o suicídio, na noite de segunda-feira passada, de um capataz de uma fazenda onde se criam aqueles e outros animais selvagens e que era suspeito de colaboração com caçadores furtivos.
Segundo a polícia sul-africana, o suspeito, de 40 anos de idade, foi encontrado sem vida no quarto que ocupava na fazenda, com um tiro na cabeça, aparentemente disparado com a arma de caça que lhe havia sido atribuída e que estava caída perto do corpo.
As autoridades dirigiram-se ao local com a intenção de questionar o homem sobre um rinoceronte que tinha sido descoberto morto na fazenda na passada sexta-feira, disse o coronel Vishnu Naidoo, do comando provincial do Limpopo, onde se verificou a ocorrência. As autoridades suspeitavam de cumplicidade entre o capataz e grupos de caçadores furtivos, tendo pistas que incriminavam o suspeito.
Ao animal tinha sido serrado o corno, o que é “prova evidente” de actividade criminosa, salientou o porta-voz.
A fazenda onde o homem se suicidou situa-se em Dwaalboom, na zona de Thabazimbi, província do Limpopo no norte da África do Sul.
Em 2011 foram abatidos em toda a África do Sul 449 rinocerontes, um número que constitui um recorde absoluto e que leva alguns ambientalistas a temerem uma provável extinção da espécie a curto prazo.
Karen Tendler, uma activista que há mais de duas décadas trabalha no salvamento e reabilitação de rinocerontes numa quinta nos arredores da capital, Pretória, afirmou que se a matança daqueles animais continuar ao ritmo actual, os parques naturais da África do Sul poderão deixar de ter rinocerontes em 2015.
Tendler, que foi responsável pelo salvamento e reabilitação de cerca de 200 rinocerontes órfãos ao longo dos últimos 20 anos, alertou para as profundas implicações da actividade dos caçadores furtivos, que aproveitam o elevado preço pago nos mercados asiáticos pelos cornos de rinocerontes.
“Muitas vezes quando matam animais adultos condenam também à morte as suas crias, incapazes de sobreviver sem as mães”, salientou a ambientalista.
Karen Tendler referiu que a corrupção entre funcionários dos diversos departamentos estatais e fazendas privadas onde são criados rinocerontes, bem como a utilização de sofisticados equipamentos, como GPS, telefones móveis e helicópteros, pelos caçadores furtivos, contribuem de forma significativa para a presente situação de crise no mundo da conservação das espécies.
DIÁRIO DE MOÇAMBIQUE – 23.03.2012