O ESTADO como monopólio do poder deve usar os meios ao seu dispor para acabar, de uma vez por todas, com os desmandos protagonizados pelos homens da Renamo. Esta é a opinião expressa ontem ao “Notícias” por jornalistas da praça, a-propósito do clima de tensão que os ex-guerrilheiros da “perdiz” estão a semear na cidade de Nampula.
Os entrevistados responsabilizaram a Renamo, sobretudo o seu líder, Afonso Dhlakama, pela situação que se está a viver naquele ponto do país e apelaram para a libertação imediata do cidadão Emane Buantao. Afirmaram, porém, que o diálogo foi e continua a ser a via sensata, tanto para o alcance da paz como para uma convivência harmoniosa num Estado de Direito Democrático.
O jornalista Paul Fauvet, da Agência de Informação de Moçambique (AIM) foi o mais contundente ao comentar os desmandos que estão a ser protagonizados pelos ex-guerrilheiros da “perdiz” na cidade de Nampula. Segundo afirmou, a Procuradoria-Geral da República deve ordenar imediatamente a prisão de Afonso Dhlakama pelo crime de cárcere privado.
Na opinião de Fauvet, a detenção ilegal do cidadão Emane Buantao foi ordenada pelo líder da Renamo. “Até prova em contrário, a responsabilidade é de Dhlakama. Ninguém está acima da lei. A lei deve ser aplicada”, disse, acrescentando que percebe que a Polícia está a ser cautelosa em entrar em acção junto da sede da “perdiz” por temer o derramamento de sangue.
Segundo aquele jornalista, os moçambicanos não podem continuar a pactuar para sempre com os desmandos da Renamo só porque é um dos signatários dos Acordos de Roma. Para Paul Fauvet, Afonso Dhlakama está a agir como se fosse uma autoridade legal no país, o que é inadmissível.
“Ele é um cidadão, um dirigente partidário como qualquer e não tem autoridade para prender pessoas”, afirmou.
Uma barbaridade - Ezequiel Mavota
Para o jornalista Ezequiel Mavota, da Rádio Moçambique, o que está a acontecer em Nampula é uma barbaridade, na medida em que a Renamo está a fazer uma demonstração da força.
“Não faz sentido que volvidos 20 anos da paz tenhamos exércitos que não sejam da soberania do Estado. Para a segurança dos cidadãos, há que se encontrar uma solução. O diálogo é sempre importante para evitar banho de sangue”, disse.
Ezequiel Mavota afirmou que a Renamo tem que ser responsabilizada pela situação e deve, imediatamente, libertar o cidadão Emane Buantao, a quem acusa de espionagem a favor da Frelimo.
Acrescentou que se a “perdiz” é defensora da paz e da democracia, então não deve impedir a livre circulação de pessoas pela Rua dos Sem Medo, na cidade de Nampula. É inaceitável que os seus homens circulem armados e fardados em plena cidade, intimidando pacatos cidadãos.
Caso delicado - Alexandre Chiure
Trata-se de um caso delicado, segundo o jornalista Alexandre Chiure, do “Diário de Moçambique”. Disse que quando aparecem homens da Renamo armados em plena cidade 20 anos depois do fim da guerra é motivo de preocupação, não só para os citadinos de Nampula mas para todos os moçambicanos do Rovuma ao Maputo.
“Eu encaro a situação como sendo parte do que Dhlakama sempre quis: as manifestações. Por via de mobilização, ele não conseguiu. Agora é uma inovada de perseguir os seus objectivos”, disse.
Alexandre Chiure afirmou que a Renamo está a tentar forçar a Polícia ao uso da força, o que poderia ser visto como motivo suficiente para desencadear confusão. Para não cair na armadilha, disse, a Polícia não deve agir de qualquer maneira, sob o risco de se concretizar o que o líder da “perdiz” sempre apregoou nos seus discursos: incendiar o país.
Pela frequência e o modo como os desmandos estão a ocorrer, segundo aquele jornalista, pode-se concluir, sem sombra de dúvida, que a Renamo está a trabalhar com alguma assessoria externa, num esforço inusitado de transportar os acontecimentos no Norte de África para Moçambique.
“Mas eles devem estar cientes de que não se pode fazer o “copy paste” do que aconteceu no Norte de África para aqui. Ora vejamos: como é que eles (os ex-guerrilheiros da Renamo) conseguem sobreviver na sede, numa situação em que a Renamo não tem dinheiro para lhes prestar assistência? Só se explica, porque alguém está a financiar a sua sobrevivência na sede”, observou.
Alexandre Chiure afirmou que os moçambicanos devem estar preparados para uma acção futura das potências capitalistas, com a descoberta de vários recursos, como é o petróleo.
“Penso que os que estão a investir em Nampula já estão amedrontados com a situação”, disse, sugerindo que o Governo moçambicano encontre uma forma de dialogar com a liderança da Renamo para o desarme dos seus homens.
Não menosprezar o assunto - Irene Jamisse
O assunto não deve ser menosprezado, porque mexe com a segurança dos cidadãos, segundo defendeu a jornalista Irene Jamisse, da Televisão de Moçambique (TVM). Para ela, a questão de fundo é saber os contornos do problema e solucioná-lo de uma vez por todas.
“A Renamo deve ter muitos homens armados. Sempre ameaçou incendiar o país ou realizar manifestações. Ora, é uma situação desagradável e até inadmissível, numa altura em que estamos a caminho de celebrar 20 anos de paz. A própria Renamo deve se lembrar de que a paz que desfrutamos foi duramente conquistada, daí a necessidade de preservá-la, num esforço de todos nós. Penso que alguém tem que fazer alguma coisa para pôr cobro a esta situação. O cidadão que está encarcerado desde Fevereiro em que condições está a viver? E a sua família em que estado de espírito está”, disse.
Para a solução do problema, Irene Jamisse defende o não recurso à força, porque a situação pode descambar em violência incomportável. Disse que tal como o diálogo foi a principal via para a paz no país, todo o esforço deve ser desencadeado para que tudo termine em paz.
Apelou às liderança da “perdiz” para que sensibilize os seus homens para que não andem armados em plena cidade ou tentar impedir a livre circulação de pessoas, pois constitui uma autêntica afronta à ordem estabelecida.