NÃO sou indiferente aos que buscam o bem para outros pelo espírito crítico insistente e não pela arrogância e hipocrisia política, muito mais quando todos os dias muitos comentários chamam-me atenção, ao confirmarem ainda algo já muito debatido e que inquieta a tantos, numa cidade como Nampula.
Vem isto a-propósito da contínua colocação de cancelas humanas nos passeios de fora do palácio do governador provincial de Nampula, como forma de se proibir que os peões não passem neles, constituindo assim um sério risco para a sua vida, já que a medida faz com que eles disputem o espaço com os carros na estrada.
Abordo de novo este assunto neste espaço, por ser a minha percepção de que, da forma como o assunto continua a ser comentado pelos citadinos, reflecte o aumento da pressão da opinião pública nampulense sobre a necessidade de se removerem dos passeios aquelas cancelas. De que quem de direito tenha consciência que não tem que ser assim, será tarde demais para chorar sobre o sangue derramado quando muitas pessoas que por ali passam forem atropeladas, pois que estão sempre expostas à morte.
Até alguns têm mesmo referido que esta medida é um grande ultraje à dignidade das pessoas e ao próprio Estado de Direito, que o governador Felismino Tocoli já deveria ter a humildade e ponderação de reconhecer que ela não colhe argumento para a sua existência, porque periga a vida de muita gente daí que devia mandar retirar as cancelas.
Se a prevenção e combate aos acidentes de viação no nosso país é um objectivo não só legitimo como louvável do nosso governo, porque não será, então, uma boa decisão retirar aquelas cancelas? Pessoas, incluindo crianças que o saudoso Presidente Samora Machel chamou de flores que nunca murcham, que frequentemente disputam perigosamente o espaço com viaturas naquele local, questionam a quem de direito se será que é muito difícil perceber isso?
Todavia, a minha inspiração em escrever esta crónica sobre a colocação de cancelas humanas na residência oficial do governador de Nampula, é que, conforme está dito, neste momento não há ninguém que não se tenha interrogado sobre a não remoção daquelas cancelas, melhor dizendo, não é raro ouvir-se da boca dos munícipes algo sobre a manutenção das cancelas que, pelo seu sentido, não deixa de transtorná-los.
A prevalência de cancelas humanas no exterior do referido palácio conduz-nos à consciência de que o nosso governador mais do que simplesmente garantir a sua protecção, deveria estar interessado, como dirigente, em garantir como é sua obrigação, a segurança dos cidadãos, tanto é que, a dele, neste caso, não nos parece estar em perigo. Se é assim, então não façamos discursos de bom senso, como governantes, que não se adequam à realidade, do ponto de vista de segurança rodoviária.
É nossa modesta percepção, que num momento como este, em que muitas vidas humanas se perdem nas nossas estradas, não se pode tomar uma medida como esta, que pode contribuir para aumentar essas mortes. Há dias, terá sido a perícia de um motorista que evitou o atropelamento de três crianças que na altura disputavam o espaço da estrada com a sua viatura no local. Foi sentimental e sobretudo chocante, ver as crianças a correrem dum lado para outro. É que o lado onde deveriam se dirigir fugindo do perigo que lhes aproximava, é onde é proibido passar.
E porque sempre gostamos de chorar tarde sobre o sangue derramado, estou em crer que se as crianças fossem atropeladas ou acontecesse a tragédia, as cancelas humanas colocadas desnecessariamente nos passeios da parte de fora do palácio do governador provincial de Nampula haviam de ser removidas. Será que é isso que se espera para se retirarem as cancelas humanas naqueles passeios? Julgo que é uma medida que tem de ser repensada, por parte do governador, se quer evitar que um dia aconteça uma tragédia, tanto é que a cidade de Nampula está a registar o aumento do parque automóvel.
- Mouzinho de Albuquerque